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- 277 - Episode 246: A Sale in the Local Market
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E aqui está a transcrição do monólogo para seu proveito.
Assim como muitas pessoas do interior, minha amiga Raquel é uma universitária que se mudou de sua cidade no interior para estudar na capital. Como a maior parte dos estudantes, a grana para ela está sempre curta. Ela procura pechinchar quando vai às compras, faz pesquisa de preços e roda a cidade à caça de promoções.
Outro dia, estava ela voltando a pé para casa e descobriu uma liquidação no supermercado. Ela logo entrou e viu que a loja ia fechar as portas e estava fazendo um saldão, vendendo tudo a preço de banana para esvaziar o estoque.
Os olhos de Raquel brilharam com tanto preço baixo. Ela entrou em ação e foi pegando o que precisava, e o que não precisava também só por via das dúvidas.
Tinha uma seção com abatimentos generosos no preço de tabela, com produtos mais perto do vencimento, coisas para consumo imediato. Raquel fez a festa. Encheu o carrinho e estava feliz da vida fazendo as contas da economia que ia fazer.
Quando ela chegou no caixa, ficou de olho na máquina registradora, acompanhando o valor final da compra a cada produto que a moça passava no leitor do código de barras.
Nossa amiga foi ensacando tudo e, diante daquele monte de sacolas, lembrou que estava a pé e ainda tinha chão para chegar em casa. Ela não ia conseguir terminar o percurso caminhando com aquele peso todo e precisou chamar um carro de aplicativo.
No fim das contas, a economia feita nas compras acabou sendo gasta no transporte até a casa. Quando ela colocou tudo na ponta do lápis, viu que o valor ficou elas por elas, como se tivesse comprado tudo do lado de casa.
Mas os dias de universidade de Raquel estão chegando ao fim e, espera-se, seus dias de pobretona lisa. Entretanto, ela ganhou alguns bons hábitos.
Hoje ela anota de antemão as compras que vai fazer, lista cada item, e não compra algo no calor do momento só porque vê uma placa com os dizeres “promoção”. Assim, a economia é bem mais efetiva e Raquel se dá ao luxo de comprar um agradinho para si mesma no fim do mês.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 09 May 2024 - 42min - 276 - Cultural Portuguese 006: Telephoning in Brazil
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Esse é o resumo dos assuntos tratados no episódio na ordem em que aparecem.
Os orelhões funcionavam com fichas ou cartões telefônicos. Havia também a opção de fazer ligações a cobrar, comum na época. O narrador relembra um trote feito para uma pessoa desconhecida, resultando em ameaças. No Brasil, as ligações interurbanas eram mais caras e consumiam créditos rapidamente. A introdução do sistema DDD facilitou as ligações nacionais e internacionais. Atualmente, os brasileiros preferem usar aplicativos de mensagem instantânea, como o WhatsApp. A comunicação por aplicativos exige respostas rápidas, sendo comum o envio de mensagens de áudio. O telemarketing e as ligações indesejadas são frequentes no Brasil, gerando irritação nos receptores. O trabalho em call centers é mal remunerado e muitas vezes visto de forma negativa.E esse é o principal vocabulário tratado no episódio.
Ficha: semelhante a uma moeda, usada para fazer ligações em orelhões. Cartão telefônico: cartão com créditos para fazer ligações em orelhões. Ligação a cobrar: tipo de ligação em que a pessoa que recebe a chamada paga. Discar: ação de escolher um número para ligar em telefones antigos. Ligação interurbana: ligação feita para outra cidade ou estado. Discagem direta à distância (DDD): sistema para fazer ligações de longa distância. Call center: central de atendimento telefônico. Telemarketing: prática de vender produtos ou serviços por telefone. Spam: mensagens indesejadas, seja por e-mail ou telefone. Aplicativo de mensagem instantânea: programa para troca de mensagens em tempo real, como WhatsApp. Inbox/DM: mensagens diretas em redes sociais, como Instagram. Deixar no vácuo: termo informal para quando alguém não responde ou deixa uma pessoa esperando. --- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageSun, 05 May 2024 - 24min - 275 - Episode 245: Drinking and Problems
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And here is the monologue for your benefit:
Bom, hoje vou contar pra vocês um drama quase pessoal. E por quê? É algo que tem acontecido muito no meu círculo mais próximo (e se bobear, no de vocês também). Vamos falar da pandemia de bebedeira que se instalou no mundo (“no mundo” são dados da minha cabeça).
Aqui no Brasil, a maior parte das pessoas tem na família um parente bebum. Aquela pessoa que não sabe a hora de parar de beber e passa dos limites. O famoso pudim de cachaça. Essa pessoa costuma ser muito chata quando está alcoolizada, sem noção nos comentários, e a geral evita convidá-la para as festas de família. Quando não tem jeito, encarecidamente pedimos que ela se controle, que não beba tanto e tal. Mas é incrível, basta uma dose de álcool, e a pessoa fica ébria automaticamente.
Fora o inconveniente social, tem ainda a questão de saúde. Eu mesmo tenho um tio que foi dessa para a melhor por conta de tanta bebida. Foi triste, mas é um fato. Muitas mortes ocorrem por doenças causadas pelo consumo abusivo e prolongado de bebidas alcoólicas, como a cirrose, que destrói o fígado. O pior é quando acontece a morte de uma pessoa que não tem nada a ver com a história, como um atropelamento, por exemplo, já que tem alguns motoristas irresponsáveis que enchem a cara e vão dirigir (dá pra acreditar?). Daí vem a campanha “se beber, não dirija”, com objetivo de reduzir esse tipo de acidente.
Quando a pessoa se conscientiza de que a falta de controle na ingestão de álcool atravanca a sua vida, ela procura um grupo de apoio. Às vezes recorrem ao Alcoólicos Anônimos, para conseguir esquivar-se de situações em que normalmente bebiam.
Ah, mas beber socialmente não tem problema, alguém diz. Não, não tem problema nenhum. Mas, o que é beber socialmente? Eu mesmo tenho um amigo beberrão que, sempre que encontra um amigo, tomar todas.
E desde 2020, quando tivemos que ficar em casa, ouço relatos de amigas que bebem uma taça de vinho todos os dias para aliviar o estresse. A rainha Elizabeth II era um exemplo desse consumo diário, com seus drinks preferidos no almoço, antes do jantar, e viveu até os 96 anos. Até onde se sabe, ela nunca ficou de pileque.
Bom, a linha entre o beber socialmente e o vício é muito tênue. Eu mesmo, por exemplo, bebo todos os dias — não pulo um — mas não sou viciado. Posso parar quando quiser.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 02 May 2024 - 45min - 274 - Cultural Portuguese 005: Quadrinhos
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Termos principais definidos pelo narrador:
1. Cartunista: Desenhista de cartoon ou desenhista de quadrinhos.
2. Quadrinho: Tipo específico de desenho feito dentro de quadros sequenciais, formando uma história coesa.
3. Charge: Desenho humorístico publicado em jornais, relacionado a temas atuais e com críticas ferozes.
4. Gibi: Revista em quadrinhos, inicialmente associada à palavra "moleque" ou "negrinho", mas hoje utilizada apenas com o sentido de revista em quadrinhos.
5. Quadrinista: Pessoa que faz, desenha e planeja histórias em quadrinhos.
Termos relacionados ao assunto principal:
1. Menino Maluquinho: Personagem criado por Ziraldo, famoso cartunista brasileiro.
2. Ziraldo: Cartunista e desenhista de quadrinhos brasileiro, conhecido por personagens como o Menino Maluquinho.
3. Ângelo Agostini: Cartunista italiano, considerado o primeiro quadrinista do Brasil.
4. As Aventuras de Nhoquim: Primeira revista em quadrinhos conhecida no Brasil, publicada por Ângelo Agostini.
5. Turma da Mônica: Personagens criados por Maurício de Sousa, populares quadrinhos brasileiros voltados para crianças.
6. Graphic Novels: Narrativas em quadrinhos mais profundas e adultas.
7. Mangá: Estilo japonês de quadrinhos, muito popular entre os jovens e fãs da cultura japonesa.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageSun, 28 Apr 2024 - 24min - 273 - Episode 244: Talking about Roads and their Conditions
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And here is the monologue for your benefit:
Não sei se você conhece o Romualdo, meu amigo que é caminhoneiro e é cheio de histórias. Vou confessar para você que tem hora que eu acho que é invencionice dele, mas Romualdo jura pela alma da mãe dele que aconteceu tal qual ele contou.
Como aqui no Brasil o transporte de cargas é feito predominantemente pela malha rodoviária, o Romualdo conhece o país de cabo a rabo. E ele diz que tem estrada de tudo quanto é jeito. Nas que têm pedágio, por exemplo, o asfalto parece um tapete de tão bom. Outras, sem manutenção regular, estão tão esburacadas que não se pode conduzir a mais de 30km/h. Alguns trechos nem sequer têm pavimentação, é terra pura mesmo, como a BR-230, conhecida como Transamazônica.
E foi justamente na BR-230 que aconteceu um dos causos do Romualdo.
Ele conta que certa vez que ele estava no meio da floresta, na BR-230 que passa no meio da mata mesmo, e avistou uma cobra que era maior que seu caminhão. Ficou com medo de atropelar a desgramada, porque estando degradada como está, a estrada não permitia fazer uma manobra rápida. Ainda mais quando chove e fica tudo enlameado, cheio de poça e de cratera.
A gente fez galhofa, porque o caminhão vai ter aí uns 30 metros, e a maior cobra gigante do mundo não deve se estender para além dos 10 metros.
Mas Romualdo não roda só dentro do país. Ele dá volta no continente todo. Ele anda por muita BR, que são essas rodovias interestaduais aqui do Brasil. Tem BR que corta Brasil de Norte a Sul, e tem BR que faz fronteira com países da América Latina, como a BR-262, que faz fronteira com a Bolívia.
Romualdo conta que tem muita fiscalização nas áreas fronteiriças. A polícia vigia para evitar contrabando e tráfico. Quando ele vai para os lados do Paraguai, muita gente pede para ele trazer alguma coisa de lá. Trazer até pode, mas tem que ficar dentro da cota, porque senão é autuado. Da última vez ele passou se arrastando pela aduana porque tinha passado dos valores permitidos atendendo a tanto pedido, mas por sorte não foi pego. Não sigam esse exemplo, gente.
Outra coisa que Romualdo costuma fazer, aí sem cometer ilícito nenhum, é dar carona. Às vezes a viagem é longa e ficar sozinho muito tempo pode dar sono, por isso Romualdo gosta de companhia. Ele comenta que conhece cada pessoa interessante ao longo do caminho que vale a pena. E o mais importante, fica desperto durante o trajeto enquanto conversa. Acho que é dessa experiência que ele tem tanta história para contar.
Outra hora a gente fala mais dessas histórias, porque agora eu vou cair na estrada com Romualdo para pegar uma praia mais tarde.
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--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 25 Apr 2024 - 51min - 272 - Cultural Portuguese 004: Farofa and Reality Shows
In this Cultural Portuguese episode, we are going to talk about one of the most Brazilian dishes: Farofa. It also includes words derived from this dish and word, and you will see that they are somewhat connected to reality shows (a slight connection — you need a lot of goodwill and lenience to see it :-)
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The main summary of this episode is here:
Nesse episódio, falamos sobre a farofa, um prato brasileiro muito querido que é feito com farinha de mandioca ou milho e pode ter outros ingredientes, como cebola, bacon e linguiça. A farofa começou com os índios tupi-guarani e com o tempo virou um prato tradicional no Brasil. Também comentamos sobre a palavra "farofeiro", que algumas pessoas usam para descrever quem leva comida de maneira bagunçada para a praia.
Mencionamos a farofa da GKay, um evento anual criado por uma pessoa famosa no Brasil, que atrai muitas celebridades e ajuda a tornar o evento conhecido. Esse evento mostra como as pessoas se ajudam, como diz o ditado "uma mão lava a outra", onde todos saem ganhando.
Falamos sobre como os brasileiros gostam de programas de reality show, como o "Big Brother", que mudou como as pessoas assistem TV no Brasil. O "Casa dos Artistas", um dos primeiros programas desse tipo no Brasil, onde famosos competiam e conviviam na mesma casa, também foi citado como um exemplo que era muito divertido para o público assistir sem causar problemas reais.
Além disso, discutimos como os reality shows ajudam as pessoas que participam deles a ficarem mais famosas e terem mais chances na carreira. Alguns artistas conseguiram melhorar suas carreiras por causa da fama que ganharam nesses programas.
Por último, exploramos como algumas pessoas se tornam subcelebridades no Brasil, pessoas que ficaram famosas por causa de algum evento específico e usaram isso para criar mais oportunidades para si mesmas. As redes sociais e a internet são muito importantes para ajudar essas pessoas a se tornarem conhecidas e influentes.
Sources:
Geisy Arruda explaining why she was harassed by other students and became famous - https://www.youtube.com/watch?v=d6Gd62q3DOQ Farofa da GKay - https://www.instagram.com/afarofadagkay/ Farofa Recipe - https://www.youtube.com/watch?v=8E8Kq_hTN9gKeywords:
Farofa - Farofa
Farofeiro - Unruly beachgoer
Farofada – it can be a messy situation. It usually involves many people, food, and lots of noise.
Subcelebridade - Subcelebrity
Tupiniquim - Typically Brazilian. It can be both negative and positive.
Cobertura - Coverage
Plateia - Audience
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageSun, 21 Apr 2024 - 23min - 271 - Episode 243: Mobility and Challenges of Moving Around
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Não faz muito tempo, aconteceram várias coisas que me fizeram pensar na facilidade que eu tenho (ou tinha, e você já vai entender o porquê) para transitar aqui, enquanto para outras pessoas se locomover é uma verdadeira proeza.
Estava eu a pé e parei para atravessar a rua, na faixa de pedestres. Enquanto esperava o sinal fechar para os carros, avistei na outra margem uma garota, também aguardando para atravessar. Notei que ela levava uma bengala, e também usava óculos escuros. O sinal abriu para nós que esperávamos, e iniciei a travessia. A moça ficou parada no mesmo lugar. Quando já estava bem perto, constatei que ela era cega, não enxergava. Ao me aproximar, perguntei se ela queria cruzar a rua.
Ela aceitou a ajuda, e agradeceu imensamente. Enquanto eu a guiava, ela comentou que faltam por aqui aqueles avisos sonoros nos semáforos, indicando que o caminho está livre. Com esse sinal, a pessoa que tem a visão comprometida consegue uma maior autonomia, sem depender da boa vontade de outros para ajudar na simples tarefa de atravessar a rua (simples para quem vê, não é mesmo?).
Mais à frente no percurso que eu fazia até o supermercado, presenciei uma triste cena: uma família com uma criança sendo obrigada a entrar pela porta dos fundos em um museu. A mãe bradava aos quatro ventos que nunca viu aquele tipo de humilhação. O caso era que seu filho tinha uma doença e usava uma cadeira de rodas para se locomover. A recepcionista tentou pôr panos quentes, explicando que a arquitetura era reaproveitada e, para preservar a fachada daquele prédio colonial, a forma que encontraram de instalar o elevador tinha sido aquela, pelos fundos. Era pegar ou largar.
Eu fiquei pensando nas palavras daquela mãe, do estigma que já carrega, e ainda não poder entrar pela porta da frente na maior parte dos lugares.
Distraída com meus botões, acabei tropeçando num ressalto da calçada malconservada, e acabei quebrando o pé. Agora estou eu aqui vivendo na pele a dificuldade que eu nunca tinha imaginado. Hoje vejo que é uma proeza andar por aí quando se tem uma condição minimamente diferente da “normalidade” (e olha que estou só com um gesso provisório no pé e com um par de muletas). Viver com alguma dificuldade de locomoção nessa cidade é como participar de uma corrida de obstáculos.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 17 Apr 2024 - 48min - 270 - Cultural Portuguese 003: Moda Brasileira e Clodovil
E estes são os assuntos tratados no podcast:
Introdução sobre Clodovil Contexto da moda brasileira na época de Clodovil Carreira de Clodovil como estilista Influências da Europa na moda brasileira Atuação de Clodovil como radialista e apresentador de TV Polêmicas e demissões na carreira de Clodovil Contribuições de Clodovil para a moda brasileira Lojas populares de roupas no Brasil Experiência de compra em lojas de roupas Desafios de encontrar roupas em tamanhos específicos O papel das costureiras na confecção de roupas sob medida Diferença entre costureiras e alfaiates Popularidade do movimento "faça você mesmo" na costura Conclusão sobre a importância coletiva na indústria da modaE caso você queira nos ajudar com uma pequena doação visite o site: https://www.buymeacoffee.com/elisousa
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageSun, 14 Apr 2024 - 22min - 269 - Episode 242: Tightening the Belt
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E aqui está o monólogo para seu proveito:
Dia desses estava eu no ponto do ônibus esperando a condução para voltar para casa, e tinha uma senhora, na casa dos seus 50 anos, contando as moedinhas da passagem e chorando as pitangas, narrando seus perrengues para quem quisesse ouvir.
Ela dizia que costumava ter uma vida confortável, que vivia até com certo luxo, mas de repente tudo mudou. O marido perdeu o emprego, as contas não paravam de chegar, faltava dinheiro para pagar os boletos, e, com medo de não ter nem o que comer, essa senhora resolveu apertar os cintos como precaução.
Vamos chamá-la de Matilde, só pra ela ter um nome.
Matilde contava que falou para o marido que não aguentava viver naquela pindaíba, e que precisavam tomar tento, viver de forma mais austera até tudo se ajeitar.
Começou a cortar os gastos mais supérfluos, como pedir comida pelo Ifood, e parar de frequentar os restaurantes mais badalados da cidade.
Migraram o plano da internet para a um mais básico, o que caiu o preço da fatura para menos da metade. Nesse ponto ela se perguntou se precisava daquilo tudo de giga para uso doméstico.
Estipularam que o banho agora seria cronometrado, no máximo 10 minutos. Ela se lembrou da mãe dizendo que chuveiro é para tomar banho, não pra ficar cantarolando e fazendo hora. A mãe de Matilde era mesmo sábia!
Mesmo reclamando, ela e o marido também entraram em acordo que não ia ter mais Uber, que o transporte agora seria o busão. E se fosse coisa perto, até uns 2km, que iriam a pé.
Ainda que mantivesse as aparências no seu círculo de amizades, os meses foram passando, e com esse arranjo as contas ainda continuavam muito justas.
Foi então que Matilde teve uma ideia pra ganhar um dinheirinho extra. O armário dela estava abarrotado de roupas de um valor até considerável. Ela fez a limpa no guarda-roupas, separou umas peças que não usava há um bom tempo, outras ainda com etiqueta, e resolveu vender para as amigas mais próximas.
E foi um sucesso! Ela chegou até a abrir um brechó, que hoje é o negócio da família, de onde vem o sustento da casa. Aquela época das vacas magras passou. Mas alguns hábitos permaneceram, como andar de ônibus, já que Matilde ficou mais consciente de que alguns gastos causam um grande impacto no planeta.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageMon, 08 Apr 2024 - 35min - 268 - Episode 241: Bulking Up with Supplements
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And here is the monologue for your benefit
Hoje eu vou contar para vocês a história do meu amigo, Otávio. Uns anos atrás ele passou por uma crise de identidade. Um colega chamou ele de frango, e ele era meio franzino mesmo. Ele nunca tinha se importado com sua aparência, mas depois do comentário maldoso do amigo, Otávio decidiu que ia virar o jogo.
A primeira coisa que ele fez foi buscar no Google “como crescer músculos rápido?”. E a gente sabe que tem muita coisa boa na internet, mas… temos que usar o bom senso né? Otávio estava meio com raiva, querendo mudar o corpo, ficar gigante, pra esfregar na cara do amigo que não era frango nada, que era bombadão.
Ele comprou uns suplementos pra ganhar massa muscular, outros pra reconstruir músculo, outros pra ter resistência, essas coisas… Gastou uma grana nisso, e ficou esperando o resultado sentado no sofá. Todo dia ele fazia a maçaroca com os suplementos, e nada…
Uns 3 meses nessa rotina, ele viu que estava era ficando barrigudo, sem entender a razão (ah Otávio, sem queimar as calorias? Queria o quê?).Daí resolveu apelar… Ele tinha ouvido falar sobre tomar bomba, com promessas de resultados praticamente imediatos. Começou a perguntar aqui e ali onde ele conseguia a injeção de trembo não sei o que, já que não era vendido abertamente. Parece que existe uma espécie de mercado negro para essas substâncias.
Aí ele veio me perguntar se eu sabia de algum esquema. Eu, esperto que sou, logo abri o olho dele. Tirei ele de cabeça de tomar essas coisas, por conta dos efeitos colaterais. Dizem por aí que até brocha o cara…
E apresentei pra ele a minha nutri. Ela avaliou o Otávio, prescreveu uma dieta balanceada, umas vitaminas, e até aproveitou alguns daqueles suplementos que ele já tinha, tipo Whey e creatina. E deu a dica de ouro pra ele: “Otávio, não adianta você ficar no sofá, você tem que malhar”.
Ele meio descrente, meio resistente, aceitou os conselhos da nutricionista e se matriculou numa academia. Ia na força do ódio umas 3 vezes na semana. Com o tempo ele pegou gosto pela coisa. Com constância e disciplina, ele começou a ver os músculos se definirem. Ficou tão empolgado, que virou um rato de academia.
E Otávio não liga mais quando alguém chama ele de frango. Ele aprendeu que não importa o que os outros dizem, mas sim como você se sente. Ele se olha no espelho (ainda miúdo), e diz para si mesmo: quem é o fortão que vai levantar 100kg hoje?Fri, 29 Mar 2024 - 42min - 267 - Episode 240: Annoying People
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E aqui está o monólogo para seu proveito!
Nunca fui muito abelhudo. Se tem boato, prefiro ficar de fora, porque as consequências sempre podem respingar em mim. Mas teve um dia no supermercado que não teve jeito.
Não teve jeito porque eu estava na fila quando uma senhora tentou furar a fila. O pessoal não ia deixá-la se safar assim. Começaram a reclamar e, depois de um ou dois gritos, conseguiram colocar a senhora no lugar dela. Mas ela não foi sem protesto.
O problema é que ela foi ficar logo atrás de mim. Já não gosto de gente assim, indelicada, porque me indisponho fácil e não sei lidar bem com minha raiva. Mas, por sorte, ela não tentou passar na minha frente. Ficou procurando assunto comigo, mas dei um chega para lá suave. Não gosto de lidar com quem não tem um pingo de consideração pelos outros.
“Ninguém mais respeita uma idosa,” ela disse. “Depois, quando estiverem com minha idade, vão ver só. Bando de infeliz.”
“Para com esse nhenhenhém aí,” quis dizer, mas achei que ia ser fora de propósito. Além do que, não era o momento mais propício para esse tipo de rompante.
Dali a pouco o telefone tocou. Era o celular da senhora. Ela atendeu numa ligeireza, parecia querer desabafar com alguém. Alô, ela disse bem alto. E daí começou a falar com a pessoa do outro lado da linha.
Quem quer que estivesse do outro lado da linha, ou era surdo ou era duro de ouvido. Nunca vi pessoa mais gritalhona do que aquela senhora falando ao telefone. Se fosse só isso já era problema suficiente, mas a senhora achou interessante esmiuçar a vida íntima de uma tal de Marluce ali mesmo. Ela falava para todo mundo ouvir. As pessoas começaram a olhar e apontar. Eu não precisava olhar, não seria insensato a esse ponto. Mas aparentemente a tal da Marluce estava traindo o marido. A senhora ao telefone fazia o maior estardalhaço. Todo mundo achava o comportamento tacanho. Eu também. Mas não era isso que ia me impedir de desfrutar da história.
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E aqui está a transcrição para seu proveito!
Quando adolescente, tive uma experiência que é ver para crer. Sei que vai parecer que sou pancada, mas aos dezessete anos fui abduzido. Não, não fui raptado... pelo menos não por pessoas. Foi bem bizarro e até eu custo a acreditar, então entendo seu ceticismo ao me ouvir.
Mas vou te contar mesmo assim.
Era madrugada. Eu estava dormindo. Do nada, acordei atordoado com um zunido forte. De repente, senti um formigamento na minha pele, vi um brilho muito forte e não consegui me mexer. Meus músculos estavam todos retesados. Daí, meu corpo ficou levinho, levinho. Era como se eu pesasse tanto quanto uma pena. Comecei a flutuar. E logo em seguida senti que estava estirado numa mesa lisa – acho que como essas mesas de frigorífico, onde cortam a carne. Engraçado é que eu não tinha entrado em pânico...
Ainda.
Foi quando senti um toque viscoso no meu braço. Eram dedos finos e pegajosos, e ao toque pareciam lesmas. Eu não conseguia divisar ninguém com aquela luz toda. A mão me puxou, e me sentei. Quem quer que estivesse me segurando pelos braços, me ajudou a me levantar e depois me conduziu para algum lugar. O chão era estranhamente duro e rugoso. Contrastava muito com o liso da mesa. Fui caminhando por um corredor escuro. Depois de um tempo, o chão debaixo dos meus pés foi ficando macio e agradável. Era como estar pisando em grama.
Então meus abdutores me levaram a uma mesa repleta de coisas estranhas. Um deles apontou para uma coisa que parecia uma pedra. Eu encostei na coisa. Meu dedo roçou na casca. Tinha um toque áspero, como lixa d’água, mas não era dura. Eu pressionei um dedo contra ela e ela cedeu. Então meu dedo perfurou a coisa e ela parecia esponjosa por dentro, e um suco aguado jorrou de dentro. Tomei um susto. Mas por curiosidade, levei o dedo à boca e, minha nossa, que coisa gostosa! Tinha um sabor indescritível.
O ET fez um barulhinho como se estivesse satisfeito. Em seguida, me mostrou mais e fez um gesto. Então finalmente a ficha caiu. Queriam que eu comesse! Eram frutas do planeta deles! Comi uma planta escorregadia que caiu da minha mão três vezes. Tomei um copo de suco que era tão gorduroso que me dava a sensação de estar tomando uma garrafa de óleo. Ao invés de matar minha sede, me deixou ainda mais sedento, com a língua seca como papel.
Ao cabo de algumas horas – pelo menos pareceram horas para mim –, meus captores me trouxeram de volta para minha casa. Antes de partirem, estenderam a mão para um aperto, mas eu só acenei. As frutas eram deliciosas e saí de barriga cheia, mas não gostava nada, nada daquele toque viscoso da mão deles.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageSat, 24 Feb 2024 - 45min - 265 - Cultural Portuguese 002: Dia dos Namorados
Eu te dou as boas-vindas a nossa nova série contínua de episódios chamada Português Cultural. Em cada episódio nós discutimos aspectos culturais diferentes do Brasil e de outros países de fala portuguesa.
Para saber mais sobre o nosso programa de educação continuada, clique no link a seguir: https://portuguesewitheli.com/plg Com ele, você tem acesso às transcrições completas dos episódios de Português Cultural e de outros episódios do nosso podcast.
Hoje falamos sobre o dia dos namorados!
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Aqui está o monólogo para seu proveito:
Era um jantar de negócios. André, meu colega de trabalho, e eu chegamos no horário. O futuro parceiro comercial na nossa nova empreitada, não. Cristiano chegou com quase vinte minutos de atraso.
André e eu nos entreolhamos, mas ficamos de bico fechado. Pensei: não é porque começamos com o pé esquerdo que tenhamos de ir ladeira abaixo.
Como nossa empresa havia feito a cortesia de convidar, a conta era nossa. Cristiano parece ter visto isso como um sinal verde para comer até estourar, porque ele foi logo pedindo um pratão de churrasco, um vinho da casa e um monte de petiscos, tudo ao mesmo tempo. André parecia horrorizado. Eu mantive a compostura. Podia estar com fome, mas não ia fazer feio na frente de quem me garantiria um contrato milionário... e uma comissão gorda.
Tinha de, literalmente, comer pelas beiradas.
Enquanto comíamos, apresentei com o auxílio de um tablet nossas necessidades de expansão e investimento. André apenas olhava com desdém a falta de requinte de nosso convidado. Cristiano ora olhava o celular, ora nos ouvia, e, entre uma garfada e outra, lambia os dedos. — Cristiano, eu preciso que... — comecei a dizer, mas ele me interrompeu com um arroto.
André então não se aguentou.
— Seu Cristiano, isso são modos?
O rompante de André pegou Cristiano de surpresa.
— Desde que a gente chegou aqui, tudo o que o senhor faz é se lambuzar feito um porco e nos deixar de lado.
Cristiano então se recuperou do susto e disse com aspereza:
— Não sou eu que preciso de vocês.
Eita. Dei uma cotovelada em André e pedi ao Cristiano uma licencinha, porque tinha de conversar um bocadinho ali com o André.
— Você perdeu o juízo? Quer ir para o olho da rua?
— Antes o olho da rua que um chiqueiro com aquele imundo...
André permaneceu irredutível. — Qual é, André? Isso aqui por um acaso é algum jantar de gala? Vambora, dá pelo menos uma chance.
André anuiu, resignado.
— Já lavaram a roupa suja? — perguntou Cristiano quando voltamos.
André ia preparando uma resposta, mas eu intervi. Eu também já não aguentava mais a cara daquele sujeito, mas não podia cometer nenhum deslize.
Na hora do brinde, o André se fingiu de estabanado, derrubou a taça de vinho do Cristiano no chão na hora do brinde e ainda disse “não se preocupe, ainda dá para beber”.
Naquela hora, não me aguentei e ri. Já estava tudo perdido mesmo, então que se danasse a situação. Até aquele momento, tinha mantido um comportamento discreto e sóbrio. Mas joguei tudo para o alto e decidi fazer o que bem entendesse.
O resto do jantar transcorreu normalmente, se é que se pode chamar aquela barbárie de normal. Fui para casa, frustradíssimo. No outro dia, recebi um e-mail do meu chefe dizendo que o novo sócio tinha ficado tão impressionado conosco que decidiu fechar o contrato ali mesmo.
Fiquei embasbacado. Se havia algo a aprender com aquela situação, passou batido por mim.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 24 Jan 2024 - 47min - 263 - Episode 225: Talent Shows
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Quando eu era pequena, achava o máximo aqueles programas de calouros: Chacrinha, Sílvio Santos... Sonhava com os jurados levantando as plaquinhas com um 10 e o apresentador anunciando: “Marlene Silva!” Eu ia dar um show... se tivesse chance de pelo menos participar. Mas meus pais não me deixavam... estávamos em plena ditadura e tínhamos mais com o que nos preocupar. Arrancar aplausos de um público não era uma dessas preocupações.
Mas minha sorte mudou quando minha filha nasceu. Fiquei tão orgulhosa quando, ao dar os primeiros passos, ela já começou fazendo bonito: sapateava como ninguém. Comprei-lhe sapatos e disse: minha filha vai ser uma estrela. Sendo ainda tão fofa, ia cair no gosto do público rapidinho.
O treinamento foi árduo. Desde pequenininha, eu a levava para as aulas de dança e canto. Queríamos que ela roubasse a cena aonde quer que fosse. Aprendeu a cantar, dançar, fazer malabarismo... Além disso, era uma anfitriã nata: em casa, fazia sala para as visitas; nos pequenos shows que dava, arrancava gargalhadas da plateia. Ela levava muito jeito para a coisa.
Mas uma boa recepção não era unanimidade.
Uma vizinha minha, Aurineide, adorava me espezinhar, dizendo que eu não era mãe boa porque submetia minha filha àquele tipo de rotina. E onde é que estava o problema? Minha filha adorava o palco. Além do quê, sabia que a Aurineide era muito era despeitada, isso sim. Ela sabia que a filha dela não chegava nem aos pés da minha no quesito talento.
E qual não foi minha surpresa quando vi a Aurineide e a filha dela na banca de inscrição para o concurso de talentos da cidade? Aí foi que minha filha e eu redobramos os esforços. Ensaiamos dia e noite o número de minha filha. Ora eu fazia o papel de jurado comovido, ora de jurado indiferente, para ver como minha filha se saía. E ela tirava de letra todas as vezes.
Até que chegou o grande dia.
Minha filha foi impecável. A filha da Aurineide foi meio assim, e quando terminou seu número, o público bateu palmas, mas foi meio morno. E aí foi que veio a surpresa. Os jurados disseram que houve empate entre minha filha e a filha da Aurineide. Que disparate! Minha filha demonstrou toda a maestria de uma verdadeira vedete e esses imbecis dizem que ela foi comparável com aquela sem-graça da filha da Aurineide.
Ah, mas a gente não vai deixar isso barato. Agora é vale-tudo. Ela vai ver.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageSat, 30 Dec 2023 - 50min - 262 - Episode 224: We do Discuss Musical Taste
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E aqui está o monólogo para seu proveito!
Dizem que quando um não quer, dois não brigam. Acho que é verdade. Mas sabe, quando o negócio é gosto musical, o caldo pode entornar rapidinho.
Tenho três amigos com quem sempre viajo. E gostamos de viajar de carro. Durante o trajeto, ouvimos músicas para passar o tempo, mas nunca fomos muito longe. Esse mês calhou de todos estarmos de férias, então fizemos as malas e colocamos o pé na estrada.
Dos meus amigos, o único que é fã de bossa-nova sou eu. Júlio é amarrado em sertanejo. A Marina é a roqueira de plantão e o Pedro... ele adora funk. Eca, eu sei, música de má qualidade. Mas como se diz, gosto não se discute.
Na nossa viagem, a escolha da trilha sonora foi uma discussão acalorada. Eu queria colocar os sucessos de Tom Jobim que embalaram a minha juventude. A Marina disse logo que era música de velho. Ela preferia os acordes da guitarra do Iron Maiden. “Que bossa-nova e rock que nada!” disse Júlio. “A gente vai ouvir é Marília Mendonça!” E o Pedro queria requebrar até o chão com funk, se desse, claro.
Depois de muita falação, chegamos a um meio-termo: a gente dividia a duração da viagem por quatro e o resultado seria o número de horas que cada um tocaria a música de que gosta.
A primeira hora e meia foi uma tortura. Eu pensava que funk era ruim, mas sertanejo é bem pior. São uns homens com voz de taquara rachada, super desafinados, cantando músicas com letras estúpidas que exaltam a bebedeira e a traição. Não admirava que Júlio fosse solteiro e depressivo.
Quando chegou a hora do rock da Marina, pelo menos deu para aguentar. O batuque da bateria e a melodia das letras pelo menos têm mais variedade. E como cantavam em inglês, eu não fazia ideia do que diziam... e era melhor assim. E as músicas tinham uma pegada mais dançante, que era agradável de acompanhar. Não era bom, mas aprazível.
Em seguida, foi o funk do Pedro. Gente, como é que alguém gosta daquilo? Não é querendo esnobar não, mas que música de baixa qualidade! E ainda tinha uma parte que tentaram dar um verniz de sofisticação para o funk e fizeram um acústico que ficou passável, mas ainda assim eu não tenho saco para isso.
Depois da hora e meia de tortura, finalmente tinha chegado a minha vez. Ia escutar os acordes do violão de João Gilberto e... quando começou a tocar Chega de Saudade, o Pedro bateu no meu ombro e disse: chegamos.
Todos eles saíram do carro mais rápido do que um relâmpago. Eu ia sair também, mas sabe? Eu ia curtir a minha hora e meia de bossa-nova. E fiquei lá.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 28 Dec 2023 - 43min - 261 - Episode 223: Humanities or Sciences?
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Quando se é adolescente com um monte de escolhas a fazer, nunca é fácil selecionar a carreira que se vai seguir pela vida toda. Se por um lado o mundo nos oferece um mar de possibilidades, por outro nos joga nas costas tantas responsabilidades que, se dermos um passo em falso, podemos cair num buraco sem fundo.
Uma das minhas fontes de inspiração foram meus colegas de escola. Um deles sabia desde sempre que queria ser médico. Além de ser um fã de carteirinha de Grey’s Anatomy, ele pensava “fora da caixa” e tinha muita empatia pelas pessoas. Também tinha estômago para ver sangue. Eu não dava para isso. Se eu vejo uma gotinha de sangue que seja, desmaio logo.
Outro sujeito via tudo preto no branco. Para ele, pão era pão e queijo era queijo. Ele não lidava muito bem com abstrações filosóficas, então foi estudar engenharia. Minha escolha ficou entre a razão e a emoção: eu não era muito ruim com números, mas tampouco era um Machado de Assis. Se escolhesse algo de Humanas, sabia que tinha pela frente um verdadeiro calvário financeiro. Se escolhesse algo de Exatas, quebraria muito a cabeça no começo, pois só de imaginar meu pensamento já ficava todo emaranhado. Mas a recompensa financeira poderia ser útil para me firmar na vida no futuro.
Escolhi Exatas.
No primeiro semestre do curso foi um desengano. Meus colegas falavam de funções bijetoras e de cosseno e sei lá mais o quê e eu ficava mais perdido que cachorro em dia de mudança. Quando olhava para aquelas funções na lousa, minha vista ficava turvae eu começava a suar frio. Até entrei para um grupo de estudos, mas o pessoal era muito fera em matemática e não tinham muita paciência com principiantes.
Meu desespero chegou ao auge quando fui designadopara apresentar um seminário sobre teoria dos Grafos e suas aplicações. Passei horas devorando livros e mais livros, mas nada entrava na minha cabeça. No fim, fui apresentar com os parcos conhecimentos que tinha adquirido. Na hora da apresentação, não conseguia concatenar minhas falas. Estava me borrando todo de vergonha. Todo mundo me olhava cheio de esperança e eu ali, deixando todos na expectativa. No fim, respirei fundo e decidi: se já estava no inferno, que abraçasse o capeta. Comecei a enrolar e enrolar e no fim da apresentação um professor veio trocar um lero comigo.
“Você já pensou em cursar filosofia? Você discute abstrações muito bem!”
E foi assim que me vi matriculado em filosofia. Agora me sinto entre iguais. Porém, continuo a calcular... mas dessa vez, calculo as probabilidades de arranjar um emprego depois de me formar.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageTue, 28 Nov 2023 - 39min - 260 - Episode 238: Scheduling Problems
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Dizem que brasileiro nunca chega na hora... mas mais difícil que chegar na hora, para mim está sendo encontrar essa hora.
Veja bem. Há alguns meses, percebi que precisava de terapia. Sabe, a vida andava tão espinhosa que precisava de alguém com quem desabafar. Depois de muita procura, encontrei uma psicóloga especialista em comportamento que poderia me ajudar.
Tentei reservar uma hora para a triagem com ela, mas a secretária pegou e me disse que a psicóloga estava com a agenda lotada até o mês seguinte. Será que eu teria disponibilidade para esperar?
Teria, teria sim.
Quando foi no dia anterior à consulta, a psicóloga em pessoa me telefonou e disse que infelizmente tinha um compromisso inadiável no dia seguinte e que ia ter de reagendar a consulta pela qual esperei um mês. Bufei e bufei, mas, fazer o quê? Eu estava de mãos atadas. Perguntei para quando ela tinha vaga e ela me pediu um minutinho, só para dar uma espiada na agenda. Tinha como me encaixar na outra semana, será que eu estaria disposto?
Estava, estava sim.
Chegando o dia, foi a minha vez de ser furão. Acabou que eu tinha me esquecido de que tinha um encontro naquele dia e já fazia tanto tempo que eu estava encalhado que era melhor dar um bolo na doutora que na pretendente. Liguei para o consultório, inventei uma desculpinha boba e perguntei se ainda havia a possibilidade de remarcar, ao que a secretária, audivelmente contrariada, disse que “a doutora está com a agenda cheia, só se atende com marcação prévia” e tal e tal.
Depois desse pega-pega telefônico, conseguimos enfim conciliar nossos horários. No dia da consulta, cheguei pontualmente no horário marcado. Na pauta do dia só havia reclamações. Chorei largado, falei de tudo o que me angustiava e a doutora me ouviu compenetrada. Findos vinte minutos, ela me disse que já tinha do que precisava, trocamos um aperto de mãos e fui eu para o meu lado e ela para o dela, mas não sem antes que ela me dissesse: “agora o senhor pode agendar o retorno com a menina da recepção”.
E já faz duas semanas que estou tentando marcar esse retorno.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageFri, 20 Oct 2023 - 44min - 259 - Episode 237: A nightmare with the credit card
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Sei que vai ficar parecendo uma reunião do AA, mas, oi, bom dia, sou o Luís e estou há cinco meses sem usar o cartão de crédito.
Minha história com o cartão começou ainda na universidade. Na época, eu estudava sociologia e não tinha nenhuma preocupação financeira. Na verdade, o único aperto que passava era na hora de subir no ônibus. Então levava uma vidinha boa. Não comprava tudo o que queria, mas tinha tudo de que precisava.
Mas como se sabe, o cão está sempre à espreita, para desvirtuar as ovelhas do Senhor.
Um dia eu estava passeando no shopping quando uma dessas moças que vendem cartão de crédito me abordou. “O senhor já tem cartão?” Respondi que não, que era apenas um universitário e não tinha renda. Ela sorriu e disse: “Mas o senhor tem crédito pré-aprovado conosco! Só precisa me informar uns dados e vai ter um cartão novinho sem anuidade no primeiro ano.”
Pensei: que mal tem? Não ia gastar em muita coisa. Só precisava para uns livros e um cineminha aqui e ali. Então acabei cedendo e fiz o cartão.
O limite que me deram era de três vezes o salário-mínimo. Três vezes! Você sabe o que é isso na mão de um jovem inconsequente de 19 anos? Era um convite para a ruína!
Jurei para mim mesmo que não o usaria, mas, sabe, quando saiu o novo modelo do iPhone no mercado, todos os meus amigos o tinham. Eu sabia que não precisava, mas podia parcelar em 24 suaves prestações... e caí na tentação de o fazer.
Ai, se arrependimento matasse...
As três primeiras faturas, paguei antes do vencimento. O banco tomou esse ato por uma capacidade de pagamento maior e me deu mais limite. Me segurei como pude, mas, sabe como é, né? Antes, com os cartões que tinham chip, ainda era necessário inserir o cartão na máquina, mas agora com esses de aproximação... tudo ficou tão fácil. Se dava vontade de tomar sorvete, passava o cartão. Ih, uma visita inesperada? Passa o cartão. Está faltando roupa para a festa? Passa o cartão. E fui passando e passando até que bum! Estourei o limite pela primeira vez. O cartão foi bloqueado. Foi uma miséria. Comecei a pagar só o mínimo todo mês. Entrei no rotativo. E todo mês era mais e mais que tinha de pagar. Virou uma bola de neve.
No fim, tive de trancar a faculdade, conseguir um emprego às pressas, fazer outras coisas por fora e quebrar meu cartão, para não fraquejar outra vez. Agora estou empenhado em limpar meu nome e nunca mais contar com esse “fiel escudeiro”, o cartão de crédito.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 18 Oct 2023 - 36min - 258 - Episode 236: A Stingy Uncle
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Pelo que me contavam, minha avó era uma pessoa frugal. E como dizem que “filho de peixe, peixinho é”, era de se esperar que a cria dela saísse tal qual a forma. E em parte, saiu sim.
Tem o caso da minha mãe e do meu tio.
Minha mãe sempre foi gastadeira, mas ela também tinha sorte porque ganhava dinheiro muito rápido. Ela se virava como podia e, graças a Deus, nunca faltou nada na nossa mesa.
Já na mesa do meu tio... faltava, mas não era por carência não. Era por avareza.
Meu tio era tão econômico que, se você lhe desse um punhado de sabão em pó e pedisse que ele mergulhasse no mar, o sabão em pó saía seco.
Na casa de meu tio, a televisão ainda é daquelas de tubo. Ele a comprou no final da década de 1990. Toda vida que a TV dava defeito, ele ia lá e fazia algum conserto. Até que a TV virou um Frankenstein: era parte de um, pedaço de outro... mesmo quando tiraram o sinal analógico de circulação, meu tio disse que não ia trocar de TV. Comprou um adaptador de segunda mão. A recepção era horrível e o sinal só pegava uma vez perdida. Mas quando pega, ele sorri triunfante e diz: “viu? Ela ainda tá novinha em folha”.
Quanto ao carro que ele dirige, é uma lata velha da qual ele não abre mão. É possível saber que meu tio vem chegando de carro a uns quinhentos metros, porque o motor daquela velharia solta cada papoco que é de pensar que é um tiroteio. Um carro popular não é nem quinze mil reais, mas meu tio é tão apegado ao dinheiro dele que, se lhe oferecessem um veículo por um real, ele ainda pedia desconto.
Além disso, meu tio tem outros hábitos deploráveis.
Uma vez fui lavar as mãos no lavabo da casa dele e percebi que o sabonete era todo coloridinho. Achei engraçado, mas quando fui examinar, vi que eram vários restos de sabonetes grudados uns nos outros. Senti repulsa. Lavei minha mão só com água mesmo. Sabe lá onde aqueles sabonetes tinham andado?
No banheiro dele tem um balde. Quando uma visita vai tomar banho, ele grita do lado de fora do banheiro: “tome banho em cima do balde e use a água para a descarga!” Diz ele que era por que a descarga estava defeituosa, mas a verdade era que ele era muito sovina e queria reaproveitar a água.
Mas o auge foi mesmo no Natal do ano passado. Ele convidou todo mundo para a ceia de Natal na casa dele. No convite, ele disse que cada convidado trouxesse um prato feito e talheres e um rolo de papel higiênico. Disse que era por educação, porque com a fartura de comida que esperava ter, muito provavelmente o banheiro seria usado com frequência. E dado que os mercados perto de sua casa não tinham mais papel, era bom levar.
Depois da festa, o filho da mãe estocou papel para durar um ano.
É por essas e outras que não gosto do meu tio, mas tenho de admitir – a estratégia dele parece dar certo. Minha mãe só tem uma casa e olhe lá. Meu tio? Quarenta casas, e ainda empresta dinheiro a juros.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageMon, 16 Oct 2023 - 39min - 257 - Episode 235: Talking about some betting games
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De vez em quando o pessoal aparece com umas modas que, vou te contar, viu? Recentemente me disseram que eu tinha ludomania. Ludomania?
Aí me explicaram: é vício em jogo. Viciado, eu?
Toda sexta-feira, depois do expediente, a gente juntava a turma toda para tomar umas e jogar uma partidinha de jogos de baralho. Tinha aposta, mas não era nada de fazer cair o queixo. No máximo, todo mundo contribuía com uns trocados para o bolo, e ninguém era obrigado a apostar. Como era um pouquinho competitivo, sempre apostava.
Quando ganhava, era uma alegria só. E eu ganhava muito porque sabia blefar e fazer cara de paisagem. Com frequência, conseguia virar o jogo. Ganhei tanta confiança no meu jogo que podia cantar vitória antes do tempo e não me preocupar.
Aí o pessoal foi saindo da nossa mesa, porque diziam: ah, o Arnaldo não sabe jogar.
Quem não sabia jogar eram eles.
Eles temiam jogar comigo porque sabiam que eu era profissa, tá ligado?
Até que chegou uma nova funcionária na nossa mesa – a Carla. Carla tinha começado com as cartelas de bingo e jogo do bicho. Mas virou mestra em pôquer. Fiquei encafifado... como era possível uma mulher ser tão boa jogadora? Eu a desafiei para uma partida de buraco e ela disse que não jogava jogo de criança. Que tal um amistoso de pôquer?
Aceitei, mas perdi. Não entendia de pôquer e estava passando por uma maré de azar. Mas não ia deixar barato.
Comprei cursos, livros, tudo o que tinha a ver com jogos de azar... até paguei um coach para me ajudar a aprimorar minha jogatina. Quando senti que tinha atingido o nível que almejava, decidi desafiá-la para uma revanche.
Coloquei todas as minhas fichas naquela partida: apostei o meu salário do mês. A Carla não titubeou. Ela aceitou a proposta no ato.
Todo mundo da empresa apareceu.
Começamos a jogar. Até que no final, percebi que a vitória estava no papo. Era impossível perder. Dava para ver nos olhos dela que ela estava desesperada. Eu estava preparado para bater com o Straight Flush, mas no final, sofri um revés: ela apareceu com um Royal flush. Fui derrotado. Todo mundo na mesa vibrou com a vitória da Carla. Eu fiquei com a cara no chão. Agora tinha perdido meu salário. Comecei a chorar.
A sorte foi que a Carla levou tudo na boa. Ela disse que não precisava do meu salário. Só queria me mostrar que eu devia me controlar e não ser tão viciado. Disse que eu tinha ludomania.
Eu, viciado em jogo? Imagina! Eu sempre soube a hora de parar.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageFri, 22 Sep 2023 - 48min - 256 - Episode 234: Talking about Products You Buy
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Tem gente que nutre um saudosismo exagerado pelo passado... e eu sou uma dessas pessoas.
Sabe, antigamente eu adorava fazer compras pelo telefone. Tinha um canal na televisão que passava televendas de madrugada. E como eu passava noites e noites e sem pregar o olho, acabava assistindo aquela maravilha. Via tantas bugigangas que prometiam mundos e fundos e ficava encantado. Eu precisava daquilo tudo.
Lembro que uma vez comprei um espremedor de frutas elétrico. Chegou numa caixa enorme. Era um trambolho deste tamanho que prometia fazer um suco em menos de dez segundos. E, de fato, em menos de dez segundos tinha suco pela casa toda. Ele espirrava suco para todo lado e fazia uma barulheira infernal. Tremia como se estivesse possesso e, apesar de não parecer quebradiço, se desfez todo na primeira vez que se espatifou no chão.
Depois foi a vez de um aspirador de pó. Quando desliguei o telefone, fiquei tão orgulhoso – era o primeiro vizinho que abandonava aquelas vassouras antiquadas por um aspirador. Na primeira vez que fui aspirar, não consegui controlar bem a mangueira e acabei batendo no vaso da sala. O vaso caiu no chão e se estilhaçou todo. Eu fiquei desesperado – o vaso tinha sido da minha avó – e, no embalo, acabei pisando num caco, furando meu pé, caindo no chão e me estropiando todo.
Depois do primeiro uso, porém, o aspirador funcionou que foi uma beleza e só queimou porque houve um curto-circuito. Mas era top de linha. Pena que nunca encontrei outro no mercado...
Hoje em dia, porém, não tem mais graça. Antigamente eu sentia a emoção de tirar o telefone do gancho, ouvir o sinal de chamada, discar o número, esperar o atendente do outro lado e ficar “oi, alô, tá me ouvindo? Pode repetir, por gentileza?” e, dias depois, às vezes semanas, receber o produto em casa. Tudo bem que eu acumulei muita tralha assim, tudo caía aos pedaços depois do primeiro mês de uso, mas era divertido. Podiam ser produtos vagabundos, mas tinham personalidade.
Hoje, então? Liga-se o computador, insere-se os dados do cartão e clica-se em “confirmar”. Pronto. No outro dia, o produto chega na sua casa. Se ele tiver com algum defeito, a empresa não demora nem um dia para ressarcir o dinheiro. A publicidade hoje não é mais enganosa como antigamente.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageSat, 02 Sep 2023 - 46min - 255 - Episode 233: How Hot the Weather Is!
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Me mudei para essa cidade porque não gostava do clima da minha terra natal. Era muito fria e desolada e na época do inverno ficava feia de dar dó. Me diziam que eu é que era friorento, mas nunca concordei com essa afirmação.
Na cidade nova, ah, aqui era exatamente do jeito que pedi a Deus. Uma temperatura moderada, com sol o ano todo, o vento soprando para abrandar o calor que porventura aumentasse... e o melhor é que, como não precisava de calefação, ainda economizava uma dinheirama. Joguei pulôveres, suéteres e casacos todos fora.
E fiz bem, mas não esperava o que ia acontecer em apenas uma década.
Primeiro foram os dias sem vento. O calor só era suportável porque o vento amenizava o calorão do dia a dia. Sem a ventania perene, o dia ficava uma brasa. Eu comecei a suar mais e, por consequência, usar menos roupa, até o ponto de não conseguir mais usar uma camisa dentro de casa.
Depois as chuvas atípicas. Era só um chuvisco que caía no meio da tarde. Depois o céu abria e pronto: o mormaço subia e a quentura ficava daquele jeito o dia todo. Era sufocante.
Sair quando o sol estava a pino era uma sentença de morte. O sol esquentava os miolos e a pessoa tinha uma insolação se não saísse logo da rua e fosse para a sombra. E ainda assim era difícil!
Agora, toda vantagem que ganhei vindo para cá se foi. Não sei se por conta do aquecimento global ou se castigo divino, mas agora estou sempre cheio de brotoejas, fico suado feito porco, comprei um ar-condicionado e não vivo sem meu leque para me abanar por aí.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 17 Aug 2023 - 38min - 254 - Episode 232: A Love Poem
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Ah, a poesia, o romance e o amor são coisas boas, não são? Para mim, sim, são, e mesmo com os contratempos e os percalços de que vou falar, ainda sou um amante perdidamente apaixonado e sempre vou ser.
No mês passado, vi que contrataram uma nova menina para o departamento de vendas. Seu nome? Era um nome angelical: ela se chamava Muriel – adorava o efeito avassalador daquele nomezinho diminuto na minha cabeça, o suave redondo dos lábios abrindo-se para dar vez a um toque nos dentes com a ponta da língua, indo findar-se num biquinho mais lindo com o “éu”. Mu-ri-el.
Ai, ai, estou pronto para fazer juras de amor por aquela musa que me deixou caidinho por ela. Vê-la passar de manhã com seu rostinho inchado de sono para o departamento de vendas, apanhar o telefone com um desgosto incomensurável, falar com aquela voz anasalada que amolaria mesmo a mais paciente das fonoaudiólogas... tudo é tão bonitinho que meu coração mole não aguenta vê-la sofrer nesta empresa.
Mas o que posso fazer? Já não é mais de bom tom fazer uma serenata diante da janela, e abrir meu coração para ela nesta empresa, neste ambiente? Não assim, na cara dura. Iam dizer que eu estava botando as garrinhas de fora, e a última coisa que quero agora é chamar atenção para mim – preciso desse emprego.
Então, qual seria a solução?
Ora, eu tenho alguns poemas inacabados que poderia aproveitar. E foi exatamente isso que fiz.
Não eram poemas do tipo “batatinha quando nasce” nem “ó, meu amor”. Eram menos chinfrins que isso. Ouso dizer que eram até bons – não no nível de um Vinícius de Moraes, mas quase. Os meus não são tão açucarados quanto os dele, apesar de serem meigos... meigos como a Muriel.
Bom, mesmo todo poeta que anda nas nuvens tem que colocar os pés no chão de vez em quando. Fiz isso. Como sabia que ela se chamava Muriel e era do departamento de vendas, sabia que ela tinha um e-mail. Fui caçar no diretório da empresa e não deu outra: achei o que queria. Enviei um e-mail para ela com meu poema. Meu poema não dizia nesses termos ignóbeis, mas caso ela estivesse disposta a travar uma amizade colorida comigo, eu estaria dentro. Prepararia nosso ninho de amor e a chamaria de “amoreco” pelo resto da vida.
Como era tímida, a minha querida Muriel! Ficou uma semana sem responder. E pensei: nossa, que tímida. Acho que é hora de uma abordagem mais direta.
E quando cheguei nela e lhe perguntei do e-mail que lhe tinha enviado, ela me olhou confusa: que e-mail? E eu desembuchei tudo. Ela começou a rir e gritou: “ô, Muriel, aqui está o seu admirador.” Um rapaz se levantou e disse: “Oi, tudo bem? Eu sou o Muriel do faturamento. Seus poemas até são bonitinhos, mas já sou comprometido. Fica para uma outra, tá?”
Desde então, continuo um verdadeiro apaixonado, mas fico sempre na minha.
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Dizem que peixe morre pela boca e eu acho que é verdade, sabe?
Quando era criança, minha mãe me ensinou da pior maneira que a gente paga pela língua. Se a gente comete um errinho bobo de chamar alguém de algum nome feio, ora, ora, a punição vem na hora. E sofri muito porque infelizmente sou muito desbocado. Não adianta eu querer me segurar – quando vou dar fé, já disse besteira.
Por isso, aprendi que, quando faço alguma cagada, tenho que assumir a culpa e pedir desculpas. A pior parte é que sempre arco com as consequências, e nem sempre elas são as melhores.
Uma vez eu estava no barzinho com os meus amigos. Na hora de ir embora, o garçom trouxe a conta. A gente tinha combinado de rachar a conta, mas, mesmo dividindo por igual, estava dando um valor exorbitante para cada um. Meus amigos ficaram meio sem jeito, e sem querer escapuliu da minha boca: “Eita, por esse preço, eu queria pelo menos um b****te.” Se arrependimento matasse... o garçom ficou todo errado e eu me desmanchei em desculpas. Claro, tinha sido só uma brincadeira, mas por causa do meu palavreado chulo, todo mundo ficou constrangido. “Foi mal aí, patrão. É que eu estou um pouquinho embriagado, mas juro que de novo não acontece.”
Na outra, num jantar de família, entre vinhos e carnes, minha tia perguntou se eu não ia me casar um dia. Com a idade que eu estava, logo ninguém ia mais me querer. Que velha abusada! Não disse para ela que eu tinha uma namorada. Podia ter dito? Podia. Mas não disse. Na verdade, devolvi na mesma moeda. “E com que idade é que a senhora vai tomar vergonha na cara? Se continuar morando na casa dos meus avós, vão pensar que a senhora é uma vagabunda.” Foi um alarido grande. Minha mãe deu um grito comigo, meus avós deram uma gargalhada, o cachorro latiu, o gato correu e eu pensei: “só falei verdades”, mas uma parte de mim sabia que tinha sido errado. Por isso, eu disse: “Tá, tá, tudo bem, retiro o que eu disse. Desculpe, tia. Foi idiota e impensado da minha parte.” Ainda bem que minha tia deixou para lá. Se ela tivesse feito briga, a gente tinha perdido aquele excelente churrasco.
Depois dessas mancadas, resolvi procurar um psicólogo. Nunca tinha pensado por esse lado, mas talvez eu tivesse algum transtorno e não conseguisse me controlar...
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageFri, 21 Jul 2023 - 44min - 252 - Episode 230: The Seventh-Year Crisis
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Minha esposa sempre adorou umas DRs, mas eu fugia disso como o diabo foge da cruz. Sei que a gente tem que discutir a relação de vez em quando para colocar os pingos nos “i”s e passar tudo a limpo, mas eu nunca fui muito de filosofar. Prefiro vivenciar: depois, se eu tiver algo a dizer, digo.
Mas minha esposa, não. Com ela, tudo tem que ser minuciosamente analisado. E agora que a gente está dobrando a esquina dos sete anos, ela deu para ficar muito mais ressabiada. Acontece uma coisinha de nada e ela já quer se sentar à mesa, colocar nossas questões em pratos limpos e, se eu dou um passo em falso, ela vai logo ameaçando terminar o relacionamento.
Bom, nunca fui o cara mais romântico, mas tentei dar um jeito nisso. Comecei a mandar flores para minha esposa. Comprei o chocolate predileto dela. Até fui deixar o café na bandeja para ela na cama.
Ela ficou logo de orelha em pé.
“Tá tendo caso?” foi a pergunta dela. “Porque homem para agir assim só quando tem outra.”
Eu fiquei pensando: nossa, ela achava que eu podia ser infiel, mas ela era quem tinha fama de namoradeira. Além do mais, sempre fui da opinião de que se for para ter adultério num casamento, melhor é se separar logo. Não vale a pena o desgaste.
Depois daquele balde de água fria, pensei que podia fazer algo para reacender a paixão de nossa relação. Quando conheci minha esposa, ela era fogosa e eu não ficava atrás. E uma coisa que a gente tinha era a espontaneidade. Daí, resolvi ser espontâneo e dei um presente para ela em junho, para comemorar o Dia dos Namorados. Sabe o que ela me disse? “Está vendo? Você nunca ligou mesmo para nossa vida conjugal. Nosso aniversário de casamento é só mês que vem!” Não adiantou eu tentar explicar que era presente de Dia dos Namorados. Ela me deixou falando com as paredes.
Viu só? Eu tentando aqui fazer média com a patroa e a desgraçada ainda vem com desconfiança para cima de mim. Quer saber de uma coisa? Acho que essa tal crise dos sete anos é verdade mesmo. Antes a gente não estava em crise, mas agora a gente está.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 19 Jul 2023 - 40min - 251 - Episode 229: Rearranging Things in the Living Room (and other places)
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Não sou muito de fazer pouco das crenças dos outros. Com essa vida difícil que a gente leva, tem mais é que fazer o que dá na telha. Daqui a pouco a gente já era e o que é que sobrou? Ninguém leva nada para o caixão, não é verdade?
Não sou de fazer pouco caso do que os outros acreditam, mas... tem coisa que passa dos limites.
A faxineira que trabalha na minha casa, a Elisângela, sempre foi muito trabalhadeira e incansável, mas, de uns tempos para cá, anda se metendo com uns negócios enigmáticos... Feng Shui do Chapéu Preto ou coisa assim. Ela me falou que agora daria uma repaginada na configuração da minha casa. Segundo seus novos estudos, o fluxo de energia estava totalmente em desacordo. Por isso que na minha vida tudo ia de mal a pior (olha a insolência! Só não falo nada porque considero ela pacas).
Ela resolveu começar pelo meu quarto. Queria revitalizar a ordem diante do caos que reinava ali — não era um caos, era uma bagunça calculada, porque eu sabia onde estava tudo. Ela disse que a cama estava tampando o fluxo de energia e colocou ela na frente do guarda-roupa, formando uma barricada, supostamente liberando o fluxo. Agora, para pegar minhas coisas na parte de cima do guarda-roupa, precisava trepar na janela se não quisesse subir na cama.
Depois, quem entrou na dança foi a sala de estar. Ela teve a ideia de redecorar o ambiente e moveu o rack da TV para trás do sofá, e o sofá ficou encarando a parede. A mesinha de centro, outrora o charme da sala, foi para o canto, e o aparador que abrigava as bebidas foi parar na cozinha. A mesa lateral, onde ficava o abajur, foi retirada – ela “chamava coisa ruim” – e no lugar ela colocou uma banqueta que dizia ser um amuleto. O abajur foi para o corredor, e ela mandou eu comprar uns pufes para “equilibrar” o chi da sala. A poltrona também vazou – não sei o que ela fez com esse móvel, mas no lugar onde a poltrona ficava, ela pôs uma cadeira capenga que precisa de um calço para não ficar bamba.
E sabe o que ela ainda me fez? Posicionou a espreguiçadeira da varanda na cozinha, perto da geladeira, porque ia ser melhor para mim. A cozinha nem era tão espaçosa e ainda era abafada. Eu perguntei: “Elisângela, e eu vou ficar olhando para a geladeira quando quiser descansar? Que ideia mais descabida!” Ao que ela me retorquiu: “Se eu tivesse uma geladeira em casa, ia querer ficar olhando pra ela o dia todo.”
E foi nesse momento que entendi aquele fuzuê todo e decidi dar um aumento para a Elisângela.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 22 Jun 2023 - 47min - 250 - Episode 228: Washing Clothes
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O Pablo sempre morou com a mãe e ela idolatrava aquele cara. Fazia tudo para ele: levava a comidinha onde ele estivesse, entrava no quarto dele para procurar roupa encardida e manchada para lavar, passava a roupa e ainda fazia a manutenção do ferro de passar... aquela mulher era uma santa. Imagina que até mesmo as cuecas freadas que o desgraçado atirava no chão depois de voltar do futebol ela lavava. Nem para colocar as roupas no cesto...
Até que um dia a mãe do Pablo deu a volta por cima. Ela se casou de novo, dessa vez com um viúvo tarimbado que sentiu o cheiro de vagabundagem de longe. Pablo ficou atormentado. Arranjou treta com o padrasto e, coagida a escolher, a mãe resolveu expulsar o filho: afinal, ele tinha trinta anos, ela setenta: ela estava mais perto de bater as botas do que ele e tinha que aproveitar o tempo que lhe restava.
Pablo teve de se virar sozinho. E não deu muito certo.
Veja só. Todo mundo sabe que, para a roupa ficar cheirosa e macia, tem que usar amaciante. Antes de colocar a roupa na máquina de lavar, tem que separar a roupa colorida da branca. E para tirar mancha pesada de roupa branca, o alvejante é o melhor aliado... Tem gente que usa água sanitária no lugar – o que, na minha concepção, é arriscado, porque se uma gotinha disso cair numa roupa colorida, ela desbota e você perde a peça.
Na primeira lavagem, o que é que o Pablo faz?
Despeja meio litro de “Qboa” numa trouxa de roupa e ainda mete sabão em pó. Resultado: ficou parecendo roupa de circo; camisa branca ficou rosa, camisa rosa ficou branca e foi uma calamidade.
Também tem roupa que tem que lavar à mão, e roupa que não pode secar ao sol. Uma vez entrei na área de serviço da casa do Pablo e não vi secadora, então ia ter que usar o varal mesmo. No dia que estive lá, as roupas estavam no varal, mas nenhuma tinha prendedor. Resultado: bateu um vento, derrubou tudo no chão de terra e precisou lavar de novo.
Por fim, Pablo resolveu comprar uma secadora para não ter esse problema. Como queria usar as roupas logo (tinha uma festa), aumentou a temperatura o quanto pôde e pimba! As camisetas encolheram e viraram baby-look!
Agora que a tragédia estava feita, Pablo resolveu entregar os pontos: procurou uma lavadeira na vizinhança e lhe pagou uma nota preta. Se não podia ter uma mãe de graça, pagaria pelo privilégio.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageFri, 16 Jun 2023 - 54min - 249 - Quick Announcement about Podcast ScheduleFri, 16 Jun 2023 - 02min
- 248 - Episode 221: A Husband Goes Shopping
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Talvez eu não seja o melhor dos maridos, mas tampouco sou um dos piores. Não que eu seja essas mil maravilhas – sei dos meus defeitos e tento saná-los, mas tem vez que é difícil arrancar o mal pela raiz.
Veja só a minha relação com minha esposa.
Ela acredita numa coisa chamada “terapia de varejo”. Confesso para você que para mim esse termo é inédito; é que eu sou das antigas e essas coisas modernas de gente jovem sempre me escapam. Mas, voltando ao assunto, essa “terapia de varejo” nada mais é que aquela extravagância de ir a uma butique, encher o sacolão de roupas sem nem ir ao provador e depois passar tudo no cartão.
Eu bem que aceitaria esse desbarato – com essa vida de cão que a gente leva, a gente tem que fazer como disse a Marta Suplicy –, mas é que a gente já está numa situação ruça. Mais um pouquinho e a gente fica no fundo do poço. Minha esposa reclama, diz que eu estou “cerceando” a liberdade dela usar o dinheiro da casa. Concordo, mas o pior cego é aquele que não quer ver.
Bom, depois da última, porém, vi que ela ficou combalida e resolvi ver a questão pelo lado dela. Talvez houvesse alguma coisa que eu não entendesse muito bem. Quem sabe eu até visse alguma graça na caça ao tesouro nas vitrines das lojas do shopping? Fui lá, com um daqueles sacolões que minha esposa leva para as compras e, em vez de me deixar ser acossado por um vendedor, fui lá e acossei o primeiro que vi, em busca de dicas para escolher uma roupa que me caísse bem. O vendedor parecia apreensivo – não é todo dia que aparecia um homem de meia-idade, careca e bigodudo tão ávido por fazer compras –, mas mesmo assim me ajudou a escolher as roupas dos cabides e a experimentá-las. No final de um dia longo de compras, me dei conta da euforia que era comprar vestuário.
E desde então, minha esposa é quem tem que me segurar, senão vou à loja e compro tudo.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 27 Apr 2023 - 51min - 247 - Cultural Portuguese 001: São João
Eu te dou as boas-vindas a nossa nova série contínua de episódios chamada Português Cultural. Em cada episódio nós discutimos aspectos culturais diferentes do Brasil e de outros países de fala portuguesa.
Para saber mais sobre o nosso programa de educação continuada, clique no link a seguir: https://portuguesewitheli.com/plg Com ele, você tem acesso às transcrições completas dos episódios de Português Cultural e de outros episódios do nosso podcast.
No nosso episódio de hoje, falamos sobre o São João. Essa festa típica do Brasil, especialmente do nordeste brasileiro, está para acontecer já no mês de junho. Se prepare!
As citações mencionadas no texto são de Sola no Mundo:
https://solanomundo.com.br/a-fogueira-em-yaathe/
“A fogueira são os homens, as mulheres, as crianças e os anciões. Somos toda a base de um só elemento que transmite uma força para toda a aldeia. Os índios mais velhos têm mais conhecimento, mas precisam dos índios mais novos, para realizar as coisas. Somos todos, a nosso modo, uma força só.”
“A madeira são os homens, que dão estrutura à aldeia. As mulheres são o fogo, que se unem a eles. Já as cinzas, são anciões, que não precisam fazer nada, mas tem a função vital de manter a chama acesa. Ah, e essa fumaça, que incomoda seus olhos…é ela que leva todos os pensamentos dos que fazem parte dessa roda para o grande espírito.”
As músicas das vinhetas foram retiradas do YouTube e são tradicionais no Brasil. Se for o detentor dos direitos autorais, por favor, entre em contato caso queira que eu as retire.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageSun, 21 May 2023 - 30min - 246 - Episode 220: A Strike
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Está rolando um burburinho de que vão deflagrar greve na semana que vem aqui na empresa. Olha, trabalho aqui faz dez anos e acho que é a primeira vez que vejo tanto empregado descontente. As queixas são diversas, mas a maioria é sobre a capatazia – os capatazes aqui têm parte com o coisa ruim, porque eles não estão para brincadeira. Se eles forçam mais um pouquinho, o negócio vira tortura. O grupo ligado ao sindicato fez reivindicações de salários e melhores condições de trabalho, mas a chefia fez vista grossa e os donos estão pagando para ver.
Bom, eu não sei se vou aderir ao movimento. Sei que seria muito bom cruzar os braços e fingir que ia para a assembleia para decidir os rumos da paralisação, mas, sinceramente, acho que vou permanecer no contingente que fica obrigado a continuar trabalhando. Os meus chefes não iam ser loucos de me constranger, não com o sindicato fungando no cangote deles, mas mesmo assim não me sinto bem nessa de pressionar os patrões. Bom, eles não merecem minha compaixão, mas acho que a maneira como os grevistas querem protestar...
Agora estão chamando o movimento de “greve criativa”: vão fazer dança na rua, performances teatrais, saraus literários e o escambau. Ainda nesse embalo, pretendem até fazer danças coreografadas... vê se pode! Eu não vou me aporrinhar com uma greve assim... na minha época, os piquetes vinham armados e mandavam tudo parar. Hoje vão fazer festinha e dançar ciranda. Ah, me poupe, viu?
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 20 Apr 2023 - 46min - 245 - Episode 219: Talking about a Talented Person
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Minha filha é muito talentosa. Claro que ela não chega nem aos meus pés quando eu tinha a idade dela, mas o instinto musical que ela tem vai transformá-la numa craque no futuro.
E sabe... na escolinha dela agora eles vão ter um show de calouros. É a situação perfeita para mostrar ao mundo que minha Marinazinha tem o dom do canto, que se diferencia e muito daquele monte de fedelho medíocre que não leva jeito para nada. E minha filha é habilidosa também com os pés: sapateia com tanta aptidão que até impressiona. Claro, não está nem à altura do que eu podia fazer quando não tinha artrite, mas ainda sou muito viva.
Pensei que ninguém naquela escola desse nem para começo de conversa – o que não é nenhum demérito, já que minha filha tem traquejo com várias coisas. Mas disseram que a filha da Doralice, uma tal de Luísa, sabe dançar... e ainda conhece os jurados todos.
Aí agora minha filha não quer competir. Ela diz que perdeu a graça, porque a Luísa vai ganhar de lavada e ainda vai dar um show daqueles. Imagina só, minha filha, aquela menina bisonha ganhar de você. Ela podia ter os jurados todos do lado dela, porque a plateia vai estar sempre com você. Mas, já que pintou a dúvida, vamos fazer umas aulinhas, só para você se capacitar e tirar essa de letra.
E aproveitando eu vou falar com minha prima que sabe fazer mandinga e mandar ela jogar uma urucubaca nessa tal de Luísa.
Só para garantir.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 13 Apr 2023 - 43min - 244 - Episode 218: Dangerous Driving
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Nunca aprendi a dirigir... e legalmente sou impedido de dirigir porque sou daltônico. Por isso, acabo tendo de me confiar nos dois motoristas da minha casa quando tenho que tratar de algo urgente, que requer mais cuidado.
E hoje tenho algo que precisa de minha atenção.
O primeiro dos meus choferes é meu pai. Ele é adepto da direção defensiva, mas acho que ele sobrestima esse aspecto: meu pai dirige com uma vagareza que, mais de uma vez, já teve de ouvir uns impropérios na rodovia, porque estava indo a passo de tartaruga. E ai de quem reclamasse: escutava logo um “devagar se vai ao longe” e depois um grunhido de raiva.
A segunda chofer é minha mãe. Mamãe nunca foi de ir com calma: com ela, o ritmo é alucinante. Ela tem um pé de chumbo e ainda é superagressiva no trânsito. Se um carro está indo devagar demais mais adiante, ela buzina feito doida e força a ultrapassagem. Na hora de fazer um retorno, ela pisa fundo e faz o pneu cantar. Se ela sabe que existe uma rota alternativa para chegar a qualquer lugar, minha mãe não se importa de fazer barbeiragem – mesmo que arregace o carro todinho, ela dá um cavalo de pau e corta caminho. Quando alguém reclama, dizendo que mamãe é muito imprudente, ela só diz: “é hora de apertar os cintos, seu molenga!” E dá uma de Ayrton Senna.
Ah, e se eu disser que estou apavorado e quero descer, ela freia bruscamente e me expulsa do carro: se eu quiser, que eu vá de ônibus.
Bom, dado que o compromisso de hoje é urgente... mas que vou sair ganhando se eu chegar vivo... acho que vou com meu pai mesmo.
Afinal, de grão em grão, a galinha enche o papo.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 06 Apr 2023 - 43min - 243 - Episode 217: Talking (a little) about Dancing
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O amor pode não mover montanhas de fato, mas ele faz a gente se meter em cada uma...
Veja só. Hoje tenho quarenta e cinco anos. Nunca tive muita *destreza* nem *graça* nos meus movimentos. Até tentei *enveredar* pelo futebol quando criança, mas meus coleguinhas logo perceberam que eu era *perna de pau* e me *enxotaram* do time. Sabiam que meu talento mesmo era para os livros e para a leitura e eu virei *rato* de biblioteca por vocação e falta de opção.
*Como era de se esperar*, fui crescendo e ficando *troncho* e *estabanado*. Nunca segurei bebê por medo de derrubar a criança no chão. A única *cadeira* que já mexi na vida foi a cadeira do meu escritório, porque meus quadris são inflexíveis *que é uma beleza*. E se eu *requebrar* “até o chão”, fico *acamado* por uma semana.
Mas outro dia, no caminho do trabalho, vi uma mulher dançando na rua. Era um desses showzinhos que o pessoal organiza nas praças, coisa informal mesmo, só para ganhar uns *trocados* e fazer os *transeuntes* baterem palmas ao ritmo da dança.
Ela era uma verdadeira *pé de valsa*. *Rodopiava* e *dava piruetas*, pulando para o lado e para o outro, como se a praça fosse *uma pista de dança*. As pessoas a acompanhavam, *sacudindo o esqueleto*, filmando tudo com celulares e *ovacionando* a dançarina ao fim da dança.
Quando ela terminou, veio andando com aquele *gingado* para cima de mim e me tirou para dançar. Meu Deus, fui ao céu e voltei, mas foi por dois motivos: primeiro, tive *uma tontura* por causa de tanta emoção. Meu coração batia *descompassado* de tanta alegria. Mas, por outro lado, como eu era *travado*, magro que parecia *um varapau*, não conseguia balançar muito. Ela disse: “*se solta*, meu querido!” e eu, todo *destreinado*, me soltei o quanto pude... fiquei parecendo *uma marionete*, mas consegui seguir a dança até o final.
As pessoas ao redor foram simpáticas e bateram palmas para a gente. Eu não bateria...
Depois da dança, ela me passou o número do telefone dela e me convidou para voltar ali e dançar. E agora estou eu aqui, na sala de espera de uma escola de dança, para me matricular. Eu, que nunca dancei na vida! Se amor não move montanhas, ele faz ao menos um rato de biblioteca como eu começar a se mexer.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageFri, 31 Mar 2023 - 41min - 242 - Episode 216: Describing Someone's Face
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Minha namorada e eu queríamos apimentar a relação. Afinal, a gente caiu um pouco na mesmice depois de namorar quase dez anos. Por isso, concordamos que tentaríamos surpreender um ao outro. Semana passada ela chegou em casa toda serelepe e me mandou vendar os olhos, porque ia me levar para um lugar especial.
Entrei no embalo e lá fomos nós. Saímos de carro. Hum, será que ela ia me levar a um motel do bom? Já fiquei logo empolgado. Estava preparado para uma surpresa daquelas, menos a que vi quando tirei a venda dos olhos:
Estávamos no calçadão da praia, na frente de um monte de retrato feito à mão. Um senhor baixinho estava de lápis e papel na mão.
— Vamos fazer nosso retrato! — ela disse com a maior empolgação enquanto eu sorria amarelo.
O moço pediu que a gente sentasse ali enquanto ele desenhava. A Clara ia na frente; eu ficava esperando. Quis ficar olhando o homem desenhar, mas ele disse que não podia. Tudo bem.
O desenho não ia ser difícil. A Clara tinha um rosto bonito, mas simples. O rosto dela era ovalado, um pouco pontudo no queixo, mas proporcional. Os olhos eram um pouquinho apertados e separados também. Engraçado, eu nunca tinha reparado em como os olhos dela eram castanhos! O nariz arrebitado e o maxilar levemente pronunciado combinavam com as bochechas rosadas que ela tinha. Tinha também lábios carnudos e dentes alinhados.
Eu realmente tinha sorte.
Quando chegou a minha vez, fiquei pensando: como eu ia ficar no retrato? Sei que tenho um nariz adunco e minhas narinas são um pouco grandes demais... também tenho umas entradas aqui – sinal de calvície incipiente – e meu queixo é pontudo. Mas não sou horrendo feio assim, né? Meus olhos puxados dão um charme enigmático e minhas sobrancelhas finas não ressaem no rosto... meu cabelo, o pouco que tenho, emoldura meu rosto direitinho. Só tenho algumas espinhas e, por conta desses anos dentro de casa, acabei ficando cheinho e ganhando papada, mas nada que assuste ninguém.
E finalmente o retratista acabou o meu retrato.
— Eu quero ver o meu!
O retratista fez que não com a cabeça — tinha que pagar primeiro. É como dizem: dinheiro na mão, calcinha no chão. Justo. Não é como se ele quisesse nos depenar: o trabalho já estava feito. Pagamos e, na hora de ver, meu Deus...
Minha namorada ficou uma aberração. Além de ser tudo o contrário do que era, ela ainda ficou com sobrancelhas grossas e peludas, com uma espinha protuberante que a gente nem tinha notado. O rosto dela ficou quadrado.
No meu caso, fora a barba rala que eu tinha no dia, fiquei parecendo uma obra de arte abstrata.
Queríamos brigar com o retratista, mas eu ri tanto que acabei ficando com os retratos. Bom, a surpresa não foi exatamente o que ela queria, mas ficou do jeito que eu gostava.
Episode posted with two weeks' delay --- originally should be aired on March 23
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 23 Mar 2023 - 52min - 241 - Episode 215: Finding Your Soulmate Online
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Existe um boatode que o amor surge quando menos se espera, mas, no meu caso, ele só vem quando eu menos preciso. Já encontrei toda espéciede gente que você possa imaginar e nada de encontrar minha outra metade da laranja. Por isso, resolvi apelar para tudo que era coisa: mandinga, simpatia e, mais recentemente, tecnologia.
Logo no começo, fiquei empolgado com a quantidade de opções disponíveis. Mas era como encontrar uma agulha no palheiro. Tinha cada perfil... teve uma que dizia vir de outro planeta, outra que fazia retratos de moscas, e ainda mais uma que colecionava unhas. E, mesmo fazendo uma triagem cuidadosa, ainda descascava cada abacaxi... no aplicativo, era possível dizer os critériosque o parideal devia preencher. Era possível afunilaras escolhas e estreitaras opções, para separar aquelas que prometiam das que eram prescindíveis. Era separar o joio do trigo, por assim dizer.
Levou tempo e queimei muita pestana na frente do celular lendo as mensagens da minha caixa de entrada, até que...
Até que conheci ela – a Juliana. Era uma moça bonita e, em todos os sentidos, normal. Ela realmente mexeu com meu coração. Tinha um sorriso bonito e um jeito afetuoso– me afeiçoei a ela assim que trocamos a primeira mensagem. Por isso, quando marcamos o encontro, eu estava com o coração na mão, na esperança de que ela fosse a pessoa que sempre procurei.
Combinamos de nos encontrar em um restaurante, um lugar neutro. Na hora da conversa percebi que tinha sido amor à primeira vista, mas não queria ir com muita sede aopote – já tinha passado por cada uma e estava vacinado.
Então fomos conversar.
Apesar de ser mais velha que eu, ela gostava das mesmas séries que eu gostava. Apreciávamos os mesmos cantores... a gente até tinha preferência pela mesma pasta de dentes! Finalmente, encontrei a minha alma gêmea...
Mas aí aconteceu um negócio que me deixou cabreiro. Primeiro, ela era adotada – tinha sido deixada numa igreja numa cidadezinha. E minha avó tinha dado uma filha para adoção. E de onde ela era? Era conterrâneade minha avó, lá de Quixeramobim. Não, era coincidência demais para passar assim batido.
Então, para tirar a teima, a gente decidiu fazer um exame de DNA, tipo do programa do Ratinho. Mas não ia ter nenhum fuzuêdaquele tipo. Se ela fosse minha tia, cada qual ia seguir o seu caminho. Se ela não fosse minha tia, a gente ia deixar a coisa se desenrolar.
Entre a data do exame e o resultado, porém, Juliana acabou conhecendo outro cara no mesmo aplicativo que a gente estava usando. Fiquei arrasado– não imaginei que ela fosse tão leviana... mas também pudera: conheci ela num aplicativo e fiquei pensando que ela ia esperar sentada até o resultado sair.
O bom é que, pelo menos, ela não era minha tia. Nunca que eu ia querer ter aquela traíra na minha família.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageFri, 17 Mar 2023 - 1h 02min - 240 - Episode 214: Business Plan
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Dizem que eu vivia nas nuvens, mas discordo: sempre tive tino para negócio e soube que era um empreendedor nato. Quando criança, vendia minha merendapara comprar brinquedo, e revendia o brinquedo para comprar mais comida, mas sempre acabava ficando sem brinquedo e sem comida.
Na minha adolescência, encabeceium negócio de cuidados com cavalos. Sempre ouvi dizer que quem tinha cavalo era rico, então, com clientes ricos, eu ia arrebentar a boca do balão. Meu faro sempre foi muito aguçado. O problema com esse plano foi que ninguém tinha cavalo no meu bairro. Operei no vermelhopor um bom tempo e, sem clientes, o negócio degringolou.
Então fui me metendo em furadaatrás de furada – abri uma loja de guarda-chuvas em Cabaceiras, minha cidade natal... era a cidade onde menos chovia no Brasil. Pensava: ninguém vai tentar a sorte e vender guarda-chuva aqui, então só vão poder comprar na minha mão. Vou vender pelo preço que quiser.
Mas tinha uma falha no meu plano de negócios. Não levava em consideração que os clientes já podiam ter um guarda-chuva em casa. Meu estoque ficou todo encalhado e tive que vender tudo a preço de banana. É de amargar, viu?
Depois abri uma locadorade patinete elétrico... em Salvador. Eu não contava que aqui tivesse tanta ladeira, então um cliente alugava um patinete hoje, se arrebentava ali na frente e depois vinha chiarno meu ouvido, dizendo que os patinetes eram ruins.
Então, saindo desse ramo de mercadorias, deliberei sobre que caminho tomar, porque queria algo mais certo, para plantar e colher. Resolvi ingressarno mundo da educação. O público-alvo? Empreendedores de primeira viagem. Como eu já tinha feito minha lição de casa– fali vários negócios – sabia exatamente o que não fazer para ter sucesso. Ou seja, era como se eu tivesse uma bola de cristal. Com certeza, eu ia quebrar a banca. Só precisava de um investidor para abraçaressa ideia.
Coloquei um anúncio na internet. Primeiro não apareceu ninguém. E os meus investimentos em publicidade só me amealhavamdívidas e mais dívidas, e você sabe como é que é com cartão: é uma bola de neve, basta você errar a mão uma vezinha só e lá se foi todo seu dinheiro. Mas não ia desistir. Não tinha fracassado tanto na vida para nadar e morrer na praia.
Quando eu estava quase desistindo, um cara me mandou um email. Tinha se interessado pela ideia. A gente se reuniu e ele me deu as ideias: ele tinha um modelo de negócios diferente. Ele trabalhava numa empresa especializada em falências e queria abrir uma consultoria. E se tem alguém que entende de falências, esse alguém sou eu. Finalmente vou virar o jogo!
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The gesture I talked about is even part of our vocabulary in Brazilian Sign Language! See it here: https://www.youtube.com/watch?v=2MGv7XNheJc
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Sou novato na empresa e não me meto em negócio de ninguém. Como dizemos lá de onde eu venho, “gente de fora não ronca.” Mas parece que aqui ninguém sabe o que é respeitar a privacidade dos outros e retribuir o respeito – vasculharam minhas gavetas e descobriram minha coleção de gibis que trago para o trabalho.
Primeiro, o Almir, meu chefe, me questionou se eu estava lendo as revistas na surdina e descuidandodo trabalho. Eu refutei, claro. Não ia cometer um desatino desses, ainda mais sendo novato. Ele acreditou – afinal, ele não ia ficar procurando chifre em cabeça de cavalo. E meu trabalho seguia no mesmo passo de antes...
E eu não lia mesmo na hora do trabalho. Lia no intervalo. Mas, é... lia escondido, sim.
Veja só o meu lado. Gosto de ler revistinhas em quadrinhos. Todas essas populares e outras menos conhecidas. As pessoas pensam que adulto que lê revistinha é tudo xucro, que não tem alcance mental para coisas mais sofisticadas, e que a qualidade dessas revistas é sofrível. Na verdade, são obras de arte, mas nem todo mundo consegue atinarque histórias em quadrinhos podem ser tão complexas como aqueles tijolosempoeirados de biblioteca cheios de frases pomposas. O enredo é intrincadoe nem sempre é possível elucidar a trama antes da última página. É um desafio mental.
Porém, nada disso servia de nada, porque, quando meus colegas descobriram, começaram a fazer troça de mim. Ficavam dizendo que era livrinho de “quiança” e depois ficavam fazendo “gugu-dadá”. O primeiro ímpeto foi de dizer cobras e lagartospara eles, mas deixa estar. O que é deles está guardado.
Posso ter pouco tempo aqui, mas já sei os podres de cada um. O José vive se queixando de prisão de ventre, mas não sai do banheiro. Aliás, dava até para pensar que ele trabalhasse no toalete. A Carla finge que trabalha, mas outro dia peguei ela no pulo – estava jogando Candy Crush na outra aba e não conseguiu disfarçarquando passei perto do computador dela. E o Nelson – aquele mão-leve vai montar uma loja de materiais escritório com o tanto de papel e caneta que ele furtadaqui.
Mas não vou gastar saliva à toa. Já dei o recado de que eu sei da mamata que está rolando e que, se o chefe me perguntar, eu não vou me fazer de rogado. Se achavam que eu ia esmorecersó porque eles têm essas ideias preconcebidas sobre minhas revistas, eles cometeram um engano federal. Vou sempre manter aceso o gosto pelos quadrinhos.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageSat, 04 Mar 2023 - 1h 03min - 238 - Episode 212: A Pay Raise that Backfired
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Quando criança, sempre me diziam: Luis fala bonito, vai ser gente na vida. Bom, não acho que tenha virado gente, mas continuei falando bonito. E por isso galgueinovos postos no campo de vendas.
Já trabalhava na mesma empresa havia quatro anos. Estava convicto de que precisava... precisava vírgula, eu merecia uma promoção. Já estava cansado de ser posto de molhoe me comportar como se fosse acanhado, só para cair nas graças da chefia... mas não dava para continuar daquele jeito.
Para conseguir a tão desejada promoção e sair da fossa, precisava mobilizar meus colegas. Se eles vissem como era injusta a minha situação, com certeza se empenhariam em me ajudar. Mas fora um ou outro que ainda acreditava nas histórias da carochinha, não havia ninguém que engolisse os meus argumentos, por mais que eu confiasse no meu taco.
Então tive de partir para cima. Mas, claro, não ia partir para cima do chefe imediatamente. Precisava de algum estratagemapara conseguir comover aquele coração de pedra. Ele era completamente refratário a pressões e nenhuma lisonjachegaria a ele. Então comecei a mexer meus pauzinhos. Falei para um colega língua de trapo que minha família estava em dificuldades financeiras, e sabia que logo a conversa chegava ao chefe... Quando meu chefe soubesse que minha pobre mãezinha estava com as horas contadas, ele ia morder a isca e me dar uma promoção.
Bom, a conversa chegou mesmo, mas o chefe se manteve impassível. Apenas disse que nós tínhamos plano de saúde. Se quisesse, que eu fosse buscar ajudar.
Droga. Tinha que partir para uma abordagem mais direta. Por mais arguto que fosse, não sei se o convenceria, mas não podia ficar em cima do muro, porque arriscava ficar de fora, e sabia que atendia todas as expectativas da empresa. Então fui falar com meu chefe diretamente. E falei grosso.
- Se eu não receber uma promoção, vou sair da empresa.
Meu chefe apenas me olhou incréduloe não parecia nem um pouco açodado em me dar uma promoção. – Então você quer sair de livre e espontânea vontade? Vamos sentir sua falta, mas, se assim for, que assim seja.
E foi assim que perdi meu emprego. Acabei metendo os pés pelas mãos.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageSun, 26 Feb 2023 - 52min - 237 - Episode 211: Carnaval Love
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Depois de quase três anos sem carnaval, finalmente vou poder cair na folia. É algo que me alegra muito, poder sair, soltar a franga, dançar as marchinhas de carnaval no bloco das Antigas e pular horas a fiocom os trios elétricos. Haja fôlego! Ainda posso assistir ao desfile das escolas de samba – o que é um privilégio – e conhecer gente nova nos camarotes e nas arquibancadas...
Sim, conhecer gente nova é algo que também não faço há um tempão. E esse vai ser o meu primeiro carnaval solteiro, depois de quase quinze anos junto com minha ex, a Leonora. Lembro que, quando ela me deixou, eu fiquei fora de mim – o chão me faltou, eu não sabia o que fazer. Quis chorar a noite toda, mas não chorei, porque fiquei aturdido...
Mas chega de lembrar de coisa ruim, não é mesmo? Agora estamos aqui, e mesmo não sendo mais jovem de corpo – já não aguento mais uma noitada como aguentava nos meus anos dourados – ainda sou jovem de espírito. Ainda dou para o gasto. Por isso, no carnaval, decidi que ia pintar e bordar.
Fui a uma festa à fantasia que estavam organizando lá no condomínio. Sou um poucoretraído, mas pensei que era uma boa chance de mudar essa timidez arraigada na minha personalidade. Decidi me vestir de unicórnio. Duvidava que alguém mais tivesse cara de se vestir daquele jeito — nem eu mesmo sei como fiz aquilo, mas fui. E dei sorte.
Conheci uma beldade fantasiada de galinha d’angola. Ela tinha pinta deartista ou coisa assim. Trocamos olhares, puxei conversa e logo estávamos agarradinhos. Depois de uns selinhos, ela pediu licença para ir ao banheiro. Minha nossa. Que mulher! Haja coração! Todo aquele meu amor represadodesde que minha ex tinha me deixado apareceu ali e acho que me apaixonei de imediato. Eu estava preparado para me declarar para ela. Fui procurá-la.
Mas não devia ter ido.
Aquele meu momento fugaz de alegria se tornou uma tristeza só: ela estava dando uns amassos num cara fantasiado de... unicórnio! É, parecia que eu não era o único unicórnio da festa... sai com a cara no chão, me lembrando só que no carnaval vale tudoe que ninguém é de ninguém.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageFri, 17 Feb 2023 - 54min - 236 - Episode 210: Proverbs to Speak Well or Badly
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Te conto como me contaram, porque depois que cada um seguiu seu caminho, eu não soube mais da Daniela. Então, o que te dou é de tabela, mas minhas fontes gozamde minha inteira confiança.
Pois bem. Daniela era uma guriaque morava no meu prédio quando eu era adolescente. Até tentei me aproximar dela, mas ela logo me jogou na cara que não se misturava com gente da minha estirpe. Lembro como se fosse hoje: eu, todo desinteressado, querendo apenas estender a mão a alguém que parecia tão só... não era nada, apenas uma troca de gentilezas, mas aí ela pegou e me deu a real. Ainda tentei argumentar, mas ela foi logo dizendo:
— Quando um burro fala, o outro baixa a orelha.
E eu que nem acalentavanenhuma ideia de romance com ela...
Mas isso até que veio em boa hora, porque ser amigo dela ia ter sido ideia de jerico. Daniela não dava ponto sem nó. Ela tinha ficado amiga de Roberta, a menina mais intragável do nosso prédio, porque Roberta era amiga de Juliano, um rapaz que, diziam as más línguas, era Zé Droguinha... mas era filho de um advogado importante. E Daniela tencionavaestudar Direito.
Ela conseguiu agarrar aquele lá e lavou a burra, ou pelo menos de saída. Porque, se um dia aquele homem foi para ela uma tábua de salvação, pouco depois se mostrou uma dor de cabeça sem solução. O pior para ela foi que o sogro não quis apadrinhar ela na profissão, dizendo que ela só estava se escorando no seu filho.
Daniela procurou quem lhe tomasse as dores, mas, depois de ter recusado a amizade de todo mundo que lhe podia oferecer algo de bom, ela estava só. Ninguém queria fazer essa caridade a ela.
Mas isso era o que parecia por fora. Nos bastidores, Daniela tinha maquinado todo um plano — o alvo não era o bobo do marido que só olhava para o próprio umbigo, nem o sogro tonto que se achava um benfeitor e tantopor ter permitido que ela se casasse com o filho. Ela tinha vistasno sócio do sogro, um homem chamado Miguel, que era trinta e cinco anos mais velho que ela e que tinha a fama de ser extremamente abnegado e altruísta para commulheres jovens e bem conservadas.
Pior é que ela nunca nem deu bandeiradisso...
Como eu sempre disse, macaco velho não mete a mão em cumbuca. E essa história não é maledicênciade quem tem dor de cotovelonão. É só para mostrar que se tem que ter olho vivo e agarrar as oportunidades, porque pensando morreu um burro.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 09 Feb 2023 - 1h 02min - 235 - Episode 209: Moving House
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Sempre quis morar numa casa maior, mas minha esposa se opunha, porque era um gasto a mais que não precisávamos. Então nós combinamos que só íamos nos mudar para uma casa maior quando nosso primeiro filho nascesse. Como o pequerrucho estava para nascer, tinha chegado a hora.
Encontramos um apartamento de que gostamos e já fizemos a vistoria. Assinamos o contratopara um ano e tudo já estava marcado, quando apareceu um probleminha. Tínhamos que empacotar e encaixotar tudo e depois definir como levar tudo para a nova casa.
Primeiro o transporte. A tia da minha esposa tem uma picape velha, e minha esposa disse que ela lhe emprestava o veículo. Era grande, mas não era nenhuma caminhonete, então além da gente ter que erguer peso e baixar peso, ainda vai ter que rezar para que a picape não arrie com a carga.
Propus então que contratássemos uma empresa de mudança. Era uma ideia que me rodeava havia um tempo. Além da transportadora cuidar do óbvio, que era o transporte, ainda podia ajudar na arrumação.
Minha esposa ficou dando tratos à bola até que, por fim, disse que tinha uma alternativa melhor. Ela ia chamar a galera dela no dia da mudança. Ela preparava um almocinho para todo mundo, e eles com certeza iam socorrer a nós dois nesse momento de precisão.
Aceitei de muito malgrado, mas aceitei. Ia fazer o quê?
Depois, as embalagens. Comprei plástico bolha, fita adesiva, caixa de papelão, caixotes e outras coisinhas para armazenartudo em segurança. Era tarefa descomplicada, dava para eu mesmo fazer. Entretanto, minha esposa se meteu no meio. “Mas ainda não pode guardar nada! A gente vai continuar morando aqui até dia vinte!” Tudo bem, fazia sentido, mas resolvi deixar tudo espalhado do jeito que estava – caixas, fitas – para ficar em ponto de bala. Aproveitei para ir guardando aquilo que não tinha serventia. Assim que chegasse o dia, pã, começávamos imediatamente e teríamos menos trabalho.
E por fim o desligamentodos serviços. Pedi para cancelarem a internet, porque íamos mudar de casa e já tinha solicitado a mudança do endereço de correspondência.
Estava tudo prontinho, perfeito mesmo, até que, na última hora, foi um desmarca daqui, foi mal dali e ninguém veio. E era o último dia do nosso contrato na nossa casa atual. Então tive de correr da perna. Foi um guarda que guarda, embala que embala, liga para a tia para pegar a picape, carrega e descarrega e conseguimos terminar tudo a tempo. Ficou um bocado de coisa para trás e ficou também a lição – da próxima, faço eu do meu jeito, e minha esposa não vai mais fazer das suas.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 02 Feb 2023 - 47min - 234 - Episode 208: Hiking in the Chapada Diamantina
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Não é de hoje que digo que “quem quer, dá um jeito; quem não quer, dá uma desculpa.”
Tenho dois amigos, Leonardo e Celina, e são como unha e carne desde nosso tempo de escola. Hoje, trabalhamos os três juntos, mas Leo e Celina são mais próximos. Eles decidiram que, nas próximas férias, iriam fazer trilha na Chapada Diamantina.
Celina sempre foi a certinha da turma e tratou logo de reunir os suprimentos da viagem: foi ao mercado e comprou um fogareiro para fazer a comida, cantispara levar o que beber, repelentes (como Celina costuma dizer, “modeos mosquitos”), lanternas se pernoitarem por lá, barracas, um par de tênis novinhos em folha e outras bugigangaspara facilitar a vida na hora H. Celina queria entrar em campo sem titubear.
Já Leonardo olhou para aquilo tudo e achou divertido. “Celina estava realmente com a corda toda,” ele pensou, mas não comentou nada. Por ter um porte atlético e ter noção de como era a trilha, pois já tinha visto vídeos de trilhas antes, decidiu levar na maciota. Não era tão aguerrido como Celina, e nem achava que precisava ser, porque, afinal, era só... o quê, um ou dois dias? Essa estava no papo.
No dia da viagem, estavam os dois na rodoviária – ele sealongando(não queria suar a camisa em nenhum sentido) e ela no pique, pois tinha se exercitado e praticado tanto que até tinha calejado os pés. Sua mochila era enorme; a de Léo, em contrapartida, parecia a de um estudante do ensino fundamental.
“Mas só isso, Léo?” Celina perguntou. “Olhe lá, hein?A gente vai ficar no meio do mato por dois dias. Você acha que isso dá?”
“Dá sim,” Léo respondeu. “Ou você está querendo inventar desculpa para dar para trás, hein?”
“Só estou querendo te dizer que pode ficar difícil, mas se você teima em ir assim, você sabe o que faz.”
Léo fez cara de quem diz “sei mesmo” e embarcaram no ônibus.
Chegando lá, começaram a caminhar pela mata – o dia estava quente e mesmo ao ar livre e em terreno baixo a vistaera de tirar o fôlego. Celina estava feliz, caminhando a passos largos, enquanto Léo seguia atrás. No meio do caminho, Léo torceuo pé [ai!] e precisaram parar.
“Vamos armar a barraca aqui e voltamos amanhã,” Celina disse.
“Não precisa, estou bem. Dá para continuar um pouquinho mais.”
Celina disse que admirava a obstinação de Léo, mas não precisava de tanto.
“Chega de ‘mas’... vamos.”
Léo deu mais dois passos e disse:
“Pensando bem, é melhor armar a barraca.”
Léo não tinha a vontade de ferro de Celina, mas tinha perna de borracha. Depois de algumas horas, eles voltaram para a cidade e Léo sugeriu que fossem à praia. Era mais seguro e ele podia ficar na areia.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageFri, 27 Jan 2023 - 59min - 233 - Episode 207: News Programs and TV
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Há quem diga que antigamente a vida era melhor. Não creio em tamanha besteira. “Antigamente era melhor” é uma ova. Hoje está muito melhor e posso provar.
Só para você ter uma ideia, a TV antigamente era pavorosa. E não ajudava que lá em casa fôssemos três para uma televisão. Cada um queria assistir uma coisa diferente.
O fraco da minha mãe eram os programas policiais. Ela assistia à primeira transmissão de dia e a reprise de noite. A vinheta do programa tinha uma musiquinha inconfundível – o som do disparo de balas e gritos. Depois o âncora vinha com uma empolgação sinistra, mostrando as manchetes do dia, que reiteradamenteincluíam sequestro-relâmpago, saidinha bancária, homicídioe todo tipo de agrura de que o povo padece. E os repórteres não ficavam atrás em matéria de animação com aquilo tudo.
Já meu pai gostava de assistir novela, o que pelo menos era uma trégua. Como parte das novelas passava de dia, ele tinha de assistir os programas do fim de semana para ficar em dia com os acontecimentos. Se alguém estivesse assistindo televisão na hora ia passar uma novela, ele andava de um lado para o outro, murmurando, sem falar diretamente mas dando a saber que ele queria assistir. E a gente sem querer atrapalhava o coitado, porque ele só falava que queria assistir quando era alguma estreia.
No meu caso, sempre tive uma propensão para assistir o noticiário político, mesmo que ficasse sempre com um gosto amargo na boca ao ver a falados políticos. Eles mentiam na caradura em rede nacional durante as coletivas de imprensa. E quando os jornais e a imprensa marrom decidiam por fim falar sério dos problemas do país, tudo era feito de maneira sigilosa, nunca “dedurando” os culpados, porque, afinal, os culpados molhavam a mão dos jornalistas.
E olhe, nem culpo os jornalistas, porque com esse salário que recebem para escrever tantas reportagens, não é possível fazer a cobertura de tanta coisa tão rápido por tão pouco...
Mas estou saindo do assunto. Porque hoje melhorou muito. Meus pais continuam com a mesma predileção. E eu também. Mas hoje são eles lá, e eu cá. E agora tenho um serviço de streaming. Faz anos que não assisto TV aberta.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageFri, 20 Jan 2023 - 49min - 232 - Episode 206: If I Won the Lottery
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Todo fim de ano é de lei: antes do dia 31, vou para a lotérica fazer minha fezinhana Mega da Virada. Compro um bilhete, só um para mim mesmo. Prefiro apostar sozinho que participar do bolão lá da firma. Imagina só, levar uma bolada de trocentosmilhões de reais sozinho, o que eu não faria com esserio de dinheiro?
Eu não aposto no bolão da empresa por dois motivos. Primeiro, não gosto de nenhum dos energúmenos que trabalham comigo. Naquela empresa, é cobra comendo cobra. Meu chefe é um tirano assumido – já disse que manda quem pode, obedece quem tem juízo. E no caso, ele manda, porque está por cima. Eu com dinheiro mandava logo o dono da empresa ir pastar. O segundo motivo é que, quanto menos gente ficar sabendo, melhor.
O difícil ia ser esconder a coisa toda dos parentes e aderentes. Tem o Ferreirinha, que vive dando facada em mim. Tem a Miriam, que não ia caber em si se descobrisse que o irmão tirou a sorte grande. E ainda tem o Fernando, que vive chorando de barriga cheia. Assim que a notícia lhe chegasse aos ouvidos ele ia vir para cima de mim com aquela cantilenasobre a penca de filhos que tinha de sustentar e tal...
Eu ia renegar todos eles.
Ah, se eu ganhasse na loteria... ia estar feito na vida. Ia ser sopa no mel, eu ia poder me aposentar agorinha, ia sumir do mapa, ia mudar de nome e fazer tanta coisa que deixei de fazer... sei que não sou tão sortudoassim, porque nem prêmio de rifa de escola cheguei a ganhar, e nas raspadinhas sempre ficava na mesma – ou melhor, ainda perdia o dinheiro da cartela. O máximo de sorte que tive foi quando ganhei dois bombons de chocolate na empresa, mas aquilo foi brindepara quem participou do treinamento... bom, quem sabe eu não dou uma cagada e levo o grande prêmio?
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageFri, 13 Jan 2023 - 48min - 231 - Episode 205: Commitments, or an Appointment with the Mother-in-law
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Sei que essa história é mais batida que não sei o quê, mas não me dou nada, nada com minha sogra. A única coisa boa que essa mulher fez foi colocar a Camila no mundo, e a Camila é minha esposa. Só que até dela estou começando a ter raiva. Deixa eu te explicar.
A Camila empenhou a palavra com a mãe, dizendo que ia comparecer ao aniversário de 70 anos da velha. Até aí tudo bem – a mãe é dela, não minha. É uma incumbênciaque ela tem, mas não é compromisso meu. Não preciso comparecer ao aniversário da minha sogra.
“Mas Fernando, é o aniversário de mamãe!” minha esposa insistiu. “Se você não comparecer, ela vai pensar que eu não tenho palavra. Eu disse que nós dois íamos.”
“Antes rejeitasse o convite! Pois diga a ela que eu sinto muito. Invente aí uma desculpa qualquer. Ou eu mesmo posso declinar do convite.”
“Tudo bem,” disse a Camila. “Eu vou sozinha. Mas quando eu voltar, sou uma mulher solteira.”
Eita. Quando ela quer, consegue ser igualzinha à jararaca da mãe dela. “Baixe essa bolaaí, meu amor. Eu vou, não precisa dessa afobação não. Você só vai se ver livre de mim no dia que eu esticar as canelas.”
Minha esposa deu um sorriso e foi dizendo o que eu podia e não podia fazer. Ela adora cagar regra, é igualzinha à mãe dela às vezes. E eu tinha que fazer o jogo dela, senão tinha que lidar com as consequências. Enquanto ela ia se arrumando, fiquei fazendo hora, para ver se a gente se atrasava e minha esposa recuava. Mas não consegui. Sou um homemde palavra: não me furto às obrigações. Agora era só deixar a bola rolar.
Chegando na casa da velha, fiquei plantado na sala esperando a mãe dela terminar de se arrumar. O pai dela, coitado, esse não se lembrava mais nem do próprio nome. Ela bem que podia estar que nem ele.
“Cadê o digníssimo?” ouvi minha sogra perguntar saindo do quarto. Quando ela me viu, disse:
“Fernando, onde você comprou essa camisa, tinha para homem?” e deu uma gargalhada carregada. Ela era fumante.
“Eita, vai chover” eu disse, e minha sogra pareceu ofendida. Minha esposa me deu uma bronca só com o olhar. Aí foi minha vez de colocar os panos quentes. “Desculpa.”
Tudo bem. Ia dançar conforme a música. Mas ainda ia fazer uma boa com minha esposa.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 05 Jan 2023 - 48min - 230 - Episode 204: Gas Stations
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Tem gente que nasce com a bunda virada para a luae nunca precisa trabalhar. Tem quem se esforce feito louco para conseguir algo. E tem gente como eu, para quem o trabalho de frentista num posto de gasolina é mais do que bastante.
Sei que o salário não é alto, que o trabalho não tem um pingo de glamour, que existem oportunidades que pagam bem melhor e tal. Mas se a alternativa é me matar de estudar, viver com a corda no pescoço, e no fim, se der sorte, financiar um casebre em trinta anos...
Comigo não, violão!
O trabalho aqui até que é divertido. Chega um motorista e a gente pergunta: “encher o tanque, patrão?” Pega a mangueira da bomba, tira a tampa do tanque e abastece. Olha se o medidor está funcionando legal, se a gasolina não derrama, pega a maquininha, o cliente passa o cartão e lá se vai mais um freguês satisfeito.
Claro, tenho sorte de trabalhar num posto de distribuidora. Aqui pelo menos a gente sabe que a gasolina não é batizada. Ouvi dizer que tem posto bandeira branca que vende gasolina misturada com querosene, porque assim o dono ganha por fora. E como na maioria dos postos também funciona uma oficina, o carro do cliente vem, a gasolina estraga o motor e quando o condutor dá a partida, sai fumaça preta do cano do escapamento, o carro começa a engasgar e o veículo fica por lá para a manutenção.
Mas é óbvio que nem tudo vai às mil maravilhas. Veja só: com os preços exorbitantes do jeito que estão, tem cliente que não entende e pensa que a culpa é da gente, dos empregados. Reclamam, e se a gente oferece um adicional, sei lá, uma troca de óleo pela metade do preço, eles dizem que se sentem roubados. E agora com essa onda deagradar cliente a todo custo (por causa da concorrência), oferecendo isso e aquilo, o cliente fica irritado se o posto não oferecer para trocar pneu careca e não tiver um lava-jato grátis à disposição.
E olhe que o posto onde trabalho é bem generoso. Dá desconto na loja de conveniência, mostra que tem selo do INMETROem tudo e recentemente até contratou um cachorro. Pois é, um vira-lataque se encostou por aqui. O dono viu, pegou gosto pelo cachorro, mandou fazer uma farda, um crachá e pronto: o Joselito agora é nosso mais novo funcionário.
Com uma vida assim, quem é que precisa ficar se matando de estudar?
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 28 Dec 2022 - 55min - 229 - Episode 203: Allergies and Reactions
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And here is today's story for you :-)
Era fim de ano.
Passei os últimos seis meses namorandouma casa de praia que vi na internet. Depois de gastar muita saliva, estava fechado o negócio: íamos passar o réveillon pertinho da praia, num casarão com piscina.
Você reparou que eu disse “íamos”? Pois é. Convidei três parças lá da firma. Eles tinham dinheiro, e dava para a gente se cotizar. Assim, não ficava pesado para ninguém.
Fomos na quinta-feira antes do Ano-Novo. Combinamos de nos encontrar lá. Eu cheguei primeiro, porque tinha de receber as chaves e falar com o dono. A casa era grande mesmo e parecia que estava fechada há muito tempo. “Abri para arejar um pouco” disse o dono. “Vai levar um tempinho.”
Por mim, tudo bem, pensei, mas devia ter desfeito o negócio no ato.
Quando o Élcio chegou, foi logo reclamando.
“Rapaz, que cheiro de mofo desgraçado é esse?” e começou a espirrar. O nariz do coitado ficou vermelho como um tomate. “Tenho alergia a ácaro”.
“A gente fica aqui fora por enquanto, até o ar circular lá dentro.”
Tudo bem, esse era um problema que dava para resolver fácil.
O Augusto e o João chegaram depois. Este perguntou:
“E aí, cadê os comes e bebes? Vamos ter churrasco ou não?”
Eu até tinha trazido carne, mas descobrimos ali que o Augusto não comia carne. Não era vegetariano, mas não comia carne.
Fui ao mercado e trouxe peixe e camarão.
Ao ver o que eu tinha trazido, o Augusto deu um pulo para trás. “Tira isso de perto de mim!,” ele gritou. “Se eu triscarnisso, posso ter um choque anafilático!”
“Tudo bem,” disse para mim mesmo. “Vou ver o que fazer sobre a comida depois, então.” E mandei que eles fossem tomando uma cervejinha, porque o dia estava quente.
“Não posso,” Élcio disse. “Cerveja dessa marca me dá logo um inchaço na barriga e depois fico morrendo de cólicas a tarde toda.”
“Esse alumínio da latinha me dá coceira. Só de pegar nela, minha pele começa a descamar,” disse Augusto. “Tem cerveja em garrafa ou em material hipoalergênico?”
E João, que estava comendo carne e bebendo cerveja, perguntou:
“Velho, algum de vocês tem uma pomada aí? Minha pele está toda ressecada. Tenho alergia a sol. Não sou acostumado a ficar perto da praia.”
E o João estava começando a ficar com uma vermelhidão no braço. Era urticária? Do lado dele, Élcio espirrava e se coçava. Os olhos dele estavam marejados. “Mal entro em contato com poeira e meu nariz entope logo e me dá coriza.”
E Augusto tinha ido para o jardim. Estava com medo de encostar em algo e desencadear uma crise alérgica e acontecer uma tragédia num dia de folga.
E eu, que tinha me planejado todo para relaxar e conversar com os amigos nesse fim de ano, ia ter que passar perto de um cara que estava com a rinite atacada, outro que não comia nada porque era alérgico a tudo e um último que tinha alergia à sol.
Até parece que joguei pedra na cruz!
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 21 Dec 2022 - 51min - 228 - Episode 202: Couples with an Age-Gap
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Já perdi as contas de quantas vezes meu pai surtoucomigo essa semana. E tudo por causa de um relacionamento bobo.
Sabe, conheci um coroa na galeria onde trabalho. Ele era um cliente, e o nome era Jânio. Primeiro, o Jânio foi muito galante comigo – tinha um papo inteligente, era formoso e ainda por cima muito enxuto. E, apesar da investida inicial, ele foi super respeitoso. Pedia o meu consentimento para falar comigo e sempre respeitava os meus limites.
Ele foi tão maravilhoso que nem liguei para a nossa diferença de idade – o Jânio era quinze anos mais velho que eu – e aceitei o pedido de namoro que ele fez, ajoelhado, num jantar à luz de velas. Disse que, se eu quisesse, nem precisava mais trabalhar, que ele tinha como me patrocinar, mas recusei – eu não estava querendo dar o golpe do baú nem nada e não precisava disso. E de todo modo ele não queria que eu parasse, só ofereceu porque, se eu quisesse, podia me dedicar à minha arte.
Quando meu pai ficou sabendo, foi o furodo século – a Anita está namorando um ancião que tinha idade para ser o pai dela! Contou para minha mãe, que só disse “panela velha é que faz comida boa”. Meu pai ficou roxo que nem uma berinjela. “E a regra dos sete?” ele gritou. E lá vinha ele de novo com essa história. Eu era só quinze anos mais nova, não era como se ele tivesse o dobro da minha idade. Além disso, eu tinha maturidade suficiente para saber o que eu queria.
Mas para meu pai era um tabu.
“Você é desmiolada,” ele disse comigo. “Não tem um pingo de juízo. Onde já se viu? A sociedade vai condenar vocês. Milagre é não chamarem o CEDECApara ele, esse papa-anjo.”
“O senhor é que é um pudico!” Não aguentei e gritei com ele.
“Bom,” interveio minha mãe. “Aqui não podemos ter dois pesos, duas medidas. Não é como se ele estivesse tentando engabelar nossa filha – ele foi franco com ela sobre suas intenções. Ela encontrou nele um ombro amigo e ele, nela. Não é a gente que vai atravancar a relação de nossa filha, Cléber. Até porque eu mesma sou mais nova que você doze anos.”
“É, mas com a gente é diferente, né?” meu pai disse.
“É diferente como?” minha mãe contestou. E eu ecoei: “É, é diferente como?” Acuado, meu pai ficou caladinho, e a briga acabou ali.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 14 Dec 2022 - 52min - 227 - Episode 201: Tools and DIY
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And here is the monologue for your benefit:
Minha filha está muito mudada, e não sei se acho isso bom ou ruim.
Antes, ela era muito preguiçosa. Morava — e ainda mora — comigo porque estava indo para a faculdade, mas o hábito dela sempre foi o mesmo. Ela se acordava perto de meio-dia e, quando se levantava, ia direto para o computador. A gente se preocupava com ela porque hoje em dia os jovens não têm muita resiliência para segurar o rojão, e minha filha não parecia ser do tipo que ia ser alguém na vida. Nem um macarrão ela sabia fazer!
Mas as coisas ficaram diferentes com a chegada de um novo vizinho. Era o Adriano, um bricoleiro que tinha minha idade e com quem minha filha tinha desenvolvido uma amizade próxima... demais.
E agora ela mudou. Está querendo fazer trabalhos manuais. Um dia desses chegou em casa com uma caixa de ferramentas e outros materiais. Tinha ido a uma loja de construção.
A primeira coisa que ela fez foi dar um jeito no encanamento do banheiro para consertarum vazamento antigo. Fiquei com o pé atrás – nunca a conheci pegando no batente. Mas resolvi dar uma chance.
E não é que ela consertou?
E aí ficou andando pela casa. Dizia que a gente precisava de uma reforma. Embora ela não conseguisse fazer tudo – ainda precisava que o Adriano lhe ensinasse um pouco mais – ia passar um pente-fino na casa para ver o que podia ir adiantando.
No jardim, disse que precisava de umas ferragens, uma pá e uma enxada para capinar. Ia preparar um canteirinho para as flores de que a mãe dela tanto gostava em vida. Ia ficar lindo.
Na garagem, pegou uma furadeira, uma serra, umas tábuas e um monte de prego e martelo – disse que ia construir uma estante para a gente guardar as peças do carro e deixar tudo mais organizado.
Nos quartos, ela planejava pintarcom tinta antimofo, porque ficava muito úmido na época de chuva. Até trouxe umas amostras para que eu escolhesse a cor, e já tinha comprado pincéis e estopa para começar o trabalho.
E andava para cima e para baixo, ora com uma chave de fenda, ora com um alicate, fazendo algum reparo ou dando acabamento em algum serviço que tinha começado.
A amizade dela com o Adriano foi o estopim dessa mudança, mas acho que aí tem coisa. E estou com medo. O Adriano é quase vinte anos mais velho que ela, mas tem sido uma influência tão boa para minha filha. Agora estou entre a cruz e a caldeirinha. Será que ponho fim a essa amizade e trago de volta minha filha preguiçosa ou deixo a coisa rolar e ver até onde vai?
Não sei, mas vou esperar até que ela reforme a varanda para tomar uma decisão.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 07 Dec 2022 - 57min - 226 - Episode 200: Old Clothes, New Clothes
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Dizem que os opostos se atraem. Isso nunca foi tão verdade quanto o caso de Renata e André.
O André era um rapagãoquando mais jovem, muito bem apessoado. Usava camisa de golapolo, calça jeans o tempo todo e tênis, mesmo nos dias mais quentes. Ele tinha um guarda-roupa bem diversificado; contava com um traje para cada ocasião: se a ocasião pedisse requinte, lá ia André todo nos trinques. Não era possível encontrar uma camisa amarrotada, uma camiseta puída, uma calça desbotada nem sapatos gastos. Ele era a elegância encarnada.
Nada mais natural que ele virasse vendedor.
E como vendedor numa papelaria, conheceu muitos clientes, e com uma dessas clientes ele acabou se casando.
Renata, a felizarda, era estudante de filosofia quando eles se conheceram. Ela enxergava muito além da “cascavazia” que era a aparência – palavras dela, não minhas – e não ligava deusar uma roupinha rasgada de vez em quando. O visualmais comum dela era uma calça manchada de tinta que ela tinha comprado quando começou a oficina de pintura, uma camisa qualquer e um par de sandálias que ela tinha que substituir de tempos em tempos, porque eram sandálias bem “vagabundinhas” e quebravam fácil. Seus amigos até sugeriam que ela fosse comprar algo, porque ela tinha dinheiro. Mas Renata odiava bater perna. Frequentar shopping? Era um suplício. Antes ficar com aquele monte de trapo que gastar dinheiro em moda inútil.
E agora os dois estavam juntos – ele, super arrumado, e ela, que tinha andrajos de fazer vergonha.
Durante um tempo, o relacionamento até que funcionou bem, mas uma hora tudo cansa. E agora que André e Renata tinham que ir a uma festa de formatura de uma amiga do André, o tempo fechou. André queria que Renata fosse com ele comprar roupas novas, para não fazer feio na festa da amiga; Renata, por sua vez, preferia ir com sua calça que ficava pescando siri. Ela não ia se render a essa bobagem de enfiar uma roupa cara e desconfortável só para ganhar a aprovação dos outros.
André se sentia avacalhado. Até ligou para os amigos, pedindo conselho. No final, ele desistiu e, com muita raiva, disse para Renata que ia sozinho. Renata disse: “vá, pode ir, meu amor. Você vai se divertir e, quando voltar, eu vou estar aqui.”
E foi o que aconteceu. Ele foi sozinho, se divertiu para caramba, chegou em casa, conversou com Renata, e o mundo não se acabou.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 30 Nov 2022 - 42min - 225 - Episode 199: A controversial plan
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Na moral(song) - https://www.youtube.com/watch?v=PcBgfuB64yA
And here is the monologue for your benefit:
Trabalho numa empresa familiar e, se eu puder te dar um conselho, nunca invente de trabalhar numa empresa assim. Além de ter que lidar com os desacertos de um monte de gente que não enxerga um palmo adiante do nariz, ainda precisa ficar escutando asneira de seu chefe, porque não pode denunciá-lo para a direção da empresa. Afinal, seu chefe é filho do dono!
E só para dar nome aos bois, estou falando do Abelardo. Ele é um “menino” ainda, dois anos mais novo que eu. Mas é gerente dessa joça desde que ficou de maior.
Ele vive mexendo com as empregadas. Faz comentários sobre o corpo delas, diz aquelas baboseiras de “ô lá em casa”, e as coitadas não podem nem revidar o ultraje. A maioria morde a língua porque precisa daquele emprego para sustentar a família.
Além disso, Abelardo é muito esquentadinho. Nessas épocas de política, ele costuma fazer comentários incendiários sobre os eleitores do adversário do candidato dele. Quem declarar voto é logo humilhadopor ele. Bom, nem todo mundo. Com a Maria, coitada, que não fazia mal a uma mosca, Abelardo fez a maior zoada, até que ela mesma se demitiu. Mas com a Tânia, que era raçuda e não se deixava incomodar, ele não peitou ela. Foi pedir a cabeça dela para o papai, que, claro, fez as vontades do filhinho.
Normalmente, gente dessa laiaconsegue se safar de tudo, mas, na moral, o Abelardo não se sai dessa não. Eu e uns colegas estamos planejando dar uma coça nele. É um plano controverso? É, mas eu não vou problematizar isso não, ó. Se você quiser fazer tempestade em copo d’água, é com você. Sou dono do meu nariz.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 23 Nov 2022 - 50min - 224 - Episode 198: A "Pleasant" Day on the Beach
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And here is the monologue for your benefit:
Acho um pecado eu morar em Salvador e não ir para a praia com frequência, sabe? Mas isso não é por mim: é mais por minha esposa. Sempre que vou, quero que ela vá, mas ela não gosta de ir. No fim de semana passado, porém, decidi que ia pegar uma praia sem ela.
“Olha, que estou sentindo uma coisa ruim” – foi o que ela disse quando soube que eu ia.
Ah, meu amor, vaiagouraroutro! Claro, disse isso para mim mesmo, porque o que eu disse a ela foi:
“Não se preocupe, meu amor. Vou ter cuidado.”
E tive mesmo.
Como queria pegar um bronze, escolhi uma sunga em vez de um calção de banho. É mais chamativo, mas é melhor. Minha esposa sempre ia de biquini e chamava atenção dos marmanjos da praia; eu não me importava de chamar atenção também. E para me bronzear melhor, peguei uma espreguiçadeiraque estava acumulando poeira no quintal. Ia ficar show na orla!
Também não queria ficar com queimaduras de sol, então peguei um protetor solar melhorzinho na farmácia antes de ir. Separei também uma garrafinha para a água, porque não posso descuidar da hidratação, né? E, como uma coisa leva a outra, também coloquei umas latinhas de cerveja na caixa térmica.
Antes de sair, ainda me certifiquei de que ela não queria mesmo ir. “Pode ir, meu anjo,” ela disse. “Só estou com um pressentimento...”
“Vire essa boca para lá,” eu disse em tom de brincadeira.
Mesmo com a praga dela, estava decidido a ir. E fui.
Chegando lá, céu limpo. Nem sinal de chuva. Então coloquei minha espreguiçadeira na areia, estendiminha toalha e me deitei. Daí, ouvi uma gritaria vindo de perto. Quando olhei, era um monte de gente correndo. Era um arrastão! Levaram tudo que eu tinha deixado à mostra. Mas pelo menos deixaram a cadeira.
Eu devia ter voltado para casa nesse instante, mas estava decidido a curtir a praia — além do quê, não ia dar o braço a torcer e dizer que minha esposa tinha razão. Então fiquei. Comprei um queijo no espeto. Chegaram outras pessoas ao redor. Então começaram os gritos. Dessa vez, eram crianças. Depois, os adultos. Eram os farofeiros. Não tinha nada contra eles, mas eles começaram a emporcalhar o ambiente e era chato ver a praia assim.
No fim das contas, o dia na praia foi uma droga. Mas ó: boca de siri. Se minha esposa souber, ela não vai mais parar de falar.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 16 Nov 2022 - 56min - 223 - Episode 197: Views on Civil Service
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And here is the monologue for your benefit:
Quando éramos pequenos, minha irmã e eu sempre ouvíamos o conselho de nossos pais:
“Filhos, estudem bastante enquanto ainda são jovens, para passarem num concurso públicoquando estiverem mais velhos. Aí vocês podem comprar uma casinha, se juntar com alguém e formar uma família.”
Meus pais só queriam o nosso bem, mas, sabe, nunca fui CDF. Mesmo depois da escola, quando prometi a eles que estudaria para entrar para o funcionalismo público, não me dedicava. E tinha, claro, algumas razões para isso: não era interessante. Mas também havia discrepâncias no campo ideológico.
Veja só. O servidor público tem que percorrer uma trajetória longa e desagradável. Primeiro, tem que se inscrever em algum certame, mas, para isso, precisa esperar até um órgão público lançar um edital. Depois, tem que se preparar – fazer simulados, preparar um cronogramade estudos, colocar a mão na massa mesmo.
Depois, tem que enfrentar o nervosismo na noite que antecede a prova. E, se aprovado, ainda tem que passar pelo teste de aptidão e o psicotécnico. Só então é que tem a prova de títulos e, por fim, o funcionário entra no serviço público.
Mas, se pensa que acabou, não acabou não. Depois de “contratado”, o empregado vai ser lotado em algum lugar à escolha do órgão, normalmente constante no edital. E ainda vão passar alguns anos no estágio probatório. Se não for exonerado nesse ínterim, vai ser efetivado e, enfim, gozarde estabilidade.
Todo mundo pensaria que, depois de tantos obstáculos, quem trabalhasse no serviço público seria uma pessoa dedicada. Ledo engano. Depois que entram é que percebem a mamata que existe. Quem tenta fazer algo, não consegue. Existe muita morosidadenas repartições públicas. E como não podem ser demitidas, as pessoas fazem corpo mole. Além disso, tem muita peixada de político no serviço público. A maior parte dos departamentos vira cabide de emprego desse ou daquele político.
Eu mesmo não fui feito para isso. Meu negócio é a iniciativa privada.
Minha irmã Célia é que sempre quis ser funcionária pública – ela destrinchava as leis durante os estudos, fazia tudo que era simulado, ia para a biblioteca... e ela acabou de ser aprovada. Ainda está deslumbrada com o serviço e tudo o que pode fazer. Vamos ver se ela não se rende e acaba virando mais uma.
Afinal, a esperança é a última que morre.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 09 Nov 2022 - 55min - 222 - Episode 196: Air Travel
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Minha vida é bem atribulada, mas tenho sorte, porque tudo sempre sai bem no final. Até mesmo viagem de fim de ano, para mim, sempre dá certo.
E viagem não é fácil, viu?
Primeiro, tem os contratempos nos aeroportos. Você sabe que o daqui de Salvador é um ovo. E é lotado o tempo todo. E lá fui eu, com meu localizador, duas malasgrandes e uma de mão, para despachar tudo no balcão do check-in. Deu excesso de peso e tive de pagar o adicional lá mesmo. Coloquei tudo no cartão. Meu limite estava perigandoestourar, mas, graças a Deus, passou.
Na hora de embarcar, mais uma chatice. A gente tem que formar filas, todo mundo sabe disso, mas sempre tem um ou outro espertinho que fura a fila. A confusão começa, todo mundo reclama, mas o atendente da companhia aérea não se importa: olha o cartão de embarque, confere os documentos e manda entrar.
Quando fui procurar meu assento – que era “confort”, marcado com não sei quantos dias de antecedência – vi que tinha um fedelho sentado lá. Quando eu pedi que ele saísse, ele começou a espernear, e a mãe dele veio lá do fundo do avião perguntar o que é que estava acontecendo.
— É seu filho? — perguntei.
Ela fez que sim. Disse que era meu assento, e ela perguntou se não podia deixar ele ali mais um pouquinho, só até o avião decolar. Eu respondi com um não bem redondo, para ver se ela se mancava. Ora essa. Eu lá pago quase três mil contos para umazinhavir me pedir para deixar o filho dela se sentar na minha poltrona?
Depois disso, pensei que ia ter paz, mas pobre não tem um minuto de sossego, viu? No meio da viagem teve turbulência. O menino de antes começou a gritar no fundo do avião, e os outros passageiros todos olhando e comentando. “Vai cair, o avião vai cair!” E a mãe dele só ria, como se aquilo fosse bonitinho.
Na hora de pousar, o menino ainda não tinha se aquietado, mas a comissária de bordo deu uma chamada na mãe dele e ela finalmente decidiu que era mãe e ia cuidar do filho. Aleluia.
Pronto. Aeronave na pista, os passageiros estavam desembarcando e lá fui eu, todo serelepe, para a esteira, pegar minha bagagem. Sorte a minha foi que nada foi extraviado.
Peguei minhas malas, fui a uma sorveteria ainda dentro do Pinto Martins e tomei um sorvetinho, para espairecer. Depois peguei o táxi para ir para a casa de minha família.
No meio do caminho, me preparei para ligar para eles, botei a mão no bolso e não encontrei o celular. Cadê o maldito celular? Tinha perdido o celular no aeroporto!
Pedi para o taxista dar meia volta. Chegamos rapidinho no aeroporto. E dei sorte, duas vezes: meu celular estava lá no Achados e Perdidos, assim como estava o cantor daquela banda, É O Tchan. Saí de lá com meu celular e um autógrafo.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageFri, 04 Nov 2022 - 51min - 221 - Episode 195: Elections in Brazil
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This topic isn’t easy — I suggest you listen to the episode, try your hand at using the vocab, talk to friends, and look for info online. You’ll be in a much better position to discuss elections in Brazil.
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And here's the transcript of the monologue for your benefit:
A cada quatro anos é sempre essa mesma palhaçada. Temos que acordar cedo em pleno domingo, nos dirigir à nossa seção eleitoral e participar da “festa da democracia”.
“Festa da democracia.” Patacoada, isso sim.
A cada quatro anos a gente tem que ir elegerum Zé Ruela para a presidência. E toda eleiçãoé a mesma coisa. Os “presidenciáveis” são uns populistasque chegam de mansinho e de repente estão em toda parte e que só se lembram da existência do eleitor quando é para pedir voto. Inclusive, em época de eleição, eles passam na casa de cada cidadão, cumprimentando todo mundo. Quem nunca viu a cena clássica de um político fazendo careta enquanto come um pastel e toma um pingado na rua?
O ruim é que nessa época as ruas ficam uma imundície com tantos panfletos e cartazesespalhados. Até quem não trabalha para o político anda por aí distribuindo santinho, esperando convencer alguém a votar no candidato por quem eles torcem. Só se for mesmo. Só vão virar meu voto para um desses vigaristas no dia de São Nunca.
Meus amigos dizem que sou quadradopor agir assim, só porque todo ano voto em branco. Dizem que não voto com consciência. Bom, se eu votasse nulo, até que seria assim.
E se minha opinião fosse mesmo errada, como eles dizem, a gente não teria tantas abstenções nas eleições. E o pessoal que se abstém nem está indo justificar o voto. Então, se nem o voto sendo obrigatório e tendo multa para quem não vota está motivando o povo a ir votar, quem são eles para me dizer que estou errado?
E esse ano temos, de novo, segundo turno. Mais uma vez, vou ter que me acordar cedo e ir para a seção eleitoral, para a sala onde fica minha urna, porque, este ano, sou mesário. O quê? Não é contradição eu trabalhar nas eleições se as crítico tanto? Bom, posso estar trabalhando para um bando de corrupto ir fazer cagada no próximo ano, mas pelo menos tenho uma folguinha garantida.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 26 Oct 2022 - 53min - 220 - Episode 194: Controversial Opinions on Brazil and Brazilians (Part 1)
In today's episode, we'll talk about some controversial opinions Brazilians have about Brazil. I use an imagined town in the episode without naming it, but you could say it of any big city in this country and it would fit.
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This wasn't an easy topic --- it's so complex, one episode won't do justice to it. That's why it's part one.
You'll probably benefit from this article (school students in Brazil use it for research): https://brasilescola.uol.com.br/brasil/favela.htm
If your Portuguese is a bit more advanced and you'd like to challenge yourself, watch this video about the history of the first favela in Brazil: https://www.youtube.com/watch?v=9fx9p-tvD0s *there are SUBTITLES in BR-PT!
And here's the monologue for your benefit:
Meu amigo de fora estava planejando passar uma temporada aqui no Brasil e me perguntou se minha cidade era segura. Aí complicou, eu disse. Complicou, porque a resposta vai depender da pessoa a quem ele pergunta.
A meu ver, não é perigosa não. Mas isso porque já estou acostumado. Todos os dias, pego ônibus para o centro e me deparocom toda sorte de gente, de morador de rua a mandachuvasde empresas. Tem mendigo pedindo esmola nas esquinas, pinguço no boteco às dez da manhã e gente que vive ao deus-dará.
Se você pergunta à Cláudia, que mora num bairro nobre desde pequenininha e que falta não pisar no chão, minha cidade está em pé de guerra. Ela acha que tem um traficante em cada esquina, segurando uma metralhadora, e que quem anda com uma roupinha meio assimé marginal. Aliás, ela nunca entrou num ônibus e talvez nem consiga imaginar o que é estar num veículo onde a “ralé” se aglomera.
E se você for depender do que mostram os filmes ou a mídia... então ferrou. Infelizmente, esse tipo de coisa só propaga o preconceito que as pessoas têm contra pobreza. Eles sempre mostram que todo pobre mora na favela, e que lá as pessoas são tristes e depauperadas, que vivem em meio àviolência o tempo todo, isso quando não estão em algum baile funk escutando as obscenidades de algum proibidão.
A verdade é que é um pouquinho de tudo. O Brasil é um país muito desigual, complexo, e é mais fácil acreditar em estereótipos e hostilizar quem não conhecemos do que questionar a razão de tudo ser assim.
Por isso, no final, disse a meu amigo que a única coisa que posso afirmar é que a gente daqui é dura na queda. O pessoal vai levando e tentando não deixar a peteca cair.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 20 Oct 2022 - 51min - 219 - Episode 193: Types of Work and Contract
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And here is the monologue for your benefit:
A vida não está fácil, e com a economia bamba do jeito que está, a gente tem que se agarrar ao que tem para chegar ao fim do mês. Mas nem todo mundo vê as coisas assim.
Olhe só o meu sobrinho. Minha irmã o criou com todo o esmero, deu a ele tudo do bom e do melhor, mas ele não quer nada com nada. Completou vinte e cinco anos e ainda mora com a mãe.
Antes ele trabalhava como horistanuma dessas franquias de fast food. Ele queria ser chefe, mas todo mundo sabe que a mão de obra nesse mercado é fartae os salários, baixos. Daí ele se demitiu e disse que não ia integrar as forças produtivas de uma indústria que causava tantos danos ao meio ambiente.
Depois entrou como mensalistanuma empresa que produzia calçados. No segundo mês, ele estava exausto com as horas extras que tinha que fazer toda semana. Um dia chegou em casa reclamando que o trabalho era puxado e que, assim que recebesse a quinzena, ia pedir as contas.
Minha irmã ficou escandalizada, mas não falou nada. Eu que perguntei ao meu sobrinho: “e vai fazer o quê agora, tratante?” Minha irmã não gostava que eu o chamasse assim, mas o que é que se diz a alguém que vive inventando desculpa para não se segurar num trabalho?
Meu sobrinho só deu uma risadinha. “Não vou depender dessa merreca de salário que pagam a esses trabalhadores braçais”, ele disse. “Vou estudar para o vestibular de Direitoe ser um advogado. Trabalho intelectual paga muito mais, e não vou ter de suar a camisa.”
Foi minha vez de rir. Não sabia onde é que o meu sobrinho estava com a cabeça. Dizem que todo mundo sabe onde o sapato aperta, mas se esforçar não é do feitiodo meu sobrinho. Decidi que ia pagar para ver.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 13 Oct 2022 - 45min - 218 - Episode 192: Talking about Falsity and Insincerity
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Todo mundo conhece esse tipo: entra na empresa assim como quem não quer nada, de repente começa a se misturar aqui e ali, e de uma hora para outra forma uma panelinha e começa a galgar novos níveis na empresa porque dá rasteira em todo mundo. A minha empresa está cheia de gente assim. Pode parecer até que sou despeitado, mas você vai ver minha razão para ser tão cuidadoso com outras pessoas.
No escritório tem uma tal de Helena, que é uma faladeira que chegou faz pouco tempo. Ela foi logo ficando amiga de todo mundo. Na frente deles, é uma santa, mas vez e outra escuto a maledicência dela. Claro, não é ela quem me conta diretamente, porque não é boba. Fiquei sabendo foi por meio da Sônia, do Carlos e do Pedro.
Eles me contaram que a Helena já está envolvida num cambalachona empresa. Ela está burlandoa supervisão fiscal e embolsando uma parcela das compras. Claro, quem me contou, pediu segredo, e eu não vou puxar o tapetede ninguém, porque não sou a Helena.
Pior é que a Helena vive se fazendo de simpática. Me dá bom dia, me ajuda no trabalho, e até já me trouxe sobremesa. Se eu não soubesse que ela é uma fingida que usa esses presentes como pretexto para se aproximar de mim e me comprar, até que eu a acharia uma moça muito agradável mesmo.
Mas de tanto eu conversar com aqueles três – Sônia, Carlos e Pedro –, algum daqueles linguarudos abriu o bocão e contou para a Helena que eu não gostava dela. Depois a gente ficou num morde e assopra e eu não sabia como dizer para a Helena que não é bem assim como os três pintaram. E então a Helena me chamou outro dia para me confidenciar que os três lá eram mais falsos que nota de três reais – eles falavam sobre mim para ela do mesmo jeito que falavam dela para mim. Eu que caí na arapucadeles e acabei me sujando.
Por isso, agora acho que as pessoas têm que ser mais cuidadosas. Se eu tivesse sido mais cuidadoso, esses três não tinham se criado.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 06 Oct 2022 - 45min - 217 - Episode 191: Gated Communities
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Alphaville – documentário - https://www.youtube.com/watch?v=RrUW_-5lZvA
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And here is the monologue for your benefit!
Não existe lugar melhor que o nosso lar... pelo menos é o que dizem, e acho que concordo plenamente com isso. Porque, quando chego aqui, me sinto completamente à vontade.
Primeiro, passo pela guarita da entrada e falo com os porteiros. Sempre lhes dou bom dia, mesmo meus pais tendo me ensinado que quem fala demais, dá bom-dia a cavalo. Acho uma grosseria passar com a cara fechada pelas pessoas que trabalham para melhorar o meu dia.
Ao caminhar pelo pátio do prédio, vejo de longe as crianças brincando no playground. Perto do playground tem uma piscina que o pessoal frequenta no fim de semana e a brinquedoteca, que a essas horas deve estar fechada.
Mais para lá do playground fica o salão de festase a academia. É muito bom para quem mora nesse residencial, porque, sendo murado, todo mundo que visita a área de lazer ou é condôminoou é visitante, então ninguém tem problema com bisbilhoteiros que ficam de butuca reparando na vida alheia.
Mas, se me permite abrir um parêntese aqui, os guardinhas que fazem ronda sabem de tudo o que acontece aqui. Afinal, eles mesmos ficam acompanhando o sistema de vigilância interna o tempo todo!
Mas voltando ao que eu ia dizendo, morar aqui é bom. Como disse, tem academia, mas para quem prefere esportes mais ativos, tem até mesmo uma quadra.
Muitos dos residentes aqui moram no próprioapartamento – poucos foram os que compraram aqui para investir, em especial sabendo da localização. É preciso pegar pelo menos duas conduçõespara vir da cidade para cá.
A maioria dos apartamentos foram comprados na planta. Se eu pudesse, teria comprado um na cobertura – a vista de lá de cima é linda, a tirar pelos apartamentos que visitei. Mas isso está muito longe do que meu parco orçamento permitia.
O apartamento onde normalmente estou fica na TorreIndiara, que é bem central no conjunto. É um edifício bonito, embora a pintura já esteja descascando aqui e ali. Já até falaram com o síndico para ver se dava um jeito, porque o condomínio aqui é um absurdo, então já era para ter dado conta desse reparo.
Bom, agora, se você me dá licença, tenho que ir, porque preciso faxinar dois apartamentos hoje antes de voltar para meu “casarão” que fica lá na cidade. Sou muito ajuizadopara ficar aqui de papo com você e perder o dia de trabalho.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 29 Sep 2022 - 54min - 216 - Episode 190: A Trip to the Butcher's (and a Surprise at Home)
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Todos os anos, minha família se reúne na casa de um dos parentes. Esse ano vamos nos reunir na minha casa, onde moramos só eu e a Cleide, que é minha galinha de estimação. E como não sou muito bom de cozinha, tia Glória se ofereceu para dar aquela força.
Ela me deu uma lista de coisas para comprar no açougue. Era tanta carne! Mas a tia explicou que cada uma era a preferida de alguém. Meu tio Osório gostava de costela de porco, mas a minha avó Carmem não suportava carne suína, por isso precisava de carne de carneiro. O primo Roberto só comia carne de primeira, ao passo que a Silvia só comia carne magra porque estava de dieta.
Lá no açougue, aproveitei para comprar os frios e uma peça de lombo bovinoque estava com uma cara ótima. Mandei pesar e deu um absurdo, mas ia valer a pena. Ia ser um agrado meu para minha tia.
Chegando em casa, minha tia foi me pedindo ajuda para preparar as carnes. Como previ, ela ficou muito feliz ao ver o lombo. “Vou botar para marinar”, foi o que ela disse. “Meu filho, onde é que está a tábua de cortar carne?” Eu lhe arranjei a tábua. E ela me pediu para picara cebola enquanto ela ia cortando a carne em cubos.
De repente, senti cheiro de fumaça. Vinha do quintal. Fui lá dar uma olhada. A minha tia já tinha acendido o fogo da churrasqueira e o carvão estava em brasa. “Abana aí, meu filho, para o fogo subir”, ela pediu.
Depois que terminei no quintal, voltei para a cozinha, para ajudar a preparar as carnes para grelhar. Mas, como não sabia que carne colocar primeiro, fui pedir ajuda à minha tia. “Só um minutinho, meu filho, que vou desossar esse frango. Já te ajudo.”
E aqui fiquei com uma pulga atrás da orelha. Eu não tinha comprado frango. De onde é que ele tinha vindo?
“Era essa galinhazinha que estava para engorda aí no quintal. Já estava ótima para o abate, meu filho.”
E aí minha animação para o almoço de família se esvaiu. Minha tia assassinou a Cleide...
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 22 Sep 2022 - 44min - 215 - Episode 189: Sleeping
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Minha família sempre teve o sono desregulado, mas depois que o bebê nasceu, isso aqui virou um verdadeiro hospício. Mas antes de contar mais sobre isso, preciso explicar que somos oito aqui em casa: meus pais, três irmãos, minha esposa e eu. E agora o bebê.
Primeiro, um pouquinho sobre meus pais. Antigamente, eles sempre iam dormir com as galinhas e madrugavamno dia seguinte. Era costume da roça que eles trouxeram para a cidade. E eles forçavam a gente a se deitar perto de sete da noite, mesmo que ninguém estivesse com sono. Aí a gente ficava se revirando na cama até pegar no sono. Às vezes, meus pais davam suco de maracujá para ajudar a aliviar a insônia que eles achavam que a gente tinha. Mas a gente não tinha insônia coisa nenhuma.
O problema disso era que, como meus irmãos e eu tínhamos o sono leve, acabávamos acordando por qualquer coisa. E meu pai roncava mais que motor de caminhão, era horrível. Então ou a gente ficava feito sonâmbulo zanzando pelo meio da casa, ou passava a noite toda deitado na cama sem pregar o olho por um minuto sequer.
De dia, meus pais queriam que a gente os ajudasse nos afazeres domésticos e nos trabalhos da empresa deles, mas a gente estava sempre cansado, bocejando. Meu pai acusava a gente de ser dorminhoco. Minha mãe, mais supersticiosa, acreditava que era quebranto e vivia rezando para que a gente melhorasse.
O que sei é que esse costume de meus pais fez que eu adquirisse hábitos horríveis de sono. Depois do almoço, se eu não cochilasse uns quinze minutos, passava o resto do dia sonolento. E se a sonecadurasse mais de meia hora, perdia o sono da noite e precisava tomar sonífero. Mas odiava tomar sonífero, porque tinha pesadelos a noite toda. De manhã, a fronha do meu travesseiro estava manchada de suor.
Agora que o bebê nasceu, meu sono foi para o beleléu. Hoje em dia, tenho de dormir com um olho fechado e outro aberto, porque se o menino chorar, minha esposa não se acorda. Ela dorme feito pedra. Aí acabo não descansando quase nada e uso qualquer intervalo que tenha no trabalho para repousar um pouquinho. E nesses dias, meu chefe me chamou a atenção, dizendo que estou remisso no trabalho. Veja só: eu aqui moídocom essa rotina, e ele achando que eu só quero sombra e água fresca. Vê se pode!
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 14 Sep 2022 - 49min - 214 - Episode 188: A Major Blackout
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Era uma reuniãozinha de amigos. Tinha convidado todos para darem um pulinho lá em casa, para tomar umas coisitas e jogar conversa fora. E estávamos fazendo exatamente isso quando, do nada, ouvimos um pipoco, um barulho de eletricidade e, zás, ficamos num breu.
A primeira coisa que fizeram foi ficar em silêncio. Lá fora, na rua, não ouvíamos nada. Talvez as pessoas tivessem tido a mesma reação que a gente. Então começamos a especular o que poderia ter causado o apagão. Késia disse que tinha visto que uns homens estavam trabalhando na linha de transmissão mais cedo. Onde ela tinha visto isso? “Na TV”, ela respondeu. Mas as linhas ficavam longe da minha casa – não teríamos escutado uma explosão de lá.
“Talvez tenha sido um curto-circuito?” disse o Fernando, mas também não. Não achava que um curto-circuito causasse queda de energia assim tão grande.
“Pode ter sido por conta do racionamento,” disse Aurélia. “Que racionamento?” perguntei. “Não temos isso desde 2001.” Mas Aurélia contou que viu na TV alguma coisa sobre isso.
Bom, fosse racionamento, curto-circuito ou fim do mundo, a gente estava nas trevas e precisava encontrar alguma fonte de luz.
“Alguém acenda a lanterna do celular,” eu ordenei.
“Não dá,” responderam. Foi mesmo. Quando começamos, prometemos guardar nossos celulares no quarto de cima, para que pudéssemos de fato conversar e não ficar no WhatsApp.
Agora o jeito era procurar uma vela. Tinha comprado velas há muito tempo e nunca as utilizei. Sempre ficavam na estante da sala, e agora viriam bem a calhar.
“Pronto, temos as velas. Alguém tem palitos de fósforo?”
Ninguém respondeu, o que deu a entender que ninguém tinha. Mas tinha na cozinha, perto do fogão – eu achava. Fui tateando o caminho todo para não esbarrar em nada. Quando atravessei o corredor, pensei ter ouvido um passo vindo do quintal.
Gelei de medo no mesmo instante. Não tinha ninguém no quintal. Ou tinha?
“Tem alguém aí?” perguntei para a escuridão. Nada em resposta. Continuei, mas com medo, para pegar o fósforo.
Pronto! Achei a caixinha! Agora era só...
E com outro barulho, a energia voltou assim, num piscar de olhos. Fiquei aliviado.
Logo corri para o quarto de cima para buscar os celulares, olhamos na internet para ver o que tinha acontecido – foi um problema de abastecimento – e, quando fui pegar mais bebidas, descobri que a geladeira tinha queimado.
Bom, com a “economia” desse blecaute, minha conta de energia pode até não disparar, mas vou ter que comprar uma geladeira nova.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 08 Sep 2022 - 46min - 213 - Episode 187: Talking about (Not) Forgiving
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And here is the monologue for your benefit:
Podem até dizer que eu sou rancorosa, mas veja se não tenho razão.
Até um tempo atrás eu estava dando um gelo na Isabela. Ela era minha melhor amiga, mas me aprontouuma...
Eu namorava um cara havia dois meses, mas, sabe como é, todo relacionamento acaba passando por altos e baixos. Então a gente estava dando um tempo. Aí a Isabela veio e deu uma de fura-olho. Ficou com o cara bem debaixo do meu nariz. Não esperou nem eu decidir se o relacionamento tinha acabado ou não.
Claro, quando descobri, soltei o verbo para cima dela. Ela queria que eu a perdoasse, me pediu mil desculpas, mas, sinceramente, não sei se posso relevaresse tipo de coisa não, sabe? Quem bate, esquece; quem apanha, não.
Ela disse que era só uma questão de tempo, que a gente ia superar isso e que, quando fôssemos duas velhinhas, daríamos gargalhadas disso juntas. Me segureipara não dar na cara dela – ela pegava o meu namorado e ainda vinha com essa história de “o que passou, passou” e “são águas passadas”, se fazendo de santinha querendo ser absolvida. A bem da verdade, meu namorado e eu estávamos temporariamente separados, mas ela não podia nem esperar um pouquinho? Não vou deixar essa para lá.
E agora arranjei o plano perfeito. Se ela achava que não ia ter revanche, estava muito enganada. Ela agora está com o meu namorado. Pois no mínimo descuido dela, vou lá e tomoo que me pertence. Quem disse que eu não ia revidar? Aqui é assim: bateu, levou.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 01 Sep 2022 - 37min - 212 - Episode 186: School Supplies List
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And here is the monologue for your benefit:
Meu filho entrou para o ensino fundamental esse ano e já me deu uma baita dor de cabeça. Não, não meu filho – ele já passou da idade de me acordar no meio da noite. É a lista de material escolar exigido pela escola que está me tirando o sono.
Então resolvi dar uma ligadinhapara a diretora para tirar satisfação. Eu que não ia ficar com um descalabro desses e não dizer um ai a respeito!
Assim que ela atendeu, falei sem rodeios:
“Estou ligando para indagarsobre a lista de material escolar desse ano.”
E ela só fez “hum”.
“Primeiro, concordo que tenham incluído mochila, porque senão meu filho não pode levar nada. E também com a pasta para colocar as folhas de sulfite. E entendo que a caixa de lápis-de-cor, a de giz-de-cera, canetinhas e os estojos sejam para as aulas de artes.”
Nesse momento, fiz uma pausa. Do outro lado da linha, a diretora só respirava.
“Agora”, eu continuei, “por que uma criança de sete anos vai querer um marcador de texto?”
“Na nossa escola, nós incentivamos que os alunos leiam e resumam o que leem. Só assim para eles melhorarem suas habilidades de interpretação.”
“Certo,” respondi. Fazia sentido. Mas não me dei por vencido: só desligaria quando estivesse plenamente satisfeito.
“E a cola?”
“Para as aulas de artes, claro” — ela respondeu. “Assim como as cartolinas.”
“Mas, diretora, são vinte folhas! É mais do que necessário, não?”
“Não. A gente pede muita folha porque as crianças ou estragam a maioria ou dão um fim nelase a gente precisa repor. Aliás, essa é a mesma razão por que pedimos cinco apontadores, oito réguas e duas resmasde papel A4.”
Minha nossa. Essa me pegou de surpresa. Ela estava chamando as crianças de descuidadas?
“Claro que não, senhor. Mas o senhor tem de perceber que crianças perdem coisas.”
Minha nossa, ela tinha uma resposta para tudo na ponta da língua! Mesmo pensando que aquele era um argumento infundado e não querendo aturar, acabei me conformando. Meu filho vivia perdendo coisas.
“Tá bom” agora me preparava para minha pergunta derradeira. Era agora ou nunca. “E como é que a senhora explica esses dois quilos de arroz, dois de feijão, cinco ovos, carne e farinha de mandioca?”
E a diretora do outro lado da linha deu um risinho de desentendida. “Como é que é, senhor?”
Quando eu ia repetir, percebi que era a lista de compras que minha esposa tinha anotado na folha. Desliguei na hora. Ufa! Ainda bem que não tinha me identificado.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageFri, 26 Aug 2022 - 45min - 211 - Episode 185: Long-distance relationships
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Até me considero um cara de mente aberta, mas tem coisas que nãome entram na cabeça. Uma delas tem a ver com meu amigo, Edu. Edu é um homem muito bacana, inteligente e bem-apessoado. Porém, também é viciado em trabalho, e por isso acaba não conhecendo ninguém. Quando quis apresentá-lo a uma amiga, ele me disse que era comprometido. Como? Ele namorava uma mulher da Irlanda – as coisas tinham ficado mais sérias havia uma semana.
Fiquei sem saber como reagir. O Edu estava num relacionamento a distância? Todo mundo sabe que esse tipo de relacionamento é para lá de difícil. Se num relacionamento cara a cara já é difícil superar as dificuldades... Imagine num relacionamento que você não vê a pessoa por, sei lá, 10, 11 meses por ano?
Até entendo que ele queira se envolver nesse tipo de coisa, mas para mim é primordial o contato físico. É necessário pelo menos ver a pessoa com quem você está. Tudo bem, a pessoa pode fazer uma chamada de videoconferência e conversar, mas não é a mesma coisa, sabe? Primeiro, porque o que os olhos não veem, o coração não sente. Se ela vai a uma festa e encontra um cara bonito, é muito difícil resistir à tentação e não passar um chifreno namorado virtual. Além disso, quando o Eduardo vir as fotografias dela, com certeza vai sentir ciúmes. Ele é bonito, como eu disse, mas talvez ela tenha amigos mais bonitos. Essa constante dúvida de “será que ela tá com outro?” pode desencadear uma crise no relacionamento.
Ao que vem o segundo ponto. Como é que eles vão contornar as crises? Uma coisa é você soltar os cachorros em alguém que está na sua frente. Outra coisa é você guardar toda aquela raiva até ter uma chance de fazer uma chamada de vídeo com alguém.
Claro que não é necessário ficar naquele grude que esses namorados normalmente ficam. Mas é pelo menos ver a pessoa, tocar nessa pessoa e sentir o companheirismonos momentos difíceis e alegres também. Sem contar que se não vir a pessoa e não puder tocá-la, como é que vai se manter o tesão da relação? Vão se relacionar pelo computador? Como é que isso funciona?
Eu entendo que ele queira seguir com essa ideia. E acho que esse relacionamento ainda vai render muita história – só não sei se boa ou ruim.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 18 Aug 2022 - 36min - 210 - Episode 184: Talking about Furniture
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Sempre acreditei que “quem casa, quer casa” e, por isso, quando o meu relacionamento com a Natália se firmou e vi que era com ela que queria trocar as alianças, tratei de arranjar um apartamentozinho. Era bonito, meio pequeno, mas dava a impressão de ser espaçoso porque não tinha um móvel sequer.
Natália então me disse: “é melhor a gente mobiliar a casa, para ficar com a cara da gente.” E começou a fazer planos.
Primeiro, a sala. Tinha que ter uma mesa de centro com tampo de vidro, que era para colocar os porta-retratos – assim, a mãe dela ia ver que a filha se lembrava dela. Claro, não podia deixar de ter um sofá de três lugares e pelo menos uma poltrona. A poltrona era para mim, claro. Eu gostava de assistir futebol aos domingos, e ela ia colocar umrackpara a TV de LED. Já até podia me imaginar bebendo cerveja e assistindo.
A sala precisava de uma estante? Talvez. Era bom ter uns livros, mesmo que a gente não lesse.
Mais alguma coisa para a sala? Um tapete para a porta, para as visitas limparem os calçados.
Ótimo. Fiz as contas, mas quando ia dizendo quanto isso ia custar, minha namorada me interrompeu. Ainda faltava o quarto, claro.
A gente tinha só uma cama de solteiro. Por mim, tudo bem. Somos pequenos, os dois, a cama até dava, mas se eu sugerisse mantê-la, ela ia me azucrinar pelo resto da vida. Então agora teríamos que ter uma cama de casal. E como Natália gostava de ler, queria ter uma mesa de cabeceira, para botar o livro dela lá antes de dormir. Então já íamos ter uma cama – com cabeceira– e uma mesa de cabeceira para acompanhar. “E some-se a isso o guarda-roupa!” Quando mencionei isso, a Natália me interrompeu:
“Não, a gente precisa de um guarda-roupa e de uma cômoda! E você acha que vou ler no escuro? Também quero uma luminária para a mesa de cabeceira.”
E ela saiu do quarto olhando para as paredes da casa, pensando no que mais podia comprar para deixar a casa “com a nossa cara”.
E eu não sei se vou ter é carapara ir à loja e comprar tudo isso no crediário.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 10 Aug 2022 - 38min - 209 - Episode 183: Talking about Rain
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And here is the monologue for your benefit:
Antes, quando morava no Ceará, dificilmente me atentava à previsão do tempo. Era raro eles acertarem, e quando davam uma dentro, o acerto pegava todo mundo de surpresa. E lá não tinha muita variação, sabe? Ou estava um dia lindo, ensolarado, ou era tempo chuvoso. E no Ceará, quando chovia, não era esse chuvisco que os paulistas chamam de garoa. Era um aguaceiro medonho. E nos dias que ficavam que nem chovia nem fazia sol, com o tempo nublado, era um tempo abafado de deixar difícil de respirar.
Nos dias de chuva, ali por meados de março, abril, a gente ia toda tomar banho de bica. Tinha que olhar bem para o telhado da casa, para ver se não era sujo. Às vezes, os gatos faziam cocô na calha, e era perigoso tomar banho com aquela água.
Mas claro que, quando era um temporal, os pais não deixavam os filhos saírem.
Quando me mudei para Salvador, vi que, aqui, a coisa é bem diferente. Primeiro, porque aqui faz um frio danado. A gente até precisa usar agasalho quando faz muito frio. E na época de chuva, cai sempre um toró. Acho que, como o mar é perto, o vento fica mais forte, e venta muito, de ouvir “uivo”, acredita? Pois é.
O ruim da chuva em Salvador é que, como muitas casas infelizmente foram construídas em encostas ou perto delas, tem muito deslizamento. Quando a gente dá fé da coisa, vem aquele lamaçal descendo ladeira abaixo. É uma tristeza, porque muitas casas são destruídas assim e famílias perdem o seu lar.
Agora, diferente do Ceará, ninguém aqui espera a chuva estiar não. O pessoal coloca uma capa, empunha um guarda-chuva e vai enfrentar o dia.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 04 Aug 2022 - 43min - 208 - Episode 182: Going to the Bakery / Deli
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Uma amiga minha, a Nicole, estava de passagem aqui por Salvador. Vinha para uma conferência ou coisa assim. Como fazia séculos que a gente não se via, pedi folga no trabalho para revê-la.
A gente se encontrou na rodoviária. Era a mesma Nicole de sempre: roupas simples e um sorriso enorme. A gente pegou um táxi e tagarelou o caminho quase todo. A ideia era ir para um shopping, mas a Nicole disse que, já que estava em Salvador, não queria ir a um shopping, porque só o que tem por aí é shopping. Concordei e sugeri que fôssemos a uma padaria e delicatessen que conheço – é um lugar bem-arrumado, climatizado e meu estômago estava roncando. A gente podia conversar e, de quebra, encher a barriga.
Na padaria, a Nicole ficou deslumbrada– tinha tanta coisa que ela mal podia escolher. A gente pegou as bandejase foi para a fila do balcão, para pegar a comida. Ela pegou um pão francês, dois biscoitos integrais e algumas rosquinhas para começar. Eu peguei um pedacinho de bolo com coberturade chocolate, só para abrir o apetite.
Sentamos para conversar. Em dois minutos de conversa, Nicole se levantou, fatiou um bolo em camadas que ainda não estava fatiado, pegou uma dúzia de bolinhas de queijo e um misto-quente. Ela ainda passou uma quantidade generosa de manteiga em cima do pão e voltou.
Conversa vai, conversa vem e mais uma vez lá se foi Nicole buscar um salgado de massa folhada, que começou a se esfarelar quando ela o pegou. Depois que ela botou aquilo para dentro, se levantou e foi buscar mais uma torta salgada, outro pão francês, ovos mexidos e devorou tudo. Por fim, dois minutos depois, com comida ainda no prato, ela foi de volta ao balcão de comida, pegou uma musse, uma rodela de abacaxi e fez cara feiapara os suspiros. “Não como nada com corante”, ela disse. Não sobrou um farelinho para contar história. No final, como saideira, ela encheu um copo de café com leite – copo mesmo, não xícara – e colocou três sachêsde açúcar mascavo, para adoçar um pouquinho.
Mal toquei no meu bolo. A fome passou só de olhar a Nicole se empanturrando.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 28 Jul 2022 - 50min - 207 - Episode 181: Talking about Financial Losses
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Quando minha cunhada me convidou para participar de uma reunião de negócios, fiquei alvoroçado: fazia dois meses que tinha perdido o emprego e estava vendo minha poupança sendo corroídapelas despesas da casa. Uma chance de ter alguma receita entrando não podia me escapar pelos dedos, ainda mais quando até a sapatariaestava ameaçando protestar o meu nome.
No dia da reunião, fui vestido mais formalmente, de terno, mas tive uma surpresa: todo mundo estava vestido bem casualmente. Tinha algo a ver com o fato de quererem “proporcionar uma atmosfera receptiva” ou coisa que o valha. De todo modo, eu estava dando na vista.
Mas aí o figurão lá começou a apresentar a oportunidade de investimento – era para vender suplementos e outros produtos de alimentação equilibrada. Como ele mesmo disse, todo mundo quer perder peso, ganhar peso, ou manter o peso, então tinha cliente em todo lugar.
Bom, até fiquei interessado, mas quais eram os termos do investimento? Afinal, não podia colocar meu dinheiro em qualquer lugar e ficar no prejuízo, especialmente agora que o que tinha mal dava para quitar as contas do mês. Depois que falei isso, o “presidente” – era assim que o chamavam – disse que eu sossegasse. Com um investimento módico de dez mil reais, eu adquiriria um estoque inicial de produtos. Poderia abrir um Espaço de Alimentação Saudável, vender tudo rapidinho e faturar até 35% limpossobre o valor de venda. Reinvestindo parte do montante do lucro, podia vender mercadoria suficiente para me garantir pelo menos seis mil reais de lucro líquido todos os meses.
Um feito e tanto, concordei. E fui logo assinando.
Uma semana depois, chegaram à minha casa vinte e cinco caixas com produtos diversos – potes, frascos e garrafas de suplemento e comida. Duas caixas vieram avariadas e os produtos, danificadose irrecuperáveis. Tudo bem. Já tinha alugado um Espaço e comecei a vender, mas os produtos eram muito caros. Meu bairro era popular. Fiquei triste, mas continuei. Um mês depois, meu negócio foi para o buraco. Tinha despesademais para pagar, e o que arrecadava mal cobria o aluguel do ponto.
Agora estou aqui em casa, com quase oito mil reais empatados e um rombo enorme na minha conta. Acho que vou acabar entregando os pontos.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 21 Jul 2022 - 43min - 206 - Episode 180: Talking about Piracy, part 2
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Saying "tá assim de" (watch @ 50 seconds): https://www.facebook.com/watch/?v=1273486393046202
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A Jamile pode até ser minha amiga, mas que ela sempre está envolvida em algum trambique, ela está. E o pior é que até tento incentivá-la a sair desse mundo de falcatrua, mas ela é mais teimosa que jumento.
Ela começou baixandofilmes piratas na internet. Não era lá grande coisa, em especial estando aqui no Brasil, onde quem não pirateia ou está morto ou é doido. Lá na vizinhança mesmo está assim de gente que faz gatode energia, água e, pasmem, até internet. Então, baixar filmes piratas era o de menos.
Depois ela deu outro passo – foi de baixar filmes a vendê-los. Só que ela tinha muito esmero no que fazia. Vendia os filmes nuns estojos que pareciam originais. Outros filmes piratas custavam uma bagatela, mas na mão dela sempre saía mais caro, porque ela passavao freguêspara trás, vendendo muamba como se fosse produto legítimo.
Mas um dia a polícia descobriu e apreendeutudo. Não foi presa por um triz.
Daí então ela disse que tinha mudado. Começou a andar na linha. Não ia mais se envolver nessas falcatruas. Se fosse vender coisas, agora era só original. Mas a gente perdeu contato e só vim revê-la anos mais tarde. Ela agora estava vendendo uns perfumes e cosméticos. Eram produtos de “contratipo”, que, a meu ver, era pirataria, mas ela esclareceu tudo: são produtos inspiradosem perfumes famosos. Bom, como eu gostava de um bom perfume, por que não comprar?
Pedi logo três frascos. Produto de marca é caro, e como ela disse que os ingredientes eram os mesmos, resolvi dar uma chance. Mas depois de uma semana usando, percebi que eram todos fajutos, da pior qualidade. Que golpe sujo! Ainda acreditei no papo daquela santinha do pau oco, e ela me botou no bolso.
É como dizem. Todo dia saem de casa um malandro e um otário. Quando se encontram, eles fazem negócio. E nessa história, adivinha quem foi a otária — euzinha aqui.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 14 Jul 2022 - 40min - 205 - Episode 179: Bad Manners
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Desde que me acidentei e não pude mais trabalhar fora, comecei a fazer salgadinhos para me bastar. Sei que minha família me ajuda, mas não quero ser um peso para eles. E até acabei descobrindo que sou um cozinheiro de mão cheia. De forma que, nas últimas semanas, muitos dos meus parentes que tinham sumido resolveram aparecer para filar uma boia.
Os últimos que vieram foram minha irmã e o filho xucro dela. Não vou com a cara daquele sujeito desde que ele era um bebezinho. Já nasceu com cara de velhaco. Era uma criança malcriada, e como a mãe o mimava, acabou crescendo achando que tinha o rei na barriga.
Mas fazia cinco anos que eu não os via, então quem sabe a coisa pudesse ter mudado de figura.
Fiz uma pizza de liquidificador para eles. Era um prato simples de fazer e gostoso de comer, além de eu não precisar gastar nada, já que tinha os ingredientes na minha casa. Fiz tudo com o maior gosto, caprichei no recheio e servi os dois.
Antes não tivesse servido nada.
O menino pôs de ladotoda a cebola que tinha na pizza. “Não gosto muito, tio,” ele disse olhando para mim com aquela cara deslavada. Minha irmã só sorria amarelo. Então ele pegou a fatia com as mãos – sujas, diga-se de passagem – e a meteu na boca com tudo, engolindo quase sem mastigar. Não sei como aquele infeliz não se engasgou, comendo com tanta agonia. Depois de engolir, ele lambeu os dedos, fazendo uma barulheira, e ainda teve o desplante de enxugá-los na toalha da mesa. Eu olhava para tudo isso altivo, tentando me controlar diante da empáfia daquele boçal enquanto conversava com minha irmã. Ela mesma não sabia onde enfiar a cara.
E ele repetiu isso com outro pedaço da pizza. E outro, mais outro e outro.
No fim, deu um arroto bem alto e disse: “tá salgada, né, tio? Carregou no sal, hein?”
Aí para mim não deumais. Dei uma porrada na mesa e mandei que minha irmã levasse aquele grosseirãoda minha casa. Eu não era obrigado a aguentar esse tipo de insulto não. Que viesse na minha casa e fosse um porco, tudo bem. Mas falar mal da minha comida, do meu ganha-pão? Isso eu não admito nem aqui nem na China.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 06 Jul 2022 - 50min - 204 - Episode 178: A Toxic Relationship
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And here is the monologue for your benefit:
Todo mundo começa essa história com “tenho um amigo que...”, então vou abrir o jogo com você e dizer que sou eu mesmo. E eu tenho um problema com minha namorada.
Eu conheci ela no trabalho. Ela é de um departamento e eu, de outro. A gente não se bicava, mas era porque a gente só se via no trabalho. Eu já gostava dela, mas não me atrevia achegar perto e levar um fora. Um dia, num happy hour, eu estava meio alto e tive coragem de enfrentar meu derrotismoe falar com ela. Vai que rolava alguma coisa, né? E rolou.
No começo fiquei feliz como pinto no lixo, mas coisa de mês e meio de relacionamento e minha paixão já tinha para as cucuias. Não sabia que ela era tão pancada. Primeiro por causa dos livros que ela lê e que me deu: são todos de autoajuda. Ela endeusa esses empresários famosos. Quando eu critico eles, ela diz que eu devia deixar de resmungar, ver pelo lado positivo e tentar ser mais parecido com eles. Quem sabe eu não arranjava coisa melhor que trabalhar numa empresinha de quinta categoria?
Essa me pegou em cheio. Posso até não gostar do marasmo da empresa, mas pelo menos eles me pagam na data certa. E sei que, com minhas qualificações, não vou conseguir coisa melhor no curto prazo. E isso não é ser pessimista, é ser realista.
Até queria fazer algo por conta própria. Nesse mês que passamos juntos, apresentei trocentasideias de negócio. Mas ela dizia não para cada uma. Até chegou a me vaiaruma vez. Fiquei acabrunhado, num desalento enorme, porque, bem, que balde de água fria... Ela enalteciacada ideiazinha idiota desses empresários, mas as minhas, que até tinham futuro, ela atacava.
E quando disse que tenho um problema, pensando bem, acho que não tenho não. Porque, conversando com você, vi que estou com a faca e o queijo na mão. Não vou ficar apagado, junto de alguém que só me bota para baixo. Posso até ser um pouco pessimista, mas ela não é otimista. Ela é tóxica.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 30 Jun 2022 - 44min - 203 - Episode 177: Views on Relationships
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And here is the monologue for your benefit:
O Rômulo reclamava que estava encalhado havia um tempão, mas ele também não fazia por onde. Escuta só, que você vai entender.
Eu conheci o Rômulo na faculdade. Já naquela época ele era ligado nesses negócios de poesia. Vivia dando cantadanas minas da nossa turma, mas sempre dava com os burros n’água. Primeiro, porque as cantadas eram de uma frescura sem tamanho. “Ó, minha amada, dos olhos azuis” blá, blá, blá... quando ele terminava, mesmo que a mina tivesse a fim dele, ela fugia como o diabo foge da cruz.
Eu ainda tentei dar uns toquesa ele, mas ele me desdenhava. Dizia que “um dia ele encontraria seu xodó”, mesmo que demorasse décadas, porque, se não fosse ali que ele encontrasse sua metade da laranja, seria noutro lugar. Por isso, ele continuaria sendo o cavalheiro que era, porque, um dia, ele encontraria uma dama. Ele acreditava em amor à primeira vista.
Jácomigo não tem essas besteiras.
Primeiro, porque vivo nas baladas. Na noitada, a gente paquera todo mundo, fica com quem aparece pela frente, dá em cima de todo mundo... tem que chegar de supetão, mandar a real, dizer que achou ela a maior gata e tascar um beijo. Eu passo o rodo mesmo. Gostou de mim? Ótimo. Não gostou? Próxima, porque a fila anda.
Não vou ficar flertando com uma mocinha como se a gente estivesse na época dos meus avós, que o cara tinha de fazer galanteios para conquistar a mulher, ainda tinha que pedir permissão aos pais e, se os pais não te achassem um bom partido, ainda que fosse charmoso, não tinha uma chancezinha sequer.
Aí recentemente falei com o Rômulo, e ele me contou as novas. Agora ele é o feliz “namorido” de outra de nossas colegas de faculdade. Fico feliz por ele, mas... “namorido”? Sinceramente, essa vida de casado não me atrai. Meu negócio é curtir.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 23 Jun 2022 - 47min - 202 - Episode 176: One Day at the Hairdresser's Salon
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And here is the monologue for your benefit:
Comecei a trabalhar de cabeleireiro quando o bicho pegou aqui na cidade. Era só para ser um bico, mas fui pegando gosto pela coisa e, quando me dei conta, já tinha um salão e andava ocupado como o quê. Além do quê, é um trabalho bem rentável.
Num dia comum – e um dia comum é um dia cheio –, a agenda está lotada com uma semana de antecedência. Não atendo mais ninguém sem reserva, nem se for o Papa.
Hoje, por exemplo, tem uma mulher que tem uma franjamuito bonita, mas que está muito grande. Ela quer que eu corte um pouquinho e ajeite o resto do cabelo. Ela pediu que repicasse o cabelo, para ficar como a Jeniffer Aniston. Tadinha. Nem se nascesse de novo. Mas vou fazer. O cliente manda, a gente faz.
Outra vai para um casamento — é a noiva — e chegou aqui ofegante. Mesmo com o horário reservado, ela ainda está sem tempo. Fiz um penteadodifícil. Ainda tive de retocar a cor da raiz, porque estava desbotando, e a tintura estava faltando. Tive de mandar buscar longe. Enquanto pedi a um dos meninos para ir buscar, fui dar o acabamento no penteado de outra cliente. Passei o laquêpara segurar o penteado e a cliente ficou muito satisfeita com o resultado.
A tintura da noiva chegou. Quando fui fazer meu trabalho, chegou a dama de honra da noiva. Queria que eu a encaixasseem qualquer horário, porque precisava de um penteado bonito. Eu disse: “não, querida, aqui só com reserva.” A noiva me implorou para encaixar a amiga e me prometeu pagar o triplo se eu a encaixasse.
Pedindo assim com jeito, a gente deixa.
E era um trabalho até rápido. Ela tinha cabelos lisos, mas queria cachear para dar volume. Esse povo, viu? A gente dá a mão, já que logo o pé. Cachear aquele monte de cabelo ia dar o maior trabalho. Por sorte, consegui convencê-la a não fazer aquilo quando lhe disse que ia demorar. Então, no fim, foi só passar uma prancha, colocar umas presilhas, uns grampos de cabelo e pronto – feito o trabalho.
E ainda embolsei uma grana. E esse é um dia de trabalho comum para mim agora.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 16 Jun 2022 - 44min - 201 - Episode 175: Crisis at Work
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And here is a transcript of the monologue for your benefit:
Quando digo que vivo de fazer malabarismo, o pessoal acha graça. Pensa que estou brincando, já que, na maior parte do tempo, me veem saindo por aí, visitando parentelanoutros estados e viajando. Mas o fato é que tenho a impressão de viver apagando incêndio.
Só para você ter uma ideia... Na facçãoda qual sou sócia, semana passada, recebemos um pedido enorme de roupas. Era uma oportunidade de ouro. Nessa conjunturaeconômica, o que cair na rede é peixe, e ter um pedido grande desses pode ajudar qualquer empresinha, ainda mais uma como a nossa, que está endividada até o pescoço. O único problema foi o prazo apertadoque nos deram: um mês. Íamos precisar trabalhar rápido e sem erros com a equipe que tínhamos, mas tivemos um desfalque – uma de nossas melhores costureiras pegou covid e agora estamos trabalhando dia e noite para terminar no prazo.
E como uma desgraça nunca vem só, um ladrão entrou na facção e roubou um monte de peças de roupa. Só não deu zebra geral porque consegui um empréstimo no banco e contratei outras duas costureiras temporariamente para pelo menos nos ajudar a apagar esse incêndio.
Essa já era uma batata quentepara a gente resolver, mas, como dizem por aí, não há nada tão ruim que não possa piorar. O nosso fornecedor de aviamentosatrasou a entrega do último lote. Tentamos comprar tudo com outros fornecedores, mas infelizmente estava faltando tudo na nossa região. Estávamos perdidas no mato sem cachorro. Todo mundo ficou tenso, porque, se não chegasse esse material, não dava para continuar a produção. E aí ia ser uma catástrofe.
Mas a gente vai tocar o bonde.
Vai dar tempo de terminar? Não sei, mas a gente ia peitar essa na raça. Na hora H, é sempre aquela: ou vai ou racha.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 08 Jun 2022 - 47min - 200 - Episode 174: Conflict Between Generations
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Já não reconheço essa empresa. Quando cheguei aqui, isso era um lugar de vergonha. As pessoas chegavam na hora e arregaçavam as mangas. E elas não se recusavam a usar a farda da empresa! Às cinco, todo mundo parava o que estava fazendo e seguia para o ônibus da empresa, para voltar para casa à noite e viver sua vidinha honesta.
Aí me chega um sujeito todo tatuado, com mil e uma ideias de como melhorar o processo de produção. Como melhorar o processo... Kkk, como se eu não conhecesse o processo. Trabalho aqui faz trinta anos, não arredo o pé daqui porque gosto do que faço e sei o que estou fazendo, e aí vem um menino, porque é isso que ele é, um menino, e vem tentar me ensinar um truque novo.
Fui reclamar com o meu gerente. Como temos um bom relacionamento, podemos falar um com o outro de igual para igual, ainda que eu esteja num nível mais baixo da hierarquia. E eu disse para ele:
— Veja bem, Celso. Eu sou veterano aqui, com não sei quantos anos de empresa, e um moleque vem me dizer o que fazer. Essa não aceito.
E o Celso ri e me diz que “é só um conflito intergeracional.” Diz que sou um “velhote histérico” e que daqui a pouco me aposento. Então é melhor nem esquentar a cabeça com isso.
É mesmo? Agora sou um velhote histérico que está dando ataque de pelanca?
Não sei o que esses jovens estão pensando da vida. A maioria é como meu neto – só sabe olhar para o próprio umbigo e acha que tem direito a todo tipo de regalia. Mas eles não devem nunca dar duro num emprego, comprar uma casinha, constituir família e viver uma vidinha honesta... a maioria se acha predestinada a grandes coisas, mas no final ficam de mimimi ao primeiro sinal de dificuldade. Não são maduros. Se dizem despojados e querem ter o próprio estilo, mas são mesmo descuidados, não se vestem direito, não cuidam da aparência...
Mas no fim o Celso acaba dando a razão ao moleque e diz que é melhor eu aceitar e acompanhar, porque senão fico para trás.
Ah, tá. E agora que a empresa me explorou de todo jeito, querem que eu venha a obedecer a cada capricho de um pirralho desses. Só se for mesmo.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 01 Jun 2022 - 50min - 199 - Episode 173: Memories of the Library
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And here is the monologue for your benefit:
Já nem me lembro da última vez que pus os pés na biblioteca, e agora que estou voltando lá fico bastante animado. A memória do dia que fiz meu cadastrolá ainda está vívida. Fui para o balcão de atendimentoe perguntei como podia tirar minha carteirinha. A bibliotecária que atendia na época parecia estar sempre aborrecidacom algo, mas era só de fachada — uma palavra com ela e ela sorria numa simpatia sem par. Me pediu meus documentos, um comprovante de residência, assina aqui, carimba ali e pronto: eu era o feliz proprietário de uma carteirinha de usuário da biblioteca.
Na época, o acervo era mirrado. Os livros mais populares tinham poucos exemplares. E muitos dos livros úteis faziam parte do acervo cativo, desses que não saem de jeito nenhum da biblioteca. A hemeroteca era uma mesa só e tinha poucos periódicos. Por causa dessa escassez, sempre que eu pegava um livro emprestado, a data de devolução era dois dias a contar da data do empréstimo. Podia renovar, desde que ninguém tivesse reservado o mesmo livro. E quando pegava o livro, a bibliotecária tinha que anotar tudo à mão num cartãozinho que ficava na contracapa da parte detrás do volume.
Não tinha muita gente frequentando a biblioteca naquele tempo, mas era porque ninguém tinha o costume de ir procurar livros nas prateleiras das estantes de uma. E o horário de funcionamentotambém não ajudava nada, nada – a biblioteca abria dez da manhã e fechava três da tarde. Como um trabalhador ia lá nessas horas?
E agora que voltei à minha cidade natal, decidi ir à biblioteca. Como disse, estava animado – será que tudo ia estar mais moderno, maior? Porém... que decepção! Foi chegar lá e ver que aquele lugar estava entregue às baratas. Os livros estavam empoeirados, as estantes, vazias, e não tinha uma alma naquele lugar fora a bibliotecária (que, por sinal, era a mesma). Entrei esperando a Biblioteca Nacional e dei de cara com o Museu Nacionalpós incêndio.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 25 May 2022 - 47min - 198 - Episode 172: Talking about Being Distracted
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And here is the monologue for your benefit:
O Thiago sempre foi um cara muito focadoe aplicado no trabalho. Me espelhava nele para desenvolver meu trabalho aqui na empresa. Mas recentemente o Thiago deu um cavalo de pau na carreira dele e está indo de mal a pior.
E tudo começou com uns lapsos de memória. Aqui e ali ele se esquecia de um pedido de um cliente. Ficava olhando para o nada por minutos até que alguém batesse no ombro dele e dissesse: “ei, cara, tá desligado por quê? É melhor voltar ao trabalho.” Ele sorria desconcertado e replicava que estava pensando nos jogos que tinha comprado.
Jogos! Mais essa agora. Fui conversar com ele. Disse ao Thiago que ele tinha sido um modelo para mim, mas que agora eu estava estranhando a conduta dele no ambiente de trabalho. Ele me perguntou se eu sabia o que era um streamere eu respondi que sabia por alto, mas nunca me deu vontade de ir a fundo no assunto. Ele confessou que estava planejando iniciar uma carreira de streamer, porque era essa a sua paixão. Paixão... estava mais para recreação. E então ele começou a divagar, falando que nunca tinha seguido seus sonhos, que a vida era muito curta para ser desperdiçada a serviço de uma empresa e tal e tal e tal. Ainda tentei dar uns conselhos a ele, que procurasse um psicólogo, porque, pelo andar da carruagem, ele ia acabar no olho da rua rapidinho. Mas foi tudo em vão: ele se fez de surdo e continuou com aquela ideia na cabeça.
Não vou mentir: comecei a pensar nos meus sonhos também. Até tentei me inteirar um pouco daquele negócio de streaming, mas estava muito aturdido com o volume de trabalho que comecei a ter depois que o Thiago passou a trabalhar menos.
Os dias foram passando e ele estava mais apático e descuidado, até que, em plenasegunda-feira, ele pediu demissão.
Tinha conseguido um contrato supimpacom uma empresa de jogos. E eu fiquei lá, chupando dedo.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 18 May 2022 - 44min - 197 - Episode 171: Talking About Drugs
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And here is the monologue for your benefit:
Às vezes o pessoal zomba da minha mania de recorrer a ditados para explicar o que vejo. Mas faço isso porque sempre acabo tendo razão no final. E o ditado que eu mais uso é “Diz-me com quem tu andas e te direi quem és.”
Um amigo meu, Pedro, começou assim. Primeiro, Pedro sempre foi um rapaz tímido, mas queria se entrosar com um grupinho de intelectuais da faculdade. Ele se enxergava como escritor. Os “intelectuais” — que para mim estavam mais para intelectualoides— bebiam feito gambás. Era para buscar inspiração, diziam. O Pedro começou a tomar umas para acompanhar os amigos... e também para buscar inspiração.
Eu quis dissuadi-lo e disse a ele que cachaçaera quase sempre a porta de entradapara drogas mais pesadas. Mas quem disse que ele me deu ouvidos? E em pouco tempo saiu de um bebedor casual para um alcoólatra contumaz. Depois de dois meses, estava tão fissurado no álcool que mal frequentava o curso. Ou estava bêbado, ou estava de ressaca. Ainda tentei dar um conselho ou outro. Mas sempre que eu mencionava a palavra “vício”, ele retrucava:
“Viciado? Quem aqui está viciado?”
Entendo que é o barato é bom. A gente se esquece dos problemas. De repente pensa com maior clareza. Eu mesmo adorava a lombra que vinha depois de umas tragadas de maconha, mas sair daí para drogas mais pesadas é um pulo. Além do quê, usar drogas pega muito mal para o nome de alguém. Ganhar fama de “noiado” é o pior que pode acontecer para quem quer ser um profissional no futuro e ser levado a sério.
Eu consegui largar as drogas, ainda que o desmametenha sido doloroso e os efeitos, perniciosos.
E recente peguei o Pedro fumando maconha. Meu coração ficou apertado, porque sabia que dali em diante era só ladeira abaixo: depois ia para o craque, depois cocaínae quem sabe injetáveis.
Meu Deus, só de imaginar que o Pedro deve estar frequentando bocas de fumo me dá medo do que pode acontecer. Sei que ele não tem um pingo de juízo – as drogas derreteram o cérebro dele – mas vou tentar fazer alguma coisa. É nas horas difíceis que se conhecem os amigos.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 12 May 2022 - 48min - 196 - Episode 170: An Elderly Mother
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Minha mãe sempre foi uma mulher de fibra, mas de uns tempos para cá anda precisando de amparo.
Depois que papai morreu, mamãe ficou muito abatida, mas segurou as pontas como pôde. Porém, essa desgraça associada à idade avançada dela acabaram deixando sequelas.
Primeiro, mamãe andava muito avoada. Uma vez cheguei na casa dela e senti um cheiro de fumaça. Meu coração deu um pulo – pensei que a casa estivesse em chamas. Arrombei a porta, corri para dentro e quando vi, a mãe tinha colocado água para ferver e tinha saído.
E manter uma conversa com ela está difícil. Ela está ficando muito esquecida. A memória falha aqui e ali, e ela vive perdendo o fio da meada. Começa uma frase, não termina, começa outra, não termina... meu irmão mais novo diz que isso é o primeiro sinal de senilidade, que mamãe talvez precise ser internada numa casa de repouso. Minha irmã diz que isso é sintoma de Alzheimer e o melhor era levar a mãe para fazer uma bateria de exames. Sei que minha mãe ainda está com a cuca boa, apesar das dificuldades, e que não está gagá– ela entende tudo o que a gente fala, talvez só não consiga responder com a mesma velocidade que costumava. E meus irmãos falam com a mãe como se ela fosse uma criança, com uma voz estranha e um jeito infantil.
A mãe ainda não precisa de cuidados mais intensivos – não precisa nem de fralda nem de quem a ajude no banho. Está com uma dificuldadezinha de andar? Está, mas nada que uma bengala ou um andador não resolvam. E quando ela precisar de mais ajuda que isso, a gente bem que podia contratar uma cuidadora.
Mas meus irmãos são veementementecontra isso – contratar uma “babá” para nossa mãe ficar em casa é um gasto impossível para eles. Eles querem colocá-la numa casa de repouso qualquer, só para se verem livres da velha. Com a aposentadoria dela, não dá para pagar muita coisa, então ela ia acabar ficando na primeira espelunca que a aceitasse.
O pior é que, de tanto eles falarem em meter a mãe numa casa de repouso, ela acabou comprando a ideia e disse que não quer ser um fardo na vida de ninguém.
Ela pode ficar caduca e se esquecer de mim, mas vou cuidar da minha velha. Sou grato a ela por tudo o que ela fez por mim e acho que ela merece um restinho de vida com dignidade.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 04 May 2022 - 46min - 195 - Episode 169: A "Poor" Friend
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Todo São João a gente convida a Jordana para sair com a gente e toda vez é a mesma resposta: não quero gastar muito dinheiro, foi mal.
Conheço a Jordana desde que me entendo por gente. Nascemos numa cidade pequena. Não somos pobretonas, mas também não somos ricaças. Se você nos visse, diria que somos bem de vida, tipo classe média. A Jordana ainda teve mais sorte, porque os pais dela lhe davam tudo assim, de mão beijada, enquanto eu ainda sofri um bocadinho na vida – meus pais me davam roupas esfarrapadas, e me faziam contar moedas, para eu aprender a valorizaro dinheiro.
Mas conforme fomos crescendo, a Jordana foi adquirindo uns hábitos estranhos.
Primeiro foi o de acordar ultra cedo. “Deus ajuda a quem cedo madruga,” ela vive dizendo. Até aí tudo bem – tem doido para tudo. Depois ela passou a dar esmola a tudo quanto era de mendigona rua. Não tem problema – também faço isso de vez em quando. Mas nunca vou atravessar a rua só para falar com um indigente e lhe dar meu suado dinheirinho. Quem quiser aprender a pescar, eu ensino, mas o peixe é que não dou. Não vou ajudar qualquer pé rapado só porque ele deu o azar de ter nascido na pior e eu, não.
Aí ela me sai sempre com uma de: “Mas Alana, devemos ter pena dos mais desafortunados e dos mais humildes! Eles não têm culpa da própria condição.” E eu? Por acaso tenho culpa deles serem pobres? Ora essa. Quem tem pena é galinha!
Quero ver é quando ela estiver na lona, se vai ter algum zé-ninguém que ajude.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 27 Apr 2022 - 38min - 194 - Episode 168: First Aid
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O que vou dizer pode ser um pouco chocante, mas me ensinou uma lição.
Tinha uma senhorinha muito idosa que convocouos irmãos para o jantar de Natal. Eles tinham mais ou menos a mesma idade, mas não estavam nem de longe com o pé na cova. Pelo contrário: eram um poço de saúde e disposição. Mas no jantar, um dos irmãos, que estava comendo peixe, não se atentou para a espinha e se engasgou. Todo mundo entrou em desespero. Sim, estavam com saúde, mas ninguém sabia o que fazer naquela hora. O coitado do irmão estava se asfixiando, desamparado, quando alguém teve a ideia de agarrá-lo por trás, dar um apertão e zás, lá se foi a espinha de peixe voando para fora da boca dele.
Quando ouvi essa história, vi que era melhor fazer algo para evitar. Fiz um curso de primeiros socorros.
A primeira coisa que aprendi foi o que fazer no caso de uma emergência. Ficar frio é de suma importância, assim como afastar os curiosos do local. Se a gente se avexar, pode acabar transmitindo pânico para o acidentado.
Se a emergência for uma queimadura, precisa descobrir o grau. Se for queimadura de primeiro grau, a intervençãoé simples. Pode fazer uma compressa de soro fisiológicoou, se possível pode colocar a parte queimada em água corrente. Se for grave, é necessário chamar a emergência imediatamente. Não pode fazer como as pessoas dizem e colocar manteiga na queimadura, hein!
No caso do engasgo da história, o que fizeram foi a manobra de Heimlich. Sei fazer essa manobra em adultos, mas não sei o que fazer no caso de um bebê se engasgar.
Se o problema for envenenamento ou outro tipo de intoxicação, como a que ocorre quando se come algo contaminado ou se toca alguma substância tóxica, o mais importante é nunca tentar provocar o vômito. É importante identificar o agente causador e chamar o atendimento.
Mas pode ser que uma cobra pique alguém – já aconteceu mais de uma vez na empresa onde trabalhava. Nesse caso, se for possível, deve-se capturar o animal peçonhento e chamar o atendimento. Também pode lavar o local com água e sabão neutro. Ah, e torniquetesó deve ser feito em caso de hemorragia, para estancar. Nunca, nunca deve fazer isso no caso de picada de animais peçonhentos.
E caso alguém quebre o braço (aconteceu comigo, numa queda de bicicleta), nunca tente “consertar” a área acometida. Imobilizea pessoa e chame o atendimento. Se a fratura for exposta, pode ser necessário controlar a hemorragia com um pano. Em todo caso, é sempre importante chamar um profissional. O socorrista só intervém para ganhar tempo.
Espero que eu nunca precise usar esses conhecimentos, mas vai que, né?
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 21 Apr 2022 - 39min - 193 - Episode 167: Volunteer Work
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Hoje tive um arranca-rabo com a Cláudia, minha amiga.
Eu sempre fui muito caridosa, e resolvi retribuirà sociedade todas as benesses que recebi. Claro, não escolhi ser filha de quem sou, nem receber a herança que recebi, mas não posso deixar passar despercebido o fato de que, sim, sempre fui privilegiada.
A maneira que escolhi para minha prestação de serviços voluntários foi trabalhando numa ecovila localizada num país distante. Faço parte de uma ONG que trabalha com viajantes que querem se voluntariar em albergues, pousadase hoteizinhos, para fazer a diferença. Normalmente os voluntários precisam dispor de algumas semanas livres, nas quais fazem voluntariado em áreas diversas, como limpeza e manutenção. Nas horas vagas, podem turistar à vontade e conhecer esse mundãoenorme.
A Cláudia diz que isso é “turismo de gente rica que quer parecer pobre”, mas eu acho que isso é só mau-caratismo dela. Quero protagonizar uma mudança na minha sociedade, semearo bem, mas já estou tão mergulhada na minha realidade que preciso conhecer o que fazem noutros países... pelo menos para ter uma ideia.
Ela diz isso porque ficou na nossa cidade natal, fazendo rifapara arrecadar dinheiro para instituições de caridadeque trabalham com crianças carentes da periferia e moradores de rua. A Cláudia afirma que isso está mais alinhado coma ideia de voluntariado, e que o que estou fazendo é só permitir que pequenos negócios me explorem por migalhas.
Não são migalhas. Ela quer ser solidária com um grupo, eu quero ser solidária com outro. Além de poder inaugurarum novo tempo na minha carreira como psicóloga, posso me entregar de corpo e alma à causa das relações internacionais e da diplomacia.
Ela que é recalcada e não quer reconhecer que gostaria de fazer exatamente o que faço.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 14 Apr 2022 - 40min - 192 - Episode 166: Perfomance Review
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Como você sabe, José, chegou a hora da sua avaliação de desempenho. E provavelmente você está ciente de que utilizamos dados precisos para mensurar o seu desempenho ao longo do ano.
No que concerne à sua capacidade de trabalhar em equipe, devo dizer que você deixa um pouco a desejar. Mais de uma vez você se destemperou com os seus colegas de equipe. E uma ou duas vezes, vi que você perdeu as estribeiras. Percebemos até que devíamos aconselhá-lo a procurar um psicólogo, recomendação esta que foi feita pelo RH. Mas até agora não obtivemos nenhum retorno sobre isso.
Quanto à sua performance no que diz respeito à produtividade, foi satisfatória. Tem algumas áreas que carecem de atenção, como a iniciativa. Mesmo tendo um cargo de chefia, você ainda se comporta como um subalterno. Na ausência do Carlos, o departamento é seu e você deve se comportar como o chefe de fato e de direito. E também deve ficar um pouco mais atento à sua eficiência no trabalho. Não sei se foi porque você trabalhou no depósito, mas percebo que você apresenta a malemolênciado pessoal da expedição. E esse tipo de comportamento é como erva daninha. Tem que arrancar pela raiz, senão ela cresce e toma conta de tudo. E embora sua produtividade tenha sido razoável, vejo que você gasta tempo demais ao telefone com os clientes. É muito importante garantir a satisfação do cliente com nossos serviços, sim, mas você deve ficar de olho no relógio. Tudo acaba indo por água abaixo, se você passa muito tempo com o mesmo cliente e sedesleixano atendimento dos outros.
No fim, como nossa empresa quer recompensaraqueles funcionários que apresentam uma melhor performancepor seu trabalho incessante no departamento de marketing, você vai receber um aumento de 2% sobre o seu salário atual. Era para ser um aumento de 6%, mas, por conta dessas manchasno seu histórico, decidimos penalizá-lo de forma mais brandae dar uma chance a você.
Agora, pode voltar ao trabalho.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 06 Apr 2022 - 40min - 191 - Episode 165: A Driving Test
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Até que enfim! Depois de quase cinco meses de noites mal dormidas pensando nesse exame, chegou o grande dia: vou fazer meu exame práticode direção.
Para mim tenho certeza de que vou passar com folga de pontos. Estudei legislação de trânsito e sei tudo de cor e salteado. Já passei nos exames de aptidão e, não conte para ninguém, mas pegava o carro de meu pai na surdina e ia praticar durante a noite no bairro. Tá, não me orgulho disso, mas a gente se vira com o que tem, né?
Bom, agora estou aqui; o avaliador está sentado no banco do meu lado. A primeira coisa que tenho de fazer é... é... regular o banco. Claro. Agora vou ajustar os retrovisores e... e... o avaliador pigarreia... bem, acho que é para colocar o cinto de segurança, claro!
Certo. Agora embreagem e a marcha. Pisar na embreagem e colocar a marcha no ponto morto. Olho de relancepara o avaliador, que está impassível como uma estátua de pedra. Agora vira a chave... vira meia ou completa? Vou de meia, depois de completa. Pronto. O motor pegou. Agora engatar a primeira e... vamos lá... o que fazer agora mesmo? Dar a seta? Acho que sim. Bom, lá vou eu. Dou a seta e vou saindo.
Agora é só fazer as manobras. Controlar a embreagem na descida não é fácil, mas consegui. Encostar o carro alinhado ao meio-fio não foi muito difícil, mas na hora da baliza suei frio. Agora era só correr para o abraço. Dei a rédevagarinho e fui entrando na garagem.
E aí nessa hora o avaliador diz com um sorriso maroto: “você não passou, meu camarada.” Fiquei nervoso. Será que ele queria dinheiro? Já tinha ouvido essa história de que avaliadores pedem suborno, mas não pensava que isso fosse acontecer logo comigo. Eu me viro de uma vez e, quando vou dizer umas poucas e boas, ele me interrompe: “calma, jovem, eu só ia dizer que você arrasou nesse exame. Passou e passou bonito.”
Fiquei feliz, mas saí de lá me tremendo.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 30 Mar 2022 - 42min - 190 - Episode 164: Student - Teacher Quarrel
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Tenho um professor que é o terror da galera. Ele foi militare talvez por isso exiba uma expressão de desprezo total pelos alunos. Se um aluno fala algo, ele torce o nariz. Ele vive gritando ordens com os alunos e diz que a gente é um bando devagabundo.
Mas para uma das alunas já chega. Ela é a Jamile. Antes do professor Raimundo, Jamile chegava na sala com um sorriso de orelha a orelha estampado no rosto, porque sabia que ia encontrar os amigos e também que ia dar uma força à mãe depois da escola. Mas o professor já a importunava logo na entrada, e ela começava a franzir a testa e a mostrar que uma hora ou outra ia mostrar com quantos paus se fazia uma canoa. E naquele dia ela deixou saberque não ia mais levar desaforo para casa.
O professor reclamou que uma das alunas estava atrasada, sendo quenão estava. Jamile intercedeu e o professor rebateuo comentário perguntando se Jamile era advogada. Jamile disse que não era, mas que, se fosse, ia mandar aquele abestado para o xadrez, porque ele se achava demais. O professor ficou vermelho como um tomate e quase teve um piripaque com a afrontada Jamile. Ele se pôs de pé rapidinho e saiu da sala vociferando, dizendo que Jamile ia pagar pela língua, mas o que Jamile fez foi dar a língua para o professor. Quando o diretor veio tirar satisfação, Jamile usou sua língua afiada e quem se deu mal no final foi o professor. Trouxa. Foi demitido por justa causa – assediaros alunos.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 23 Mar 2022 - 36min - 189 - Episode 163 - Talking (mostly) about Similarities
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Cadê os sobrinhos de tia que eu não vejo faz quase um ano?
Ai, Eduardo. Você sabe que no coração de mãe cabe sempre mais um, mas no de tia você ocupa dois lugares. Você me lembra muito meu irmão, o José. Que Deus o tenha. Não sei se sua mãe lhe disse, mas você é o seu pai todo, cuspido e escarrado. Até no jeito de andar é fácil ver a semelhança. Escutar sua voz é escutar seu pai falar: dá no mesmo. E você é trabalhador, igualzinho a ele. Vem cá dar um abraço na tia, vem.
Carlinha, minha filha, e você, como é que está? Cadê os namoradinhos? Olha, não faça que nem a tia e quebre a sua cara tentando se juntar quando ainda é nova não. Namore bem muito. Aproveite sua juventude e depois decida se casar, se quiser se casar. É, sei que você gosta de arremedar sua mãe quando ela diz para você estudar, mas ela está certa. Dê ouvidos a ela.
E Marquinhos, como vai você, meu querido? Deixa a tia apertar a bochecha aqui do bebê, deixa. A tia se derrete por você. E você e o Eduardo são a cara de um, o focinho do outro. Mas, claro, você é muito mais brincalhão que ele... A tia não vai coagirvocê a vir dar um abraço nela não, mas você está com cara de quemestá precisando de um abraço. O que aconteceu? O quê? Seu professor acusouvocê de plágio? Minha nossa senhora, mas é uma acusação grave! Diga a ele que ele vai se ver comigo depois.
Agora, vocês três deem o fora daqui que eu quero ter com a mãe de vocês. Um beijo da tia.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 16 Mar 2022 - 36min - 188 - Episode 162: Speaking of Fast and Slow
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O que começou com um simples “Vambora, amor, porque a gente já vai se atrasar” terminou feio.
Trabalho sobextrema pressão – nós temos que cumprir prazos apertadíssimosna nossa empresa. Se o produto não sai no dia porque algum empregado lerdodemorou demais ou alguma lesma da administração não se lembrou de emitir a nota fiscal na hora, milhares de clientes ficam na mão. E o pior: a responsabilidade desse atraso recai em mim! Imagine eu, sempre tão caxias, levar a culpa pela vagarezados outros!
E minha vida sempre andou num ritmo mais acelerado que a dos outros.
No trânsito, gosto de dirigir a uma velocidade vertiginosa. Claro que não piso fundo quando estou numa rua cheia de gente, mas, de vez em quando, é gostoso sentir aquela injeção de adrenalinaquando a gente sai em disparada avenida abaixo.
Quando vou ao shopping com minha esposa, sempre preciso pedir que ela apresse o passo. Ela nunca faz o que peço. Anda sem pressa, se demora na frente de uma loja ou outra... naquele passo de boia gente não chega a lugar nenhum nunca!
Fico me perguntando se tenho tempo para jogar fora, para ficar vadiandopor aí. Claro que nunca digo isso alto e bom som, porque não quero botar tudo a perder. Prefiro me atrasar um pouquinho passeandocom minha esposa que andar desembestado pelo shopping e divorciado.
No fim, não foi meu hábito de estar sempre esbaforido nem o de avançar o sinal vermelho que foram a gota d’água. Foi eu querer apressá-la, porque não queria me atrasar, e ela ficou assim.
Antes que eu dissesse mais alguma coisa para irritá-la, chispei dali. E não volto tão cedo.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 09 Mar 2022 - 34min - 187 - Episode 161: Ways of Paying Off What One Buys
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And here is the monologue for your benefit:
Sempre trabalho muito para não chegar no fim do mês no vermelho, como quase toda a população brasileira. Para ganhar dinheiro, já limpei chão, trabalhei carregando caixa e agora estou vendendo roupas para conseguir uma renda extra.
Não é um trabalho fácil e a clientela não ajuda nada.
No mês retrasado, consegui uma venda boa num escritório no centro. Teve uma mulher que comprou muita roupa a mim. Devia ter desconfiado quando, logo de cara, ela pediu um desconto, mas como eu estava precisando da venda, acabei dando o desconto. Como pegou muita coisa, ela me perguntou se eu não vendia no cartão. Para falar a verdade, já até tentei vender no cartão, mas como cobrava muito pouco pelas roupas e as taxas do cartão são muito altas, acabei desistindo. E aí, meio que para tirá-la de tempo, eu perguntei: “e eu tenho cara de C&A?” Ela riu e então perguntou se eu não parcelava a compra. Eu respondi que era difícil dividir, especialmente porque ali era clientela nova, então preferia receber à vista. Mas como realmente queria garantir a venda, acabei fazendo fiado. A gente combinou que no mês seguinte ela ia pagar.
E no mês seguinte, lá estava eu no escritório. Não gosto muito de cobrar dívida, mas prefiro me sentir mal por estar cobrando do que por levar um calote.
Quando o pessoal do escritório finalmente respondeu, tive uma surpresa muito desagradável. Aquela mulher tinha sido demitida e eles não podiam me dar o endereço. Mas como eu gosto de fuçar na internet, acabei encontrando o contato dela e mandei uma mensagem para perguntar se ela não ia saldar a dívida que tinha comigo.
Ela me pediu mil desculpas. Não tinha tido tempo de me avisar porque, depois que foi demitida, entrou no cheque especial se encalacrou. Quando eu disse que ela podia devolver as peças que tinha comprado, ela me disse que eu não esquentasse a cabeça, porque ela ia pagar. Era só ele encontrar um caixa eletrônico e sacar o dinheiro da rescisão que ela ia me pagar. Será que eu não podia dar a ela um prazo de um mês?
Bom, eu dei. E o que aconteceu foi que quando eu liguei para ela, ela me veio com toda aquela história de novo e me perguntou se eu não aceitava vale-refeição.
E eu tenho cara de restaurante? Depois dessa, algo me diz que não vou ver a cor desse dinheiro.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 02 Mar 2022 - 48min - 186 - Episode 160: Talking about Make-up
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Meus amigos dizem que sempre me adianto, coloco o carro na frente dos boise acabo me dando mal no final. Mas não é verdade. Tanto não é que, depois que encontrei minha vocação, não mudei mais de ideia – agora sou profissional da maquiagem.
Sim, é isso mesmo. Você não imagina o tanto de gente que precisa dos meus serviços. Ontem mesmo vi na TV uma noiva que estava em apuros – não sabia nem por onde começar. Se eu a conhecesse, claro que dava um tratono rosto dela e ela ia ficar parecendo uma princesa.
Eu ia começar limpando o rosto para preparar o terreno. Não dá para operar milagres numa cara toda esbagaçada. Em seguida, eu ia colocar uma base, para igualar o tom da pele, e ia passar um corretivopara esconder aquelas imperfeições. Daí, era só partir para o pó compacto, para afilar o rosto.
Não sei se ela ia precisar de cílios postiços, visto que já tinha os cílios volumosos, mas no final eu ia provavelmente optar por uma sombra discreta e um rímel para definir mais. Não ia aplicar delineador – ela estava indo para um casamento, não para uma balada, então não era nem um pouco adequado sair por aí parecendo um pavão, toda enfeitada.
Para dar o toque final, era só usar um blush e um batom, dar uma borrifada de fixador e voilà! Estava pronta para se casar até que a morte os separasse.
Tá vendo? Sou mesmo profissional! Agora só falta eu me matricular num curso profissionalizante e arranjar uma clientela.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 23 Feb 2022 - 38min - 185 - Episode 159: A Visit to the Dentist's
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Não sei se você concorda, mas não existe sensação pior do que a de se estar na sala de espera do consultório de um dentista. E é aqui onde estou.
Até os meus vinte e poucos anos, sempre fui muito cuidadoso com minha saúde bucal. Todo dia, depois de toda refeição, seguia o mesmo ritual – passava o fio dental (para tirar aquela sujeirinha chata), escovava os dentes e bochechava enxaguante bucal por uns trinta segundos. E o sorriso ficava muito bom, com uma sensação refrescante.
Mas aí comecei a fumar. Tive um filho. Arranjei um emprego estressante. Tanta coisa e eu fui me descuidando... até que criei bafo. Foi o primeiro sinal. Não era só o cheiro do cigarro – era um mau hálito geral.
E como minha alimentação passou a conter muito açúcar, criou placa bacteriananos dentes e logo evoluiu para uma cárie. Bem nesses dentes aqui detrás. Sentia aquela dorzinha fina principalmente quando tomava água gelada, mas fui empurrando com a barriga. Até que...
Até que a situação ficou crítica e precisei ir ao dentista.
E aqui estou.
A dentista que me atendeu foi me dando o diagnóstico. Primeiro, minha gengiva estava inflamada – eu ia ter que ser mais cuidadoso na escovação. Segundo: a cárie do meu dente estava muito avançada – ia precisar extrair o dente o quanto antes. Fiquei triste. Eu ia andar por aí banguela. Perguntei se tinha como evitar isso e manter o dente, mas a dentista foi categórica – não tinha obturação que salvasse aquele dente “podre” e o tratamento de canal estava fora de cogitação.
Como ela percebeu que eu estava para chorar, a dentista me disse que podia fazer um implante e colocar uma coroa dentária. Era possível pelo menos amenizar os efeitos na minha aparência. Só ia custar um pouquinho mais. Um pouquinho quanto? Quando ela me respondeu, aí foi que senti mais vontade de chorar.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 16 Feb 2022 - 42min - 184 - Esse ou Este: Our Language As It Is
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--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageMon, 14 Feb 2022 - 09min - 183 - Episode 158: An Unusual Fight
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O Renato é um pouco maria-vai-com-as-outras– ele se deixa levar por opiniões alheias sobre tudo. E recentemente quem fez a cabeça dele foi outro amigo meu, o Ítalo, que tinha começado a lutar boxe havia cinco anos e já tinha ganhado troféuse medalhas de todo tipo de torneio e campeonato. O papo do Ítalo foi que o Renato não aparentava estar muito bem, que a vida dele estava estagnada. O boxe podia ser o empurrãozinhoque faltava para ele poder mudar de vida.
E o Renato foi na doÍtalo. E para ter ainda mais motivação, resolveu fazer uma aposta– em três meses de preparação, ele ia ficar tão bom no boxe que ia dar uma surra no Ítalo. O prêmio seria uma rodada de cerveja. Era uma meta admirável, mas tenho que dizer que o Renato não era e nunca foi a pessoa mais confiável para terminar algo – sempre fazia as coisas pela metade. Então você talvez consiga imaginar minha surpresa quando, ao cabo de três meses, lá estavam Renato e Ítalo preparados para lutar no ringue.
O Renato tinha perdido peso e parecia mais em forma. Já estava até mesmo se gabando de que já podia mudar de carreira. O Ítalo parecia calmo, mas o Renato estava agitado, chamando o Ítalo para a briga, dizendo que aquela a vitória estava no papo. Quando o round começou, o Renato mal teve tempo de gritar “cai dentro!” e o Ítalo já foi logo esmurrandoo infeliz. Foi soco para cá, murro para lá... o coitado do Renato foi a nocaute em menos de dois minutos.
Depois da luta, o Ítalo ainda me perguntou se eu não queria apostar com ele. “Ou vai arregar?” ele disse para me provocar. “Não vem que não tem.” Respondi. “Eu mal tenho tempo para comer, imagine para treinar boxe.”
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 09 Feb 2022 - 43min - 182 - Well Done? - Nossa Língua como Ela É
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--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageMon, 07 Feb 2022 - 10min - 181 - Episode 157: Talking About Symptoms and Diseases
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Dois dos meus amigos – Jeferson e Tiago – vivem falando que têm isso e aquilo. São quase uma enciclopédia de medicina: mencione uma doença e eles vão logo dizer que têm, e depois vão travar uma luta para decidir quem está pior.
O Tiago me contou da última que andava se sentindo meio enjoado. Não podia comer nada que dava logo dor de estômago e uma aziaque não dava trégua. E se bebesse refrigerante, ficava inchado e só passava se tomasse algum remédio para gases.
O Jeferson, por sua vez, era quem tinha tudo o que era pior e em dobro. Reclamava que mesmo com bons óculos, ainda cansava demais a vista na frente do computador. E dizia que o ar-condicionado do escritório estava o matando – ora ficava de nariz entupido, ora o nariz ficava escorrendo. E para completar ainda tossia feito cachorro.
Eu nunca fui enfermiço, mas conversando com esses dois resolvi entrar na brincadeira – é minha única defesa. Assim, quando tenho o azar de me encontrar com eles na rua, começo a desfiar minhas ladainhas. Digo que minhas pernas estão dormentes, que tenho má circulação, que minha pressão está alta e minha glicose, também. Começo a tossir e finjo que minha garganta está inflamada. Também mexo pouco a cabeça para dar a entender que estou com torcicolo.
E o mais legal disso é que sempre que eles me encontram, me chamam de coitadinho. Antes ser chamado de coitadinho a ter que ficar com dor de ouvido de tanto escutar aquela choradeiratoda.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageThu, 03 Feb 2022 - 41min - 180 - Episode 156: Male Friends, Female Friends — Differences
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Quando completei cinquenta e cinco anos, reparei que havia um ligeirodesajuste na minha vida. Até então, minha vida conjugal ia muito bem, obrigado. Eu cumpria com meus deveres maritais como ninguém – provia a casa de tudo, trabalhava na mesma empresa e trazia dinheiro todo mês havia vinte e dois anos e era amável e respeitoso para com minha esposa. Mas só num fim de semana foi que percebi que Úrsula, minha esposa, podia sair e visitar uma amiga e passar dois dias fora, e eu não. Não porque Úrsula não permitisse – longe de mim dizer isso. Ela mesma me incentivava a sair mais. Mas é porque eu não tinha amigos.
Sabe, manter amizades é estafante. Ainda mais com homens.
Amizades entre homens são mais superficiais. A gente nunca desabafa uns com os outros. Se a estamos com problemas, ficamos emburrados e não falamos com ninguém. Quando revemos um amigo de quem sentimos muita falta, não dizemos “sinto sua falta, meu amigo”. A gente xinga a mãe do outro. “E aí, seu filho da mãe? Tá gordo!” Fazemos pilhéria uns com os outros, discutimos política e futebol, tomamos uma breja e pronto.
Já a amizade feminina destoada masculina. Elas ligam para as amigas para desabafar... e quanto mais desabafam, mais o vínculo entre elas se consolida. Elas reciprocam os carinhos que recebem e demonstram o que sentem. Nunca são fingidas– falam o que lhes passa pela cabeça – e não ficam se medindoumas com as outras, numa disputa infantil que não leva a lugar nenhum.
Eu tive alguns amigos homens, mas eles já se foram – ou se mudaram ou desencarnaram. Mas nunca consegui ter amigas mulheres. Eu sei que amizade entre mulheres é muito forte, mas entre um homem e uma mulher sempre vai haver segundas intenções. Já sou muito bem casado... e muito bem-apessoado.
Música recomendada: https://social.portuguesewitheli.com/carinhoso
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageWed, 26 Jan 2022 - 43min - 179 - Você & Tu: Our Language As It IsTue, 25 Jan 2022 - 11min
- 178 - Episode 155: Bath Time
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Desde quando comecei a trabalhar em casa, passei a repensar meus hábitos de higiene – e os da minha cadelinhatambém.
Para eu tomar banho é muito fácil: vou para o banheiro, entro no box, pego meu xampue meu sabonete preferidos, esfrego daqui, escovodali e pronto – estou novinho em folha. Como sempre raspominha cabeça, não tem nada para pentear. No máximo, aparo a barba e uso um protetor solar. Assim minha rotina de cuidados está completa e eu saio feliz da silva.
Já minha cadelinha... nunca vi cachorra mais avessa ao banho. Ela odeia ficar limpa; e o pior é que menos de duas semanas depois de um banho ela já cria aquela inhaca desgraçada. Assim que avista água, ela já corre para debaixo da cama. Mas isso não dá pé. É que ela é grande demais e fica metade do corpo para fora. Então tenho que puxá-la de lá, depois segurá-la até que ela sosseguee depois vou para o banheiro. Mas Deus me livre ligar o chuveiro– quando a água bate no chão, ela entra em pânico. Tenho que encher uma bacia na torneira, colocar a bacia no chão e depois, a cachorra na bacia, bem devagarinho, porque senão ela dá a louca e sai molhando tudo e ganindo.
Aí é hora de ensaboar – e ela tem que ficar cinco minutos ensaboada. Aí já tenho de bancar a babá, porque, se se lamber, ela acaba ficando mal da barriga. Em seguida, é só enxaguar, secarprimeiro na toalha e depois no secador e pronto – é uma cadela diferente.
E então começa o suplício – fico dois dias sem passear com ela, porque, na rua, ela se joga na primeira porçãode terra que vê e se emporcalha todinha, para ver se resgata a morrinha de antes. Vê se pode um negócio desses.
--- Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/portuguesewitheli/messageFri, 21 Jan 2022 - 50min
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